Anselmo Ferreira Melo desnuda Penedo em versos em novo livro
'A terceira margem do rio e outros poemas' será lançado na terça-feira (28), às 19h30, no Brotto Restaurante, no Jaraguá
Por Maylson Honorato | Edição do dia 25/05/2024 - Matéria atualizada em 25/05/2024 às 07h22
“Para que os poemas não apodreçam no poeta, cumpre publicá-los”. Assim, Sidney Wanderley, o maior da poesia alagoana moderna, nos apresenta os versos atrasados de outro expoente da sua geração (a de 1980): Anselmo Ferreira Melo. O penedense lança, nesta terça-feira (28), o livro “A terceira margem do rio e outros poemas”, com poesias escritas durante uma vida inteira, amadurecidas às margens do Velho Chico e que não chegaram nem perto de apodrecerem — ainda bem.
Aos 63 anos, o poeta e professor de literatura e história reaparece. Ele volta à cena literária com uma produção robusta. São 52 poemas, em um volume luxuoso que sai pela Imprensa Oficial Graciliano Ramos, com projeto gráfico de Fernando Rizzotto, ilustrações de Rosivaldo Reis e revisão de Sidney Wanderley.
Porém, o mais surpreendente é o que o poeta escondeu por tantos anos e agora é revelado, sob a proteção da capa dura da edição. Versos que, flertando com Guimarães Rosa, observam a realidade com fantasia, em um convite para desbravar a bela e misteriosa Penedo pela ótica de um homem que se vê, ainda, o mesmo menino assombrado pela imensidão do Rio São Francisco, impressionado com a simplicidade e deslumbrado com a aventura, nem sempre alegre, mas deveras emocionante, que é viver.
Dividido em três partes: “As coisas do rio e do lugar erguido na pedra”; “Dos meus: dos que me fizeram e dos que jamais saíram de mim” e “Do que veio comigo: miopia, outros danos e pedras no caminho”, a obra é um exercício de memorialismo, com versos que são descrições, ora precisas, ora personalíssimas, do que faz uma cidade: gente, prédios, histórias, paisagens, formas de existir, o rio, as lendas. Tudo isso é vital e pulsa na escrita de Anselmo Ferreira Melo.
Mas também é um exercício de lembrar o que faz um homem: a cidade, as pessoas que o atravessam, as histórias que o cativam, as lendas que o impressionam, o rio, os amores que amargam e também os que florescem, as coisas da vida e até o que lhe adoece.
A obra de Anselmo trata com igual importância o homem e a cidade, costurando, verso a verso, essa dança simbiótica. Afinal, como esclarece a apresentação do livro: “Difícil separar o menino, o rio, a cidade e o poeta. Nele tudo está num emaranhado indissociável, um nó daqueles cegos e que nunca será desfeito”.
Dos poemas, destaco um de cada parte. Da primeira, em que a cidade reluz, o poema que titula o livro “A terceira margem do rio” (pg. 35), em que o poeta diz em um trecho: Calhei no leito do rio / a esperar por sol / sina de canoa / meu sonho embarcava adolescendo / em tuas franciscanas manhãs / para fisgar o melhor peixe: / a vida.
Da segunda, em que anônimos pipocam nas páginas, “O vizinho” (pg. 101) recorda as “madeiras sem leis da infância” de Zequinha, que nos lembra, citando Valter Hugo Mãe, que somos mesmo filhos de mil homens.
Na terceira e última parte, a mais confessional do livro, destaco “Menino Míope” (pg. 169). O poema encerra o volume, levando de volta o homem de 63 anos àquela infância sem nada além da mais bela vida pela frente.
Como bem lembrou Sidney Wanderley em sua apresentação da obra de Anselmo Ferreira Melo, “Jorge Cooper só deu a ver em poesia aos 75 anos”. Hoje, o monstro paira sobre a poesia alagoana e é lembrado sempre que esse é o assunto. Que assim seja ao autor regressado. Afinal, valeu a pena esperar.
Sobre o autor
Anselmo Ferreira Melo nasceu em Penedo, no interior de Alagoas. É poeta e professor. Nos anos 1980 recebeu menções honrosas em concursos de poesia como o Concurso Jorge de Lima, da Universidade Federal de Alagoas (Ufal).
Além disso, o escritor se destacou com poesias publicadas em jornais e revistas, além de conceituadas coletâneas Brasil afora.
Serviço
O quê: Lançamento do livro “A terceira margem do rio e outros poemas”, de Anselmo Ferreira Melo
Quando: Terça-feira, 28 de maio, às 19h30
Onde: Brotto Restaurante (R. Sá e Albuquerque, 468, Jaraguá - Maceió)