Gêmeas usam internet para estimular a leitura
Irmãs estão juntando dinheiro para comprar livros na Bienal
Por Patrícia Mendonça | Edição do dia 22/10/2019 - Matéria atualizada em 22/10/2019 às 14h27
Ansiosas pela 9ª edição da Bienal Internacional do Livro de Alagoas, as gêmeas Anny Beatriz e Anna Gabriele Alves, de apenas 10 anos, há meses estão juntando dinheiro para comprarem livros no maior evento literário do Estado, que está programado para acontecer entre os dias 1º e 10 de novembro, no bairro do Jaraguá.
Com muito esforço as crianças já arrecadaram exatamente R$ 82,70, que já tem destino certo: a aquisição de novos exemplares dos diversos gêneros literários os quais lhes são de interesse.
Nascidas e envolvidas na era digital, às crianças utilizam suas contas nas redes sociais para incentivar amigos e colegas à leitura. De acordo com a mãe, às meninas são verdadeiros prodígios, aprenderam a ler e escrever aos cinco anos de idade e, desde então, tem ‘devorado’ livros como forma de lazer.
“Já faz meses que elas guardam todo trocado que a gente dá para elas com a intenção de usarem na Bienal. O tio vem, deixa dois reais e elas guardam. O troco que sobra do mercadinho, elas guardam; às vezes são só 10 ou 5 centavos e, mesmo assim, elas pedem para guardar”, disse num tom de orgulho, Gilvaneide Alves, mãe das garotas.
Em entrevista à Gazeta de Alagoas, Gabriele disse que já leu mais de 50 obras e que assim como a irmã também. Elas compartilham os exemplares.
“Eu tenho uma parte do meu guarda-roupas e um baú inteiro cheio de livros, nós já lemos todos eles. Devo ter lido mais de 50. Eu gosto de ficção científica, ação, aventura e histórias em quadrinhos”, disse Gabriele.
A respeito dos compartilhamentos e indicações da Bienal nas redes sociais, Anny Beatriz disse que acha importante informar às amigas sobre o evento literário.
“Como sou interessada pela Bienal e tenho conversado com as minhas amigas sobre o evento, resolvi gravar o vídeo no Instagram. Nele eu disse que gosto muito da Bienal, disse que estarei presente nesta edição e recomendei para às minhas amigas irem também”, disse Beatriz, que tem a desenvoltura de uma verdadeira ‘influencer’ nas redes sociais.
VALE LIVRO
Na primeira Bienal que as gêmeas puderam comparecer, quando ainda tinham cinco anos, elas ganharam o “Vale Livro” — um projeto da prefeitura de Maceió, que repassa a quantia de R$ 15 para os estudantes do município adquirirem a obra literária que lhes for de interesse — o que para elas foi uma verdadeira festa.
“Elas sempre traziam livros da escola para ler em casa. Mas um certo dia foram para a Bienal e ganharam o ”Vale Livro”, muito contentes às meninas trouxeram os livros para casa. Mas, como de costume, levei os livros de volta para escola, então foi quando a professora disse que às obras eram delas e que haviam ganhado por meio do projeto da prefeitura. Isso foi motivo de uma felicidade imensa para elas
No entanto, este ano, às meninas estão matriculadas em um colégio particular, ganharam bolsas de estudo pelo fato de o irmão delas, Bruno Vinícius Alves, de 13 anos, também ser dedicado aos estudos e ao esporte.
O empenho dele o levou para o Campeonato Nacional de Xadrez, em Brasília, com tudo custeado pela escola e, mais, concessão de bolsas de estudo no valor de 50% de desconto para ele e 30% para as irmãs. Às garotas também foram vice-campeãs em ginástica rítmica em 2016, o que também influenciou para conseguirem o desconto.
Porém, o fato de as meninas não estarem frequentando a escola municipal excluiu a possibilidade de adquirirem o, tão adorado por elas, “Vale Livro” concedido pela prefeitura.
BOA AÇÃO
Ciente e admirada pela situação das garotas, a comissão organizadora da Bienal do Livro de Alagoas vai conceder dois “Vales Livros” de exemplares da Editora da Universidade Federal de Alagoas (Edufal), que elas poderão pegar no estande da editora durante o evento. Disto, até o momento da publicação desta matéria, às garotas não sabiam.
A Bienal ficou ciente desta história por meio de uma das publicações de uma das irmãs no Instagram. Publicação a qual ela citava a ansiedade para o início do evento e o seu empenho para juntar dinheiro para adquirir os livros.
À época, a Bienal acreditava que era apenas uma garota envolvida neste empenho literário. A organização do evento demonstrou surpresa e satisfação ao saber que a dedicação é em dose dupla.
FORMA DE RESISTÊNCIA
“Eu sou merendeira, ganho apenas um salário mínimo, mas, para completar a minha renda e a do meu marido, vendo cosméticos para tentar dar conforto e uma educação melhor para os nossos filhos”, revelou Gilvaneide.
Informando à reportagem que costuma levar às garotas para a escola onde trabalha. “Lá tem uma biblioteca e às meninas adoram, passam o tempo lendo. Acho impressionante. Acho que já leram a biblioteca todinha”, brinca a mãe.
“A diretora da escola que elas estudavam chegou a vir conversar comigo para dizer que estava preocupada com a socialização das meninas, pois durante o intervalo elas iam ler. Tivemos que estimular que elas voltassem a brincar com as outras crianças”, disse a mãe, concluindo que uma das garotas, a Gabriela, além de boa leitora é também escritora, e que tem o sonho de publicar seus escritos.