Operação Falácia
Vereador é afastado do cargo por suspeita de desvios na eleição de 2020
Siderlane Mendonça é apontado como líder do esquema; operação da PF cumpriu mandados em Maceió e Rio Largo


Depois de uma semana marcada por polêmicas no Legislativo, a Câmara de Maceió encerrou a sexta-feira (25) sob o impacto da Operação Falácia, deflagrada pela Polícia Federal. O principal alvo da investigação é o vereador Siderlane Mendonça (PL), ex-líder do governo JHC, que foi afastado do cargo por decisão da Justiça Eleitoral, sob suspeita de comandar um esquema de corrupção, desvio de recursos públicos e fraudes eleitorais.
A operação cumpriu 21 mandados de busca e apreensão em Maceió e Rio Largo, além de 17 medidas cautelares, incluindo o afastamento de Siderlane, bloqueio de bens e restrições judiciais.
Segundo fontes ligadas à investigação, o parlamentar é apontado como líder de uma organização criminosa que teria atuado durante o pleito de 2020. Uma das práticas do grupo seria a conhecida como “rachadinha”, onde o servidor repassa uma parte de seu salário de volta ao político que o contratou. O repasse pode ser feito via transferência ou através do pagamento de despesas.
Há indícios de movimentações superiores a R$ 200 mil, com desvio de recursos públicos e uso de estruturas oficiais para fins eleitorais.
O gabinete do vereador foi o principal alvo das diligências, realizadas ainda na madrugada. A movimentação de agentes federais no prédio da Câmara surpreendeu servidores e provocou tensão.
A investigação, conduzida sob sigilo, tem como base suspeitas de lavagem de dinheiro, corrupção ativa e passiva, e uso irregular de recursos públicos. O delegado Luciano Paturi, responsável pela operação, confirmou que os objetivos da diligência foram alcançados, mas não detalhou as acusações.
Em nota oficial, a Câmara tentou minimizar a gravidade da situação, afirmando que a apuração “não envolve diretamente a rotina legislativa da Casa”. Nos bastidores, no entanto, o clima era de apreensão. Servidores foram barrados na entrada, e o funcionamento do plenário ficou comprometido ao longo do dia.
Siderlane Mendonça quebrou o silêncio mantido pelas autoridades e se manifestou nas redes sociais. Disse estar “surpreso” com a ação da PF e afirmou já ter acionado sua defesa.
“Já encaminhei o caso para meu advogado. Os fatos serão apurados porque até então não sei do que se trata. A população conhece meu trabalho, minha conduta e minha ética”, escreveu.
A reação foi recebida com ceticismo por alguns vereadores, que viam no afastamento a confirmação de um desgaste crescente na imagem pública do parlamentar. Com a saída de Siderlane, quem assume o mandato é Caio Bebeto, suplente do PL e filho do deputado estadual Cabo Bebeto (PL).
BAQUE
O afastamento de um dos nomes mais influentes da base do prefeito JHC representa um baque político para a gestão municipal.
Embora a troca no plenário obedeça à formalidade legal, não dissipa os efeitos de um escândalo que reacende o debate sobre práticas políticas pouco transparentes no Legislativo.
O presidente da Câmara, vereador Chico Filho (MDB), ainda não se pronunciou oficialmente sobre o impacto institucional da operação, mas fontes próximas indicam que há preocupação com o desgaste público.
A Operação Falácia marca mais um capítulo da série de escândalos recentes envolvendo o uso indevido de recursos públicos em Maceió.
A comparação inevitável com o caso Braskem alimenta o temor de que a capital esteja diante de um novo “efeito dominó” político, com investigações que podem alcançar outros parlamentares.
Mesmo sob sigilo, o caso é o principal tema nos bastidores da política alagoana. O que se apura, segundo fontes do Tribunal Regional Eleitoral e da PF, pode envolver outras ramificações, inclusive com desdobramentos criminais e eleitorais mais amplos.