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Nº 5868
Caderno B

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MÚSICA DE ADONIRAN É TRILHA SONORA NATURAL PARA SP

Por THALES DE MENEZES/ FOLHAPRESS | Edição do dia 24/01/2020 - Matéria atualizada em 24/01/2020 às 09h40

Documentário ‘Meu nome é João Rubinato’ é nostálgico para além do artista
Documentário ‘Meu nome é João Rubinato’ é nostálgico para além do artista - Foto: Divulgação
 

Adoniran Barbosa tem tanta identificação com a cidade de São Paulo que sua música é uma espécie de trilha sonora natural para imagens da metrópole. Por isso, “Adoniran - Meu Nome É João Rubinato”, documentário de Pedro Serrano, é uma viagem pelas ruas da cidade. Uma trip nostálgica além do artista. Adoniran é um personagem. Uma das personas de João Rubinato, que nasceu na cidade de Valinhos, em 1910, mas desde a primeira metade do século passado tentava o sucesso em São Paulo. Seu desejo era chegar a um estrelato como o de Francisco Alves, o maior cantor do Brasil na época. Adoniran simulava o vozeirão, corria atrás de oportunidades no rádio, mas depois ficou claro que dentro de Rubinato havia uma figura única na música brasileira. O filme tem farto material e expõe as mudanças de Adoniran. Já com o pseudônimo incomum, passou a criar sambas que davam vazão a seu jeito muito peculiar de falar. Uma espécie de dialeto que tinha algo do imigrante italiano com alguma coisa do tipo interiorano. Essa expressão única gerou sucessos como “Saudosa Maloca”, ainda nos anos 1950, e seu maior hino, ‘Trem das Onze”, que, embora criada na mesma década, só iria estourar nas paradas em 1964, quando Adoniran se associou ao grupo Demônios da Garoa para uma gravação antológica. A canção nunca o abandonou, até sua morte, em 1982. Um dos lados mais agradáveis do documentário é recapitular a carreira no cinema. Adoniram estreou em 1946, no filme “Caídos do Céu”, com Dercy Gonçalves e Walter Dávila, sem grandes pretensões. Mas depois, em 1953, estaria no elenco de um dos clássicos do cinema brasileiro, “O Cangaceiro”, dirigido por Lima Barreto, com diálogos escritos por Rachel de Queiroz. É interessante que o lado do Adoniran ator, pouco celebrado, seja resgatado justamente num documentário de cinema. Nos anos seguintes, ele seguiu carreira nos filmes, mas a partir de um certo momento o Adoniram cantor foi se tornando tão popular que ele começou a ser chamado para interpretar a ele mesmo, sem estar a serviço de um personagem. Sua última aparição nas telas foi em 1977, em “Elas São do Baralho”. A riqueza de imagens sobre Adoniran no rádio, no cinema e na TV surpreende. O trabalho de pesquisa para o documentário merece todos os elogios, mas há algumas opções de formato que podem ser questionadas. Muitas vezes, é difícil entender por completo o que Adoniran fala. Talvez o recurso de legendas pudesse ser utilizado, sem comprometer a narrativa. Há também um excesso de imagens de moradores de rua. É compreensível a associação dos menos privilegiados com boa parte da lírica do compositor, mas o recurso chega a cansar. Por fim, há um texto magistral do crítico literário Antonio Candido, que expressa a força de Adoniran na construção de uma arte genuína, incomparável. Mas trata-se de um texto feito para o papel. Narrado durante a projeção de imagens na tela, é um tanto difícil de acompanhar, não é fluente como deve ser um texto em audiovisual. Mas “Adoniran - Meu Nome É João Rubinato” vale a pena. Mais ainda porque a projeção no cinema é precedida de “Dá Licença de Contar”, um curta de ficção baseado nas histórias nos sambas de Adoniran. Com direção talentosa do mesmo Pedro Serrano, traz o cantor Paulo Miklos numa composição impecável como Adoniran.

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