Cinco municípios concentram a maioria dos casos de mortes e contaminação de coronavírus em Alagoas e são analisados como os principais pontos de disseminação. Maceió tem o maior índice de infestação, casos confirmados e mortes, seguido por Arapiraca, Marechal Deodoro, São Miguel dos Campos e Teotônio Vilela. As cidades aparecem no mapa epidemiológico com indicativos de maiores focos. O coronavírus avança e contamina neste momento as populações das áreas periféricas, pobres e de favelas dos 101 municípios de Alagoas, conforme atesta o mapa epidemiológico do Ministério, da Secretaria de Estado da Saúde e da Ufal. Diante da insistência de flexibilização de outros setores da economia, além dos que estão funcionando, um dos principais infectologistas do Estado e professor da Ufal Fernando Maia avisa que é preciso de um pouco mais tempo. “Paciência. Os casos se multiplicam. Não é hora de flexibilizar nada”, afirma. O médico também afirma que a situação em Alagoas está ascendente, avança entre as camadas mais pobres e revela a gravidade da situação no interior.
PERFIL
Entre os contaminados e mortos, predomina a população negra: 59% (a soma de pardos, 57% e pretos, 2%), brancos são 9%, 31% sem definição racial e índios com menos de 1%. Na projeção de impacto social da pandemia, o Ministério do Trabalho revela que o Estado tem o terceiro pior índice de desemprego no Nordeste, atrás da Bahia e Pernambuco respectivamente. Maceió é o maior foco da doença e do crescimento do desemprego nas áreas mais vulneráveis do Estado. Os dados contribuem na elevação para 1,2 milhão o número de alagoanos em pobreza extrema [pessoas com renda de até R$ 8/dia]. Antes da pandemia, eram 570 mil alagoanos, segundo Pnad/IBGE. Na questão epidemiológica, o Estado acompanha a tendência nacional de crescimento de contaminação e mortes. Chegou a registrar uma morte por hora no período de 24 horas (boletim da Sesau do dia 3). No Brasil, o registro é de uma morte por minuto, conforme boletim do Ministério da Saúde, também do dia 3. Ainda no cenário da pandemia nacional, o número de mortes decorrentes de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) é 20 vezes maior que as registradas no ano passado, segundo os cartórios.
DESEMPREGO
Em desemprego, o Estado também acompanha a tendência nacional. O Ministério do Trabalho divulgou que 1,1 milhão de trabalhadores foram demitidos e 8 milhões tiveram contratos suspensos no quadrimestre. A retração nacional de emprego é de 7,63% em relação ao mesmo período do ano passado. A projeção da duplicação da pobreza extrema, que era de 570 mil pessoas entre os 3,3 milhões de alagoanos, é estimada por pesquisadores sociais e entidades como Associação dos Municípios de Alagoas (AMA), Ufal, economistas, cientistas sociais, sindicatos rurais e dez organizações de trabalhadores rurais sem terra. As causas para o agravamento do número de pessoas em situação de vulnerabilidade são ligadas à falta de políticas públicas dos governos federal e estadual, agravamento da pandemia e à queda na arrecadação tributária dos municípios. Levou-se em conta também as famílias em vulnerabilidade atendidas com 200 mil cestas básicas doadas no mês passado pelo governo do Estado para atender um milhão de pessoas nos 102 municípios e a renda esperada de R$ 50/ mês da merenda escolar a cada aluno dos quase 200 mil matriculados nas escolas da rede estadual. As cestas básicas já foram doadas, confirma presidente da AMA, prefeita Pauline Pereira (PP). A estimativa da duplicação do índice de pobreza extrema tem outra fonte, a pesquisa do IBGE que atesta o crescimento do desemprego que afetou 12,8 milhões de pessoas, no trimestre, diz o professor da Ufal Cícero Péricles.