A partir deste ano, Alagoas vai poder realizar cirurgia de transplante de fígado. A Santa Casa de Maceió, que atualmente faz a captação do órgão (cirurgia de retirada) e envia para outros estados, foi credenciada pelo Ministério da Saúde (MS) e, com isso, será o primeiro hospital a realizar o procedimento no estado "Não tivemos a oportunidade de iniciar o programa devido à pandemia, pois não dispúnhamos de leitos de UTI. Foi preciso fazer uma pausa até que tudo se organizasse e um novo pontapé pudesse ser dado. Acredito que até dezembro o procedimento seja iniciado", afirmou o cirurgião Oscar Ferro. Na Santa Casa de Maceió, os transplantes serão feitos com o órgão de doador cadáver. A cirurgia com doador intervivo, quando um parente doa metade do fígado, foi deixada para uma etapa mais à frente. "É um salto muito grande o hospital sair de captador de órgãos para realizador de transplantes. Transplante é uma das cirurgias mais complexas que existem. Temos uma equipe cirúrgica credenciada pelo Ministério da Saúde formada por mim, os cirurgiões Felipe Augusto Porto de Oliveira e Leonardo Wanderley Soutinho, os anestesiologistas Cira Queiroz e Nélio Monteiro, e o pessoal da UTI. Dar início a esse programa exige uma estrutura diferenciada para o hospital, pois é preciso melhorar a radiologia, a equipe cirúrgica, a anestesia, além de melhorar os cuidados intensivos de UTI, entre outros serviços. E a Santa Casa de Maceió já se enquadrava nesse perfil com as cirurgias de alta complexidade que realiza", afirmou.
DOAÇÃO
Para o pleno funcionamento do programa, as famílias de pacientes com diagnóstico de morte encefálica confirmado têm papel fundamental. Mensagens por escrito deixadas pelo doador não são válidas para autorizar o procedimento. O processo de retirada de qualquer órgão só acontece após os familiares darem o aval da cirurgia, assinando um termo. De acordo com o Ministério da Saúde, metade das famílias entrevistadas não permite a retirada dos órgãos para doação. "Existe o medo de que essa retirada de órgão aconteça com o paciente ainda vivo. Mas não há o menor risco de isso acontecer em um paciente sem a confirmação de morte cerebral. O contrário é lenda urbana que só atrapalha o processo de recuperação de quem espera por um transplante", finaliza o especialista. No Brasil, existem 27 centros de notificação integrados. Os dados informatizados do doador são cruzados com os das pessoas que aguardam na fila pelo órgão para que o candidato ideal, conforme urgência e tempo de espera, seja encontrado em qualquer parte do país. "Para transplantar, o doente precisa, na maioria das vezes, ter cirrose, que é uma doença crônica onde o fígado não cicatriza. Existem indicações especiais, quando o fígado não está cirrótico, como alguns tipos de tumores ou doenças em que o transplante se encaixa. O grande problema é que a cirrose nem sempre dá sintomas. O paciente precisa fazer exames de rotina para verificar a saúde do órgão", disse Oscar Ferro.