ESTREIA DA SEMANA
‘Better Man’: entre o brilho e as sombras de um ícone pop
A ascensão, a queda e a luta incansável de um astro contra seus próprios fantasmas; filme que estreia hoje nos cinemas é cinebiografia inusitada de Robbie Williams


Se Robbie Williams fosse um animal, ele seria um leão? Talvez um pavão? Que nada. Ele escolheu ser um chimpanzé. E não por acidente. “Better Man”, a cinebiografia musical dirigida por Michael Gracey, não é só mais um daqueles filmes que tentam encaixar a vida de um astro pop em um molde tradicional. Pelo contrário, ele faz piruetas, desafia convenções e, em alguns momentos, até parece pular de galho em galho, igual o próprio protagonista (ou sua representação em CGI). E aí está seu maior trunfo — e, talvez, seu maior desafio.
Vamos direto ao ponto: Robbie Williams sempre foi um showman. Um sujeito elétrico, insolente e carismático, daqueles que faziam multidões desmaiarem nos anos 2000. Mas quem imaginaria que ele enxergava sua própria carreira como uma jaula dourada? O filme acerta em cheio ao ilustrar esse sentimento com a decisão audaciosa de representar Robbie como um chimpanzé digital. É uma metáfora clara: ele se via como uma atração, um animal de espetáculo, domesticado pelo showbiz e, ao mesmo tempo, incapaz de existir sem ele.

A estrutura narrativa brinca com o realismo mágico e se distancia das cinebiografias convencionais. Aqui, não há aquela progressão previsível de infância pobre, ascensão meteórica, queda brusca e redenção final. O filme opta por se aprofundar no turbilhão interno do artista, colocando-o em confronto constante consigo mesmo. Robbie contra Robbie. A batalha contra o vício, a solidão nos bastidores, o peso esmagador das expectativas: tudo é retratado com uma mistura de fantasia e brutal honestidade.
Visualmente, “Better Man” é um espetáculo. Michael Gracey, que já mostrou seu talento em “O Rei do Show”, repete a dose ao criar números musicais grandiosos, que mesclam performance e introspecção. As cenas que incorporam os hits de Williams não são apenas inseridas para nostalgia; elas servem como janelas emocionais para os momentos-chave da vida do cantor. Quando a música entra, não é só para embalar, mas para revelar algo que palavras não conseguiriam.

E o que dizer do uso do CGI? Bom, é aqui que o filme divide opiniões. Se por um lado a escolha de transformar Robbie em um chimpanzé é instigante e faz sentido dentro da proposta, por outro, há momentos em que a tecnologia se torna mais um artifício do que um recurso genuinamente impactante. Algumas cenas poderiam ser igualmente poderosas sem esse elemento. Mas, verdade seja dita, é um risco que poucos tomariam, e o filme merece crédito pela ousadia.
O elenco é afiado. Jonno Davies dá vida ao movimento e expressão do Robbie-ciborgue-simiesco, enquanto Damon Herriman e Steve Pemberton entregam atuações sólidas nos papéis de figuras centrais da vida do cantor. Mas, no fim das contas, a grande estrela aqui é o próprio Williams. O filme é tanto um retrato de sua jornada quanto um acerto de contas público, quase um pedido de desculpas aos fãs, aos amigos e, acima de tudo, a si mesmo.
E por que “Better Man” não explodiu nas bilheteiras? Algumas teorias: o timing de lançamento pode ter sido infeliz, coincidindo com a temporada de premiações; Robbie Williams, apesar de imenso na Europa, não tem o mesmo peso no mercado americano; e, claro, a estranheza da proposta pode ter afastado parte do público. Mas o fracasso financeiro não apaga o brilho artístico.
No fim, “Better Man” não é só sobre Robbie Williams tentando ser melhor. É sobre entender que, por trás das luzes, dos hits e da imagem pública, há um ser humano tentando sobreviver ao próprio mito. E, sim, às vezes, esse mito se parece muito com um chimpanzé dançarino. Vá assistir sem medo. Talvez você saia do cinema sem saber se gostou ou não da ideia, mas uma coisa é certa: você não verá outra cinebiografia como essa tão cedo.
O longa estreia nos cinemas de Alagoas nesta quinta-feira, 13 de março. Vale assistir!