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Nº 5897
Caderno B

ÍSIS FLORESCER TRADUZ EM VERSOS VIVÊNCIA DE MULHER TRANS EM AL

“Desejo não virar estatística de morte e violência”, diz artista alagoana

Por LUAN OLIVEIRA*/ESTAGIÁRIO | Edição do dia 07/03/2020 - Matéria atualizada em 07/03/2020 às 06h00

Ísis Florescer escreveu poema para o Caderno B, confira a seguir
Ísis Florescer escreveu poema para o Caderno B, confira a seguir - Foto: Cortesia
 

Atriz por formação e poeta por vocação, Ísis Florescer é mulher transexual e escreve, em suas linhas, a história de sua resistência no mundo. “Minha escrita carrega as marcas e tonalidade que uma travesti sente na pele por ser quem é, escrevo para dar voz a essas angústias e inquietações”, conta. Ísis publica suas poesias no seu Instagram, Versos Transbordantes, nome que traduz uma mescla da emoção de suas palavras com a sua identidade de gênero. “Escrevo desde os tempos de minha adolescência, mas somente passei a publicar nas redes sociais de 2018 para cá, quando me assumi mulher trans”, explica. Seus modelos de artistas trans formam um batalhão: de Laerte Coutinho, chargista, até a MC Linn da Quebrada. “Levou 35 anos até que eu estivesse preparada para ser quem sou, e também vivenciar um maior debate e possibilidades de existência trans a partir da segunda década do século 21”, relata Ísis. Financeiramente estável e morando sob seu próprio teto, Ísis diz que teve dificuldades no ambiente de trabalho, mas foi bem aceita na família. Ela cita amizades preciosas que lhe ajudaram durante o processo de reconhecimento de sua identidade. “Me assumir mulher trans me libertou de muitas dores e pesos que carregava. Hoje me sinto bem com a mulher que sou desde então”, conta. Ísis, como muitos alagoanos que trabalham com arte, não tem esperança de viver do ofício. “Na atual conjuntura política e com a falta de investimento e capacitação no setor da cultura, é ingênuo da minha parte desejar viver do que crio ou produzo enquanto artista”, desabafa. Seus projetos para o futuro: permanecer viva. “Desejo não virar estatística de morte e violência”. Alagoas é o estado mais perigoso para a comunidade LGBT no país, com estatísticas preocupantes de violência por discriminação. “Minha arte é para sobreviver, para não sucumbir diante dos desafios e dos preconceitos que enfrento por expressar meu gênero feminino e minha identidade trans”, diz. “Foi com as mulheres que eu aprendi a ser gente, a ser cidadã, a ser humana”. A cena artística alagoana, para ela, vem crescendo, mas não sabe até onde se trata de uma legitimação. “Observo alguns movimentos de pessoas trans tensionando, ocupando e criando na cena local. Não sei até onde somos respeitadas e legitimadas como artistas”, expressa. “Não vejo na cena local artistas trans sendo valorizadas e reconhecidas. Mas não é fácil ser artista em Alagoas, nem no Brasil. Há um projeto político em andamento de desmonte e ataque à arte e aos artistas”.

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