‘NOITE E NEBLINA’ É UM FILME PARA 2021
Confira a programação do cinema (30/01/2021)
Por MAYLSON HONORATO | Edição do dia 30/01/2021 - Matéria atualizada em 30/01/2021 às 04h00
Nuit et Brouillard, ou “Noite e Neblina”, é um filme lançado em 1955, dirigido por Alain Resnais. Inicialmente encomendado pelo Comitê Histórico da Segunda Guerra Mundial, o documentário relata o dia-a-dia dos campos de concentração nazistas, assim como discorre ligeiramente sobre a ascensão do nazismo, num aviso atemporal.
Resnais acreditava que somente alguém que tivesse passado pela experiência de um campo de concentração poderia transmitir credibilidade à produção. Por isso, apenas aceitou dirigir o filme após o poeta Jean Cayrol começar a colaborar com o mesmo. Cayrol foi um sobrevivente ao campo de Mauthausen e relatou a infeliz experiência num livro chamado “Nuit et Brouillard”, título que viria a inspirar Resnais. A trilha sonora do documentário foi composta por Hans Eisler, judeu que fugiu da Alemanha antes do total controle nazista. A trilha tem uma importância singular no documentário, causando sensações que muitas vezes destoam do que se está vendo, mas, nesse caso, é um aspecto positivo. O dramático texto de Cayrol dita o clima e o ritmo no documentário, dando conta de traduzir, em parte, o horror daqueles dias e a maneira com a qual o nazismo ascendeu. No verso “campos de concentração são inaugurados como estádios de futebol”, Cayrol explicita o clima festivo e natural com que os campos de concentração nasciam: com o aval da sociedade e dos governos, com a naturalidade da “necessidade” incutida pelos nazistas.
No entanto, o texto e a obra em si, se autolimita e deixa claro que “nenhuma imagem ou palavra poderia dimensionar as condições dos prisioneiros e o medo constante” dos campos de concentração. Dividido em cenas coloridas e em preto e branco, onde as imagens em P&B são reais - arquivos da guerra, e as coloridas um campo de contração dez anos depois, Resnais e Cayrol evocam a memória e faz do documentário uma espécie de alerta, para que, da mesma maneira sorrateira, a história não se repita. Nas imagens coloridas, numa paisagem tranquila, onde a natureza e o tempo apagam os rastros, surge a pergunta: quem vai nos avisar da chegada de novos carrascos? O questionamento é seguido de silêncio, algo constante no filme, que além de expressar a ausência de termos para denominar aquele período sombrio, dá ao filme uma crueza poética e doída. O doc de Resnais é um patrimônio da memória do mundo, uma obra que precisa ser vista e revista, tanto pelo trabalho de direção, executado com maestria, quanto pelo fato de a obra ser um manifesto anti-guerra e anti-violência que parece gritar para que novas noites de neblina não caiam sobre as nossas cabeças. O filme está disponível no Youtube.