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Nº 5868
Cidades

Mesmo proibido, cresce consumo de cigarro eletrônioco

Produto já pode ser facilmente encontrado em Maceió, por preços que variam de R$ 200 a R$ 400

Por regina carvalho | Edição do dia 14/12/2019 - Matéria atualizada em 14/12/2019 às 06h00

Mesmo a comercialização considerada ilegal, o cigarro eletrônico pode ser encontrado facilmente em pontos espalhados por Alagoas, situação que eleva a procura por esse tipo de vaporizador que – para a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) - pode ser uma armadilha perigosa para a saúde dos usuários. Desde 2009 são proibidas a venda, a importação e a propaganda de dispositivos eletrônicos para fumar no Brasil, mas não há punição para quem faz uso do produto. 

“Essa é a atual posição da Anvisa sobre esses dispositivos, que abrangem o cigarro eletrônico, os vaporizadores e o cigarro de tabaco aquecido, entre outros. A decisão da Agência foi baseada na ausência de dados científicos sobre as alegações desses produtos. Não há níveis seguros para o consumo de qualquer tipo de produto fumígeno derivado do tabaco, tendo em vista que todos produtos, regulares ou irregulares, causam malefícios à saúde”, informa a Anvisa.

No Brasil, já foram confirmados casos de Evali – doença respiratória ligada ao uso do cigarro eletrônico. Os pacientes teriam utilizado o dispositivo com tetrahidrocanabinol (THC), principal substância psicoativa da maconha. 

Sobre o aumento do uso de cigarros eletrônicos, a Anvisa informou por nota que ainda não há dados fechados sobre a prevalência no Brasil, mas alguns estudos têm sido feitos neste sentido para se aferir o cenário real. “A Anvisa solicitou aos hospitais e profissionais de saúde os relatos de problemas relacionados ao uso de cigarros eletrônicos. O pedido foi enviado a 252 instituições que compõem a chamada Rede Sentinela e que notificam com frequência problemas e eventos adversos relacionados à saúde. O mesmo pedido foi feito ao Conselho Federal de Medicina (CFM), no sentido de que os médicos estejam atentos e relatem quaisquer suspeitas”, explica.

A medida que prevê a solicitação de informações sobre as ocorrências relacionadas à utilização do e-cigarro (cigarro eletrônico ou vaporizador) foi tomada pela Anvisa “para antecipar e prevenir uma crise de saúde como a que tem sido noticiada nos Estados Unidos, onde há casos de uma doença respiratória grave, levando a óbitos, associada ao uso desses dispositivos”.


Universitário usa e-cigarro há um ano


Um universitário de 27 anos tenta larga o cigarro eletrônico que começou a fazer uso há cerca de um ano. Chegou a pensar em substituir totalmente o cigarro convencional pela novidade, mas viu que pode estar fazendo uma troca no escuro, já que não sabe exatamente quais as substâncias seu organismo está absorvendo. “Muitos falam que a ideia do cigarro eletrônico é substituir o convencional e que o eletrônico não tem tanta substância como o outro. Mas eu resolvi reduzir mais, porque como não é regulamentado a gente não sabe o que tem no refil, não sabe quais as substâncias que existem, não tem controle. Tem a fumaça, mas o cheiro não é ruim como o do cigarro convencional e a gente acaba fazendo uso dele”, afirma.

Mesmo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proibindo a comercialização desse tipo de produto no Brasil, não é difícil encontrá-lo em Maceió. O nosso entrevistado adquiriu no estabelecimento de um shopping da capital, mas também é possível encontrar em lojas do Centro. “Antes a gente só encontrava na internet, agora tem em vários lugares. Mas é um vício caro de manter, levando em conta o valor de uma carteira de cigarro convencional que fica em torno de R$ 10. Tem valores diversos. Pode-se encontrar por R$ 200, R$ 300 e até R$ 400. Se o intuito é parar de fumar e a pessoa não consegue deixar o cigarro convencional e vai usar cigarro eletrônico, só está trocando um vício pelo outro. Quem quer parar tem que buscar ajuda, um médico, um tratamento”, explica o universitário. 


Anvisa diz que informações são incipientes


A reportagem questiona à Anvisa se o cigarro eletrônico é mais perigoso que o cigarro convencional, que explica que as informações sobre este tipo de produto ainda são incipientes e que em agosto de 2019, foram realizadas audiências públicas, uma em Brasília e outra no Rio de Janeiro, com o objetivo de coletar subsídios para avaliação dos impactos do uso de dispositivos eletrônicos para fumar. 

Em julho de 2017, a Anvisa recebeu um documento da Associação Médica Brasileira (AMB) e das sociedades médicas a ela filiadas apoiando a proibição dos dispositivos eletrônicos. “O texto aborda quão nocivo pode ser o uso do cigarro eletrônico para a saúde do usuário. A AMB destaca, também, o poder do produto para atrair usuários jovens, instigando o hábito de fumar. Em 2016, foi publicada uma pesquisa que concluiu pela falta de evidências científicas sobre a segurança desses dispositivos. O estudo foi realizado pelo Ministério da Saúde, por meio do Instituto Nacional do Câncer (Inca), em parceria com a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) e a Anvisa”, explica nota enviada à Gazeta pela assessoria da Anvisa. 

No Brasil, a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT) defende a permanência da resolução RDC 46/2009, da Anvisa, que proíbe a produção, distribuição e comercialização de todo e qualquer produto classificado como “dispositivo eletrônico para fumar (DEF)”, contendo ou não nicotina e tabaco. “A ciência já demonstrou que não há segurança no consumo desses produtos. Tampouco se conhece sua origem e processo de produção”. Artigo publicado pela SBPT alerta que “os cigarros eletrônicos (ou vaporizadores) com mais aditivos ou essências adicionadas são um perigoso atrativo para as crianças, os adolescentes e os adultos jovens. Nos Estados Unidos, foram registrados mais de 2 mil casos de jovens que desenvolveram quadros respiratórios e mais de 40 mortes relacionadas ao cigarro eletrônico.


Pneumologista alerta sobre perigo do cigarro eletrônico

Foto: Ascom HGE
 


Na avaliação do pneumologista Luiz Cláudio Bastos, que atua no Hospital Geral do Estado (HGE), o cigarro eletrônico realmente é um perigo. “Existem vários produtos no mercado, têm produtos fabricados na China, outros nos Estados Unidos. O que chama atenção é que a dose de nicotina pode ser controlada pelo usuário, mas infelizmente mantém a dependência comportamental. Então é uma coisa nova. Realmente houve aumento do uso do cigarro eletrônico no Brasil e provavelmente aqui em Alagoas. Os vaporizadores têm atraído jovens e pessoas que nunca fumaram, por exemplo, o que é um grande problema. Pessoas que nunca fumaram tiveram acesso à nicotina, que é uma substância que provoca o vício, a dependência”, explica o pneumologista. 

O médico Luiz Cláudio explica que nos Estados Unidos apareceram mais casos de pessoas – que após uso dos cigarros eletrônicos – acabaram precisando de cuidados na Unidade na Terapia Intensiva (UTI). “Algumas essências são colocadas no cigarro como óleo e até maconha e essa inalação provoca uma reação muito agressiva para o pulmão. Não dá para dizer ainda que o cigarro eletrônico é mais perigoso que o convencional, mas de certeza é mais um problema de saúde pública mundial”.

Com o avanço do uso dos cigarros eletrônicos em alguns países, pesquisas seguem em andamento para descobrir o impacto desse hábito na saúde dessas pessoas. “Vamos aguardar o resultado disso, mas de certeza é mais um grande problema que temos que enfrentar. As doenças pulmonares relacionadas ao tabagismo, normalmente ao cigarro comum é a doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), câncer, desnutrição e a dependência química e ao cigarro eletrônico ao menos tem essa que parece ser mais agressiva tipo uma pneumonite, que leva o indivíduo a uma insuficiência respiratória, às vezes necessitando de terapia intensiva, para evitar que o indivíduo venha a morrer”, detalha Luiz Cláudio.


Acréscimo de THC aumenta riscos


Segundo publicação da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), a maioria dos cigarros eletrônicos utiliza propilenoglicol (gelo seco) para a entrega da nicotina, enquanto os cigarros aquecidos utilizam glicerol. “O aerossol destes dispositivos libera partículas finas (de baixo peso molecular) que representam riscos para danos respiratórios e vasculares. Nos casos registrados nos EUA, os usuários inalaram óleo aquecido com THC, princípio ativo da maconha, e desenvolveram um quadro agudo semelhante à pneumonia lipoide. É comprovado que o fumante, seja de cigarro convencional ou eletrônico, está exposto a um agravo de sintomas respiratórios, como asma grave e pneumonias”.

De acordo com informações do Conselho Federal de Medicina, o cigarro eletrônico – ou e-cigarro – foi criado em 2003 na China e é proibido no Brasil pela Agência Nacional de Vigilância em Saúde (Anvisa), desde 2009. Seus dispositivos mais comuns utilizam desde um cartucho que contém nicotina, aromatizantes ou extrato de tabaco a uma mistura líquida com variáveis concentrações de nicotina que é injetada no dispositivo. “Após ligar o dispositivo, o fumante de e-cigarro ao aspirar ao fluxo de ar gerado aciona um sensor provocando o aquecimento do líquido do refil, liberando-se a nicotina e outras substâncias presentes na solução”. 

Em dezembro deste ano, o professor Stanton Glantz – um dos principais ativistas do controle do tabaco no mundo – esteve no Brasil para participar de fórum promovido pelo Conselho Federal de Medicina (CFM). Na palestra defendeu que o Brasil mantenha a proibição da comercialização, importação e propaganda de todos os dispositivos eletrônicos para fumar.  “Não há benefícios para a saúde ao mudar do cigarro tradicional para o cigarro eletrônico e a maioria das pessoas que pararam de fumar através dos cigarros eletrônicos continua a usar os cigarros eletrônicos por mais tempo”, alertou.

O cigarro eletrônico é composto basicamente por aromatizantes, nicotina, glicerol, propileno e – alguns deles – é adicionado o THC, princípio da maconha. São sintomas da Evali, a falta de ar e a tosse, que podem ser confundidas com a gripe.

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