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PREVISÍVEL, MAS COM BOA HISTÓRIA DE POSSESSÃO
Por THALES DE MENEZES/ FOLHAPRESS | Edição do dia 28/01/2020 - Matéria atualizada em 28/01/2020 às 06h00
As críticas americanas para o terror "A Possessão de Mary" não foram das mais generosas. Mas é difícil resistir a ver um filme com dois atores ingleses tão bons, Gary Oldman e Emily Mortimer. Nada com essa dupla pode ser desprezível, e o filme realmente não é. Problemas existem, mas é um boa história de possessão. O diretor americano Michael Goi fez apenas um outro filme para o cinema, "Megan Is Missing", de 2011, uma história assustadora sobre duas adolescentes perseguidas por um molestador que chega a elas pelos chats da internet. É um caso típico de um roteiro melhor do que o filme, que tem problemas de ritmo. Nesses oito anos de intervalo até o segundo longa de cinema, Goi dirigiu uma penca de episódios de séries de TV, alguns de grandes sucessos como "Riverdale", "American Horror Story" e "Pretty Little Liars". Parece ter conseguido evoluir muito, e "A Possessão de Mary" cria um bom clima de suspensa e tem um elenco bem conduzido. Essa observação vale para os atores coadjuvantes, já que Oldman e Mortimer não precisam de ajuda de um diretor, basta deixá-los com o texto e não atrapalhar. Oldman é David, capitão de navios que levam turistas para passear no mar. Mas trabalhar como empregado para os outros não rende dinheiro suficiente para dar uma vida melhor para a mulher, Sarah (Mortimer), e suas duas filhas, uma adolescente e outra ainda trocando os dentes de leite (esse detalhe terá importância na trama). David arrisca o dinheiro que tem (e o que não tem) na compra de um barco antigo e bem estragado, que tem o nome Mary, o mesmo de sua filha mais nova. Sarah inicialmente repreende o marido, achando que será dinheiro desperdiçado, mas depois cede à ideia e ajuda na restauração do barco. Com a reforma terminada, a embarcação fica bonita e chama a atenção a figura na proa, uma mulher de cabelos longos e seios à mostra. Uma sereia? Uma representação da tal Mary? Enfim, os closes do rosto esculpido da figura serão abundantes, e aí o filme insiste demais nessa repetição para indicar aquilo que qualquer fã de filme de terror sabe desde o início: o barco está possuído pelo espírito vingativo de uma mulher. Aí reside o verdadeiro problema de "A Possessão de Mary": é previsível além da conta. Em qualquer ponto da exibição é possível antecipar os próximos rumos da trama. David, Sarah e as meninas saem para o passeio inaugural, ao lado de um marinheiro experiente, amigo da família, e de um jovem aprendiz, que é namorado de Lindsey, a filha mais velha. E aos poucos o espírito de Mary começa a atacar a tripulação. Talvez o filme fosse mais interessante sem a opção do diretor em contar o que aconteceu no barco em flashbacks, a partir do depoimento de Sarah na polícia, depois de ser resgatada no mar. Saber que ela sobreviveu à tragédia enfraquece um pouco o enredo. Mas o roteiro introduz um detalhe interessante: algum tempo antes, Sarah traiu David, que a perdoou. Isso não impede que exista uma tensão entre eles, que Oldman e Mortimer levam a um ótimo nível no meio dos aterradores fenômenos que presenciam no barco. Um adepto fervoroso de filmes de terror pode relevar a previsibilidade do filme. Nesse gênero, criar uma atmosfera assustadora e resolver a história com um fechamento surpreendente valem muito, e "A Possessão de Mary" acerta nesses dois quesitos. E tem uma dupla de atores da pesada.