Enquanto o impasse entre o governo de Alagoas e os técnicos forenses não se resolve, familiares têm que conviver com a dor da perda e a angústia pela demora na liberação dos corpos no Instituto Médico Legal (IML) de Maceió. Os servidores deixaram de cumprir horas extras há uma semana por não estarem recebendo por isto. O calote do Estado acontece desde janeiro. No lado de fora do prédio, parentes aguardam, sem sucesso, e tentam da maneira que podem convencer os legistas a adiantarem as necropsias para, enfim, providenciarem os sepultamentos. O problema é que, sem os técnicos forenses, o procedimento não tem como ser feito. No começo desta semana, 15 corpos estavam acumulados no IML de Maceió, boa parte que deu entrada no último sábado. Os servidores só estão conseguindo liberar três por dia, no máximo, quando a média sempre foi de oito. Entre os parentes, estão advogados contratados pelos familiares e até membros do Conselho Tutelar, levando em consideração que, entre os mortos, estão crianças e adolescentes. O conselheiro Severino Vicente informou que estava tentando uma requisição de órgão público para garantir, pelo menos, a prioridade na necropsia dos corpos dos menores. O membro do Conselho Tutelar informou que, mesmo mortos, a entidade tem a prerrogativa de fazer valer o Estatuto da Criança e do Adolescente, que prevê priorização no atendimento dos menores. Seria, segundo ele, um, conforto aos parentes. Selma Gonçalves perdeu o marido, Josenildo Barbosa, em um acidente de moto, ocorrido nessa terça-feira (22), em Messias. Ele mora em São José da Laje e veio a Maceió somente para resolver a liberação do corpo, mas estava frustrada. “Eles não tem consciência da dor da família. Até compreendo o lado deles, mas, nessa situação, a gente só pensa na nossa dor”, lamenta. Ela disse que o plantonista informou que a situação é devido à falta de pagamento das horas extras que está pendente. Selma foi orientada a voltar para casa e aguardar uma ligação do IML. Rosa Maria estava lá com a mãe e a tia pela liberação do corpo do irmão, Darlan José, que foi morto a tiros na Ponta da Terra, no sábado. Até a manhã desta quarta, o cadáver não tinha sido necropsiado.