“O palco é mais apropriado para o amor do que a vida do homem. Pois, para o palco, o amor é sempre matéria de comédias e de vez em quando de tragédias, mas na vida causa muitos danos; às vezes como uma sereia, às vezes como uma fúria”. A narrativa, descrita no livro a Assustadora História do Sexo, coincide com a rotina na Praça Montepio dos Artistas, localizada no Centro de Maceió. À luz do dia, no palco de uma das praças mais conhecidas da capital alagoana, as profissionais do sexo se reúnem para mais um turno de trabalho e, mesmo diante da pandemia, se reinventam para não perder o pão de cada dia. Entre um cliente e outro, também precisam lidar com o preconceito. Mara Madalenas, como prefere ser identificada, tem 27 anos e trabalha como profissional do sexo há 10. “Não lembro bem como iniciei na profissão, mas, lembro que precisava trabalhar. Já tinha quatro anos nos bares do mercado quando uma colega me convidou para ir até à Praça. Fui, gostei e não sai mais”. Apesar de só ter 27 anos, Mara retrata que, além dos olhares de repúdio da sociedade, precisou lidar com a rejeição da família. “Quando minha família soube que eu estava na prostituição, minha mãe deu meu filho, com pouco mais de um ano, para outra família. Perdi o contato com meus familiares e, como minha família me virou as costas até hoje, minha família é o casal que cria meu filho. Os únicos que eu permito que meu filho chame de pai e mãe”. Com a voz embargada, mesmo com um sorriso e otimista por gostar e lutar pela regularização da profissão, Mara, que carrega na pele uma tatuagem de ‘puta ativista’, retrata momentos difíceis diante da pandemia e do cotidiano.
“A gente tem uma fama de mulheres que têm doenças, as aidéticas, DSTs. A Praça Montepio tem essa fama de ter as mulheres podres, do último degrau e, não sabe a sociedade, que a gente é acompanhada por especialistas, que cuidam da nossa saúde física e mental. Fazemos testes rápidos, com o consultório na rua, e, graças a Deus, entre nós, nenhuma nunca testou positivo”.
Mara conta que, devido à pandemia, o programa está em ‘promoção’ e custa R$ 50, sendo R$ 20 do quarto e R$ 30 para ela. “No começo da pandemia, os clientes pararam de nos procurar e tivemos que baixar o preço. Antes, era R$ 70”. Questionada sobre a quantidade de programas que já fez por dia, Mara foi taxativa: “12. Meu recorde”. Sobre a intimidade com os clientes, ela diz que não faz tudo por dinheiro. “Não faço sexo oral sem camisinha. Não beijo na boca. Não deixo colocar a boca em meus seios. Não faço anal, nem faço programa sem camisinha”. Ela diz, ainda, que acompanha pesquisas recentes que mostram que “80% das mulheres com HIV/Aids são casadas e donas de casa, sendo os parceiros que transmitem para elas, que transmitem nas ruas”.