Uma recepção lotada, sem respeito as recomendações de distanciamento social, pacientes em macas e cadeiras de rodas esperando atendimento por horas, falta de remédios e Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) de baixa qualidade. “Um cenário de guerra”, essa foi a descrição que um profissional de saúde, que decidiu não se identificar, fez do Hospital Geral do Estado (HGE) em meio a pandemia do novo coronavírus. Pacientes com Covid-19, com outras complicações e até mesmo acompanhantes saudáveis se apertam em meio ao caos da recepção do hospital, sem distanciamento mínimo, aumentando os riscos de infecção com o vírus. Segundo a denúncia, mais de duas salas do hospital foram “adaptadas” para receber pacientes com o novo coronavírus. "Depósito de paciente com Covid-19", nas palavras do profissional, onde são deixadas muitas vezes sem os medicamentos, que faltam constantemente.
Os com os casos mais graves ficam em um local separado, sem equipamento de respiração ou leito adequado. Esses eram enviados para a ala vermelha assim que davam entrada, mas ultimamente a direção do hospital vem orientado os médicos a não mandarem os pacientes para lá, por falta de leitos. "[O médico] disse que a última paciente ficou na cadeira de rodas", contou o trabalhador. Auxílio imediato dos respiradores, pacientes com Síndrome Respiratória Aguda morrem rapidamente.
O Estado de Alagoas possui um 4º pior índice de respiradores por 100 mil habitantes do país, segundo dados do Portal da Transparência Graciliano Ramos, do próprio governo estadual. Alagoas não adquiriu respiradores desde o início da pandemia, sendo a última compra realizada em 2019, de 74 aparelhos. Desde a lotação da área vermelha, o hospital vem encaminhando pacientes graves para a ala azul, muitas vezes uma sentença de morte. “Perguntei se ia ter ventilador, ponto de oxigênio, suporte para paciente grave. Disseram que não sabiam”, narra o profissional. “O povo muito passivo, sofre calado, morrendo, esperando horas a fio pelo atendimento”. Segundo a denúncia recebida, vários profissionais vêm adoecendo e sendo afastados de sua função, o que gera um ciclo não muito virtuoso de infecção de profissionais já que, quanto menor o número de profissionais atendendo um maior número de pacientes, maior a chance de um deles adoecer. O motivo seria a falta de EPIs adequados para o combate à pandemia. “Os EPIs que eles dão são frágeis. O avental, você já veste rasgando. [...] A direção nem aí para nada, não mostra preocupação e o secretário diz que está tudo lindo”, reclama.
O Centro de Triagem no Ginásio do Sesi, diz, também já está no máximo de sua capacidade, começando a dispensar cada vez pacientes com sintomas mais severos, reduzindo o índice de testagem do estado. Ele conta que relatos de colegas de outros hospitais contam um cenário similar, como no Hospital da Mulher e diversas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs).
Apesar de os números de ocupação de leitos de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) mostrarem uma disponibilidade de 30% de leitos exclusivos, vítimas de Covid-19 já morrem em casa no Estado de Alagoas, sem atendimento médico, conforme indicam os boletins divulgados pela própria Secretaria de Estado da Saúde (Sesau) diariamente. Procurada, a assessoria do HGE se limitou a dizer que o hospital era “portas abertas” e não podia rejeitar pessoas que procuram atendimento. Questionados sobre a ausência de EPIs, a aglomeração nos corredores e as demais denúncias, a unidade afirmou que se manifestaria por nota, o que ainda não ocorreu.