No coração de Alagoas, nos anos 1930, um carnavalesco apaixonado pela folia fazia história pelas ruas de Maceió. Esse era Rás Gonguila, o maceioense que será homenageado no desfile da Escola de Samba Beija-Flor de Nilópolis em 2024. Nascido, provavelmente, em 1905, ele deixou sua marca na capital alagoana com alegria e criatividade, além do resgate histórico da cultura africana promovido no lendário bloco Cavaleiro dos Montes.

Benedito dos Santos, verdadeiro nome de Gonguila, trabalhava como engraxate nas proximidades do Café Cupertino, entre a Rua do Livramento e a Rua do Comércio, no Centro de Maceió. Nos anos 1930, fundou o bloco Cavaleiro dos Montes, que promovia desfiles históricos pelas ruas da capital, cativando a sociedade da época e acumulando prêmios nos famosos corsos dos carnavais.

Na edição de 12 de novembro de 1933, o Diário de Pernambuco divulgava os atrativos para o carnaval do ano seguinte. Entre eles, menciona Gonguila e seu bloco. Em diversas notícias da época, a agremiação era chamada de “Cavaleiro dos Montes”, “Cavalheiros dos Montes” ou “Cavaleiro dos Montes”.

“O Clube Carnavalesco Cavalheiros dos Montes, iniciou ontem na sua sede social em Ponta Grossa, os ensaios de marchas para abrilhantar os festejos de Momo do próximo ano, sob a direção dos populares foliões Batista, José, Lanchas, Gonguila e Benedito”, diz trecho do jornal.

De acordo com artigo do jornalista Edberto Ticianeli, uma pesquisa do historiador José Maria Tenório Rocha aponta que o nome Rás Gonguila tem sua origem na nobreza etíope e foi criado por Benedito dos Santos, que encontrou na nova nomenclatura uma forma de identificar-se como parte da cúpula social africana. O nome Rás foi inspirado “pelo título nobiliárquico ou dignitário do Rei da Abissínia, na África, que na época estava em muita evidência; então, o folião tomou-o para si, para ser muito reconhecido”, diz trecho do artigo.

O grande diferencial do bloco carnavalesco era a performance e a inteligência de Rás Gonguila, que contava histórias com suas alegorias e apresentações, vestindo uma túnica com botões dourados e tocando seu clarim. Era tão prestigiado na comunidade que constantemente era chamado para recepcionar os poderosos no Clube Fênix Alagoana, a partir de 1936, e procurado por políticos que almejavam seu apoio eleitoral.

O Clarim de Gonguila deixou de soar para sempre no dia 21 de dezembro de 1968. O alagoano sofreu um ataque cardíaco fulminante em plena Rua do Comércio, aos 63 anos. Foi sepultado no Cemitério São José, Trapiche da Barra, sob forte comoção. Ele deixou cinco filhos e uma história de amor ao carnaval e à sua origem. Ao todo, o bloco Cavaleiro dos Montes conquistou 23 títulos máximos nos carnavais de Maceió.

MACEIÓ NA SAPUCAÍ

Homenageando Rás Gonguila, a Beija-Flor de Nilópolis, uma das mais conhecidas e amadas agremiações do samba, levará Maceió para a avenida em 2024. A capital alagoana, pela primeira vez em sua história, será homenageada no desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro.

O anúncio oficial do enredo “Um delírio de carnaval na Maceió de Rás Gonguila”, aconteceu no sábado (13), na quadra da Beija-Flor, na baixada fluminense.

Com um investimento de R$ 8 milhões, desembolsados pela Prefeitura de Maceió e por parceiros, incluindo empresas privadas, deve se converter em mais emprego e renda para a capital alagoana, de acordo com a gestão municipal. A aposta é que a divulgação massiva do destino Maceió atraia turistas e investidores do Brasil e do mundo.