“Em 2022 sairemos portando máscaras diferentes, carnavalescas”
Foliões falam da expectativa para o próximo ano e da falta que o carnaval faz
Por MAYLSON HONORATO | Edição do dia 13/02/2021 - Matéria atualizada em 13/02/2021 às 04h00
Não fosse a pandemia, o bloco Filhinhos da Mamãe teria ganhado as ruas pelo 38º ano. A falta do bloco, de acordo com Maria Beatriz Brandão Sá, uma das fundadoras, deixa um grande vazio na capital alagoana, já que o desfile tradicional reúne de autoridades a artistas, colorindo com fantasias o Jaraguá, bairro histórico de Maceió. Juliana dos Anjos é uma das animadas foliãs que acompanha os cortejos dos Filhinhos da Mamãe. Ela diz que, assim como a falta do Jaraguá Folia, não poder sair no bloco amplificou um sentimento de impotência. “A gente sabe que precisamos fazer isso mesmo, ficar em casa, não se aglomerar, controlar essa ansiedade de abraçar os amigos. Mas bate uma dor quando penso no bloco dos artistas, quando penso no Escurinho é Mais Gostoso [outro bloco] e quando penso que não podemos fazer nada, além de se conformar”, relata a contadora. “Todo ano tem aquele mistério, será que o Filhinhos da Mamãe vai sair? Será que vão conseguir botar o bloco na rua? Esse ano a certeza de que não ia sair foi muito pesada”, completa Juliana, relembrando, ainda, a folia dos bloquinhos do Jaraguá. “Os bloquinhos do Jaraguá são uma coisa de outro mundo, a energia, o calor, até mesmo os beijos para quem tá solteiro, tudo faz falta. Vai fazer falta em todos os meses de fevereiro, já que estamos só vivendo de TBT de carnaval”, completa Juliana.
MEMÓRIA DOS FILHINHOS
Para Maria Beatriz Brandão Sá, a Tizinha, mesmo com o vazio carnavalesco de 2021, o momento pede otimismo. Ela, inclusive, recorre à história do bloco Filhinhos da Mamãe para inspirar a juventude nos próximos carnavais. Era a década de 1970, e a juventude da época já se angustiava por não haver Carnaval em Maceió. Os jovens artistas da Cia. Teatral Comédia Alagoense – grupo dissidente da Associação Teatral de Alagoas, fundado por Linda Mascarenhas – pegavam seus figurinos e fantasias e partiam para Salvador, no auge do movimento hippie, apoteose da liberdade, para brincar a festa de momo. O exaustivo ritual repetiu-se por anos, até que, em 1982, calhou do grupo teatral estrear a peça Estrela Radiosa, escrita por Ronaldo de Andrade e dirigida por Homero Cavalcante. Há muito já se “buchichava” a necessidade de transformar a festa que se fazia lá em uma festa aqui, em nossa capital. No espetáculo, havia um momento em que uma grande boneca era festejada com deboche por bobos da corte, seguindo o tom satírico e irônico da peça. Aquela farra no palco estava prestes a tomar as ruas, faltava apenas um empurrãozinho, ou melhor, uma marchinha. “Aquela bonecona do espetáculo nos inspirou naquele momento: jovens, com pouca grana para ir brincar o carnaval em Salvador ou Olinda, decidimos – Everaldo Moreira, Graça Cabral, Isaac Bezerra, Thalmann Bernardes e eu – sair pelas ruas da cidade, fazendo o nosso próprio carnaval. Naquela mesma noite em que tivemos a ideia de fazer a nossa brincadeira, Moreira e eu criamos a debochada letra do Hino – Yes, Mamãe. No dia seguinte, levamos para o diretor da peça, Homero Cavalcante, a ideia do bloco e a letra da música. De pronto, ele aceitou, e com Eduardo Xavier, a quatro mãos no piano, produziram a melodia dessa marchinha, alegre e descontraída”, conta Beatriz Brandão.
À Rua da Praia, no centro de Maceió, era o dia 4 de fevereiro de 1983 e já passava da meia-noite. Ali, brincavam pela primeira vez os “Filhinhos da Mamãe”. Vestidos de bebês, com calçolas e babadores, os filhos de Alagoas colocaram o bloco na rua, levando ousadia, exaltando a liberdade, interpretando as mais diversas personas. Um imenso teatro vivo, que mudaria para sempre a história dos carnavais de rua em Maceió. Para se ter uma ideia, já naquela época não havia carnaval em Maceió. A diferença é que também não havia prévias, como conta Ronaldo de Andrade, um dos fundadores do bloco e que tomou para si a missão de cuidar e organizar da agremiação. “Além de mãe de seus foliões, o bloco acabou por ser mãe de um movimento de renovação do carnaval de Maceió. Nossa concentração inspirou gerações de foliões. Não que sejamos melhores que os outros, apenas fomos os pioneiros. Foi desse movimento que nasceu, por exemplo, o próprio Jaraguá Folia”, conta Tizinha, condecorada no bloco como Comendadora Confete de Cetim. “Depois de um ano de pandemias, o desejo era de cair na brincadeira e na folia dos blocos, principalmente, como filha dileta, primogênita, reverenciando a Mamãe. Mas, fazer o quê? Ficar quietinha, bem comportadinha, e rezar! Pedir a Deus que nos dê ânimo para aguardar, com firmeza, tudo isso passar! E vai passar!”, afirma a foliã, que afirma contar os dias para o próximo ano. “Não gosto de Carnaval fora de época! Em 2022, sairemos portando máscaras diferentes, carnavalescas, e cantando, alegres, em coro com os irmãozinhos: ‘Yes, Mamãe, Mamãe, Yesssss’”.