SEM LEITURA
Maceioenses são os que menos leem no Nordeste e têm o segundo pior desempenho no país, aponta pesquisa
Por MAYLSON HONORATO | Edição do dia 10/11/2020 - Matéria atualizada em 10/11/2020 às 04h00
Descobrir novos universos, pontos de vista, ampliar o vocabulário, conhecer a própria história… é possível fazer tudo isso lendo. No entanto, ler livros parece não estar entre as prioridades dos maceioenses, pelo menos é o que aponta a 5ª edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, do Instituto pró-livro. Apesar de o Nordeste despontar como a região brasileira que mais lê, Maceió aparece em penúltimo lugar no Brasil e com o pior desempenho na região. Com apenas 37% de leitores, a capital alagoana só ganha de Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul, que aparece em último lugar, com somente 26% da população considerada leitora. João Pessoa, capital da Paraíba, está no topo do ranking, com 64%; seguida de perto por Curitiba, com 63%; e por Manaus, com 62%. Completam o top 10: Belém (61%), São Paulo (60%), Teresina (59%), São Luís (59%), Aracaju (58%), Salvador (57%), e Florianópolis (56%). O Nordeste possui cinco capitais entre as dez com maior percentual de leitores. No geral, 52% dos brasileiros se declaram leitores. O número é inferior à última edição da mesma pesquisa, publicada em 2015, quando a população leitora era de 56%. Para chegar aos resultados, o Ibope Inteligência consultou mais de 8 mil pessoas, em todos os estados brasileiros, entre outubro de 2019 e janeiro de 2020. É considerado leitor aquele que leu ao menos um livro nos três meses que antecedem a consulta. A média nacional é de 4,7 livros por ano. Alguns outros dados divulgados pelo estudo chamam atenção. Entre os que se declaram leitores, 31% afirma ler livros inteiros e 26% diz que lê por gosto ou entretenimento. 66% dos entrevistados, no entanto, confessaram que largam os livros antes do final. Entre os que não leem, 34% afirma que leria se tivesse tempo; 33% revela que não lê porque não gosta; e 26% diz que não lê por não ter paciência. Entre os entrevistados que não foram considerados leitores, 68% diz que prefere assistir televisão, enquanto 56% prefere ouvir música; 55% prefere usar o tempo livre no WhatsApp; e 38% prefere usar redes sociais como Instagram, Twitter em Facebook. Thaís dos Santos está entre os que não leem porque não gosta. Aos 32 anos, ela diz que, tirando livros infantis que lê para os filhos, nunca leu um livro inteiro. “Eu não gosto, nunca fui de gostar. Só vim ler um livro inteiro porque comecei a ler histórias infantis pra a minha filha, quando ela era mais nova, e agora tô lendo de novo pra o meu filho mais novo”, conta a auxiliar de serviços gerais. Mãe de dois filhos, um com 11 e outro com 3, Thaís diz que apesar de não ler e de não gostar, reconhece o papel dos livros na formação. “Se eu lesse mais, com certeza eu teria tido uma vida diferente. Mas eu tento ler para os meus filhos e tento fazer com que ela [a filha], que está maior, goste de ler. O tio dela compra livros pra ela, tenta convencer, mas é difícil tirar a atenção do celular.” De acordo com dados da pesquisa do Instituto Pró-livro, 19% dos leitores brasileiros foram influenciados pelo pela mãe ou pelo pai. 15% recebeu o incentivo de algum professor ou professora.
TAXANDO LIVROS
Na capital onde mais se lê, João Pessoa (PB), 75% dos leitores são de classe B ou C, enquanto a classe A representa somente 8%. A situação se repete no contexto nacional. Em todo o país, 49% dos leitores pertencem à classe C, enquanto somente 4% estão entre os mais ricos. Esse resultado, no entanto, se deve ao fato de a classe A ser minoria no país, afinal, na classe A, 67% se declara leitor. Nesse contexto, a proposta de taxação de livros apresentada pelo governo Jair Bolsonaro deve dificultar ainda mais o acesso dos brasileiros mais pobres aos livros. No Brasil, desde 2004, a lei prevê a desoneração da indústria do livro, uma maneira de incentivar o acesso à leitura. Com a proposta apresentada pelo ministro Paulo Guedes, a ideia é extinguir esse benefício e impor uma alíquota de 12%. Caso isso ocorra, os livros ficarão ainda mais caros, ameaçando o acesso das classes C, D e E, que juntas correspondem a 70% dos leitores do país. Consequentemente, o aumento dos preços afetaria toda a indústria. Pelo menos é nisso que acredita a Associação Brasileira de Editores e Produtores de Conteúdo e Tecnologia Educacional (Abrelivro), a Câmara Brasileira do Livro (CBL) e o Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL). De acordo com a revista Veja, nesta semana de eleições, as instituições enviarão uma carta compromisso aos candidatos às prefeituras das capitais brasileiras, com propostas de estímulo à leitura. Detalhes da pesquisa podem ser consultados no site: www.prolivro.org.br.