EM LISBOA, WAGNER MOURA FALA DE CENSURA NO BRASIL
Wagner Moura, que dirigiu o filme, e Seu Jorge, que dá vida a Carlos Marighella
Por GIULIANA MIRANDALISBOA/ FOLHAPRESS | Edição do dia 19/11/2019 - Matéria atualizada em 19/11/2019 às 04h00
Ainda sem data de lançamento no Brasil, o filme "Marighella" foi exibido no domingo (17) numa sessão esgotada em Lisboa. Em debate após a exibição, Wagner Moura, diretor da produção, disse ser vítima de censura. "A censura no Brasil hoje é um fato. Interditaram a cultura", afirmou. "Nós sabíamos que seria dificílimo fazer este filme. Estou muito preparado com isso [ameaças], não tenho problema nenhum em debater. O que eu não estava preparado era para o filme não estrear no Brasil, quando nós já tínhamos uma data de estreia, tudo combinado." Previsto para estrear em 20 de novembro - Dia da Consciência Negra e mês em que a morte do guerrilheiro completa 50 anos -, o filme teve o lançamento cancelado em setembro. Em nota, a O2 Filmes afirmou que os produtores "não conseguiram cumprir a tempo os trâmites exigidos pela Ancine (Agência Nacional do Cinema)". "Vou continuar lutando para que a estreia aconteça. Espero lançar no ano que vem", disse Moura. Aplaudido em diversos momentos, ele criticou o presidente Jair Bolsonaro e as políticas culturais do governo. "'Marighella' não é um caso isolado. Bolsonaro declarou guerra à cultura", disse. Segundo o ator e diretor, Bolsonaro age com "vingancinha" contra a classe artística que o critica. Esgotada com quase uma semana de antecedência, a exibição de "Marighella" faz parte do Lefest (Lisbon & Sintra Film Festival). Com o sucesso de público, o filme ganhou uma sessão extra, no dia 24. A exibição deste domingo teve na plateia o ex-presidente do Equador Rafael Correa, a quem Wagner Moura dedicou a apresentação. Baseada na biografia "Marighella - O Guerrilheiro que Incendiou o Mundo", de Mário Magalhães, a obra é estrelada por Seu Jorge, na pele de Carlos Marighella. Adriana Esteves e Bruno Gagliasso também estão no elenco. Os brasileiros formam a maior comunidade de estrangeiros em Portugal e, nos últimos meses, produções nacionais com caráter de crítica social têm feito sucesso nas bilheterias. Em um festival em setembro, "Bacurau", de Kleber Mendonça Filho, conseguiu lotar um dos maiores cinemas de Lisboa e ganhou duas sessões extras.Em outubro, o festival Doclisboa, o principal da área de documentários em Portugal, teve uma programação especial dedicada aos filmes brasileiros, com muitos debates sobre as produções e o estado da democracia no Brasil. Segundo os organizadores, a manobra foi um ato de solidariedade contra os cortes na Ancine anunciados pelo governo Bolsonaro.