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Nº 5790
Caderno B

150 ANOS DE MUITA HISTÓRIA

Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas acaba de completar um século e meio; fundado em 1869, local tem acervo mais expressivo do Estado

Por LARISSA BASTOS/ EDITORA DE CULTURA | Edição do dia 04/12/2019 - Matéria atualizada em 04/12/2019 às 06h00

É num casarão rosa localizado na famosa Rua do Sol, em Maceió, que repousa boa parte da história alagoana. O edifício, que chama a atenção de quem passa pela região central da capital alagoana, é morada de nada menos que o Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas (IHGAL), que esta semana completou seus 150 anos de existência levando adiante conhecimento e preservação. A fundação aconteceu no dia 2 de dezembro de 1869, sob a presidência de Silvério Fernandes de Araújo Jorge. Nomes como Delfino Augusto Cavalcanti de Albuquerque, Manoel Lourenço da Silveira, Euthíquio Carlos de Carvalho Gama, Possidonio de Carvalho, João Francisco Dias Cabral, Tibúrcio Valeriano de Araújo e Manoel de Vasconcellos Júnior, entre outros cidadãos ilustres da época, participaram do momento. A iniciativa fora do então presidente da Província do Estado de Alagoas, José Bento da Cunha Figueiredo Júnior, que reuniu no Palácio da Presidência os considerados sócio-fundadores. “Pelo mesmo Exmo. Sr. José Bento foi lido um bem elaborado discurso no qual, demonstrada convenientemente a utílidade se não urgente reclamo de uma sociedade que fitasse o restabelecimento e construção da história da província, pesquisando o passado e archivando no presente”, diz a ata da ocasião. Agora 150 anos depois, a instituição – a terceira mais antiga do Brasil, atrás apenas do Instituto Histórico Brasileiro, de 1838, e do Instituto Arqueológico e Geográfico Pernambucano, de 1862 – continua levando adiante este papel. Por lá, é possível encontrar biblioteca, hemeroteca, mapoteca, pinacoteca, arquivo de documentos e o museu histórico, etnográfico e arqueológico, dando guarida a um extenso acervo. Para quem ainda achou pouco, saiba que esse é o acervo iconográfico e documental mais expressivo a respeito da história de Alagoas. Só na biblioteca, por exemplo, são mais de 16 mil volumes. No prédio, também estão guardados cerca de quatro mil documentos que se debruçam sobre o Estado, como a Carta Régia e exemplares publicados no final do século XIX. Mas uma das principais coleções é mesmo a Perseverança, com peças que resistiram à perseguição e aos ataques do fato que mais tarde ficaria conhecido como o “Dia do Quebra”, ocorrido em fevereiro de 1912, quando as Casas de Xangô da capital alagoana foram alvo de vandalismo e ficaram totalmente destruídas. Um dos maiores episódios de intolerância religiosa do País, o quebra-quebra foi motivado por preconceito e pela ligação de importantes políticos locais, inclusive governadores, com os terreiros. O que sobrou da tragédia foi doado ao IHGAL. São esculturas, imagens, instrumentos, indumentárias e paramentos que conseguiram ser preservados e agora contam uma parte da trajetória das manifestações de matriz negra por aqui. Considerada uma das mais importantes e raras coleções etnográficas do País, a Perseverança é hoje Patrimônio Histórico, Artístico e Natural do Estado, tombada pelo Decreto Nº 25.864. Antes de chegarem ao Instituto Histórico, porém, as peças pertenceram ainda à extinta Sociedade Perseverança e Auxílio dos Empregados no Comércio, conhecida como agremiação dos caixeiros – como antigamente eram chamados os comerciários. Por isso o nome da coleção, que, por sua importância histórica, chegou a ser cobiçada até por uma organização americana, que ofereceu um cheque em branco por ela. Isso porque, de procedência africana, os objetos estão, em sua maioria, em perfeito estado de conservação. Um dos considerados de maior valor é o capacete Ogum-China. Coberto com búzios africanos e contas brancas, ele chegou a ser avaliado, em 1912, em 500 mil réis. Fazem parte do acervo ainda cajados, espadas, ganzás, agogôs, pandeiros, vasilhas de barro e esculturas de Oxalá, Ogum-Taió, Xangô-Dadá e Oxum-Ekum. Além da Perseverança, integram o IHGAL outras coleções, como a do Ciclo do Cangaço, com pertences de Lampião e Maria Bonita, relíquias das sociedades abolicionistas e itens dos antigos engenhos de açúcar e do Quilombo dos Palmares. Quem for por lá vai poder ver ainda um valioso material da Guerra do Paraguai, artefatos indígenas e peças dos marechais Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto. “Comparecemos a todos os colóquios nacionais onde os institutos históricos e geográficos se reúnem anualmente para trocar informações sobre o patrimônio de cada Estado. Nós, deste tipo de instituto, preservamos o patrimônio histórico de cada estado”, disse, em entrevista recente ao site Gazetaweb, o presidente do museu, Jayme Lustosa de Altavila, no cargo há 26 anos. Atualmente, a entidade conta com 60 sócios, que contribuem mensalmente com R$ 180 para a administração do local, aberto ao público de segunda a sexta-feira, das 8h às 12h. A visitação custa R$ 4 e a pesquisa na hemeroteca e na biblioteca sai por R$ 3, com um retorno gratuito. Já a visita para grupos de alunos de escolas pública é gratuita, mas deve ser agendada previamente. E, nos seus 150 anos, a entidade passou por uma restauração por meio de recursos próprios e com o apoio do Estado e do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). A segunda fase de restauração foi entregue no último mês de maio e teve investimentos de cerca de R$ 800 mil. A obra contemplou melhorias na acessibilidade e adequação dos espaços físicos dos edifícios para ampliação. “A obra é de grande importância para a preservação do patrimônio do Estado e me sinto muito feliz de fazer parte desse momento. Muita gente não sabe tudo que o instituto oferece e quem sabe essa nova fase traga mais o alagoano pra cá. Estou há 26 anos a frente do IHGAL e dedico boa parte da minha vida a ele. A gestão passa, ele permanece”, acrescenta Jayme de Altavilla.

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