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Nº 5868
Caderno B

ESTUDANTE REÚNE HISTÓRIAs De MULHERES NOS FOLGUEDOS DE AL

Trabalho chamou atenção ao explorar realidade da cultura popular sob a perspectiva feminina

Por DIMITRIA PIMENTEL*/ ESTAGIÁRIA COM ASSESSORIA | Edição do dia 25/08/2020 - Matéria atualizada em 25/08/2020 às 05h00

Trabalho aborda o protagonismo e a invisibilização das mulheres nos folguedos
Trabalho aborda o protagonismo e a invisibilização das mulheres nos folguedos - Foto: VIVIANE LIMA / CORTESIA
 

O Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de Viviane Lima, estudante de Jornalismo da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), chamou atenção ao explorar a realidade da cultura popular alagoana sob a perspectiva feminina, baseando-se na vivência de cinco mulheres que lutam para deixar viva a tradição dos folguedos. Essas mulheres são Maura da Baiana e da Banda Pífano; Lurdes do Bumba Meu Boi; Lucimar da Chegança, do Pastoril e da Baiana; Iraci do Guerreiro e Maria José do Coco de Roda. O trabalho reúne relatos emocionantes sobre a vida de cada uma delas e os desafios que enfrentaram. Além de ser aprovado com nota máxima, o trabalho rendeu para a estudante registros encantadores das cinco protagonistas exibindo seus acervos. Viviane buscou, através da fotografia, dar visibilidade para as mulheres que são como guardiãs do maior patrimônio de Alagoas. “Por meio do trabalho jornalístico, tentei ampliar as possibilidades de reconhecimento dessas brincantes guerreiras, que resguardam e atuam na manutenção de tradições culturais que são parte importante da identidade alagoana”, conta a estudante que veio de São Paulo para estudar na Universidade Federal de Alagoas (UFAL) e se apaixonou pela cultura do estado. Viviane teve uma excelente oportunidade de explorar o que antes era só encantamento. A estudante estagiou no Museu Théo Brandão de Antropologia e Folclore (MTB) da Ufal, em 2017, e conta que lá se aproximou ainda mais do universo que envolve a cultura popular local “Passei a conhecer mais de perto as pessoas que compõem os grupos também. Eu sempre tive o hábito de frequentar as apresentações, então já nutria admiração à distância pelos brincantes [nome pelo qual são chamadas as pessoas que integram os grupos folclóricos]”, diz. No entanto, ela percebeu que a atuação feminina no segmento não era tão retratada como deveria e muitas vezes nem era citada. Foi dessa observação que ela sentiu a necessidade de tratar do tema, mas por outro viés, colocando as mulheres em primeiro plano e mostrando a beleza da mulher brincante. “Eu queria entender melhor como se dava a participação das mulheres nas brincadeiras, pois elas estão sempre tão presentes e ativas nos grupos, mas têm ainda menos visibilidade e reconhecimento do que os homens nas manifestações culturais”, explica.


AS CINCO PROTAGONISTAS

Maura Góes dos Santos, 77 anos, coordenadora do grupo de Baianas Mensageiras de Santa Luzia e da banda de pífanos Santo Antônio. Lurdes Lima Arcanjo, 74 anos, única mulher a liderar um grupo de bumba meu boi em Alagoas. Lucimar Alves da Costa, 71 anos, mantém ativo o único grupo de Chegança do Estado, coordena dois grupos de pastoril e um de baiana e é considerada um patrimônio vivo do estado de Alagoas. Iraci Ana Bomfim de Melo, 63 anos, é mestra e coordenadora do grupo de Guerreiro Campeão do Trenado, o mais tradicional dos folguedos alagoanos. Maria José Rodrigues Ferreira, 64 anos, mestra do grupo Zeza do Coco de Roda. Essas são as líderes que protagonizam o TCC. A estudante que tem interesse na temática sobre gênero trouxe o recorte para o trabalho. A intenção era apresentar a história de mulheres que tivessem conquistado postos nos grupos de folguedos que, tradicionalmente, eram ocupados por homens. “Procurei retratar mulheres que são líderes, coordenadoras, donas ou mestras, marcando essa subversão, esse protagonismo e essa mudança que aconteceu em alguns grupos”, conta.

O objetivo, relata a estudante, era “entender e retratar a dinâmica de produção e manutenção dos grupos de folguedos, levando em consideração também outros aspectos da vida delas, como as profissões ou os ofícios exercidos pelas personagens, as múltiplas jornadas de trabalho, as relações familiares, os vínculos afetivos, o machismo e a desigualdade de gênero que há no conservadorismo da sociedade e no tradicionalismo dos folguedos”.

Para além das fotos que compõem visualmente o TCC, durante a realização do trabalho Viviane conseguiu captar e transcrever para seu texto sentimentos leves que percebeu nas brincantes. A resistência, a graça, a paixão e a força que as mulheres carregam e distribuem foram o que mais chamaram sua atenção. “Elas passaram, e às vezes ainda passam, por muitas dificuldades para manter seus grupos. Elas enfrentam ainda mais obstáculos por serem mulheres, para conseguirem atuar na liderança e fazer com que seus grupos sejam prósperos”, revela a estudante. No entanto, elas conseguem levar a vida com alegria e muita energia. Tanto que surpreendeu a graduanda perceber tanta resiliência vinda de pessoas que foram maltratadas pela vida e pelas adversidades. Nas fotos é possível perceber muitos sorrisos e momentos descontraídos, como se as dificuldades não doessem tanto. Viviane ainda destaca que a paixão que elas carregam pela cultura popular é evidente e desse modo elas seguem honrando a trajetória e o legado de outros brincantes que já se foram.

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