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Nº 5897
Cidades Crime aconteceu no estacionamento do Fórum do Barro Duro, na capital alagoana

VIÚVA DE BACHAREL EM DIREITO DIZ QUE RECEBEU AMEAÇAS DE MORTE

Advogada Maricélia Schlemper chegou a pedir que audiência de conciliação fosse feita virtualmente

Por thiago gomes | Edição do dia 12/03/2021 - Matéria atualizada em 12/03/2021 às 04h00

Viúva do bacharel em direito José Benedito Alves de Carvalho, assassinado nessa terça-feira (9), a advogada Maricélia Schlemper disse que pediu ao Juízo da 22ª Vara da Família, no Fórum de Maceió, para que a audiência de conciliação do processo de divórcio fosse realizada de maneira virtual, mas seu requerimento não foi atendido. O motivo para o pedido era o medo de ser vítima de atentado praticado pelo italiano Pasquale Palmeri, de 75 anos, uma vez que, segundo ela, teria sido jurada de morte três vezes. Bastante emocionada pelo crime, ela concedeu entrevista à TV Pajuçara, na manhã desta quinta-feira (11), durante o velório do marido. Ela fez um apelo para que a justiça seja feita, o caso não fique impune e o suspeito permaneça na cadeia por um longo período, por temer ser a próxima vítima a ser morta. “Quero pedir que este monstro não seja liberado, porque eu e a ex-mulher dele seremos os próximos alvos dele. Já tinha sido ameaçada de morte outras três vezes, comentei isso com o meu marido, mas ele desconversou, pedindo para eu não desistir do caso, porque a minha cliente precisava de alguém que fizesse justiça por ela”, afirmou a advogada. Maricélia diz acreditar que a audiência de conciliação, solicitada pelo italiano, só foi agendada após uma movimentação no processo. Ela pensa que a parte pode ter se sentido incomodada, quando a Justiça determinou que um apartamento fosse liberado para usufruto da cliente. “Eu cheguei a pedir, mais de uma vez, que esta audiência fosse on-line, até pelo momento em que estamos vivendo nesta pandemia, mas acabou que se transformou em uma tocaia. Eu penso que, se estivéssemos na sala com a juíza, em um ambiente fechado, ele teria matado todos ao mesmo tempo”, considera.

Ela confirmou que era o alvo da fúria do italiano. “Ao descermos do carro, ele logo se aproximou, puxou a minha mão, tirou a arma do bolso e disse que não iria ter acordo nenhum. O meu marido percebeu tudo e me empurrou. Os dois começaram a discutir e o tiro foi disparado à queima-roupa. Só vi o meu marido cair na minha frente. Este monstro ainda tentou correr atrás de mim e eu fiquei paralisada. Saímos correndo e pedimos socorro, desesperados”, detalhou.

A advogada acrescentou que Pasquale Palmeri devia pensão alimentícia há anos. A dívida passava de R$ 200 mil, resultando em 16 ações na Justiça em tramitação contra ele. “Defendia a ex-mulher dele havia sete anos e nem tinha recebido dinheiro. A minha cliente me prometeu me pagar quando o ex-marido liberasse algum dinheiro. Agora, ele tirou a minha vida, sendo não somente uma afronta à advocacia, mas à mulher”. No relato, ela pediu mais proteção aos advogados no Fórum de Maceió. “Estamos numa situação em que os advogados estão à mercê de qualquer pessoa que poderá nos abordar e nos afrontar. Não há qualquer segurança para os profissionais”. O sepultamento do bacharel em Direito José Benedito Alves de Carvalho está marcado para as 11h desta quinta-feira (11), no Cemitério Nossa Senhora da Piedade, no bairro do Prado, em Maceió. Nessa quarta-feira (10), a Justiça Estadual converteu a prisão em flagrante do italiano em preventiva.


NOTA DE PESAR

A Comissão da Advogada Trabalhista da AATAL presta suas condolências e solidariedade à advogada Drª Maricelia Schlemper e repudia veementemente o ato atentatório à vida de sua cliente e a sua, tendo vitimado fatalmente seu companheiro José Benedito Alves. No aniversário de 6 anos da Lei de Feminicídio continuamos presenciando diuturnamente episódios similares, onde verificamos que os mecanismos que visam coibir e prevenir a violência de gênero se revelam insuficientes. Ainda verificamos nos noticiários a presença marcante das diversas formas de violência contra a mulher (física, psicológica, sexual, patrimonial, moral). No fatídico dia, na porta do Fórum de Justiça e no exercício de sua profissão, a advogada que buscava defender os interesses de sua cliente em plena pandemia, não fosse o heroísmos do seu companheiro, poderia ter sido vitimada fatalmente em razão do inconformismo masculino decorrente de ação judicial visando garantir a subsistência de sua cliente, MULHER em situação de vulnerabilidade. São muitos símbolos, mas todos apenas reforçam a perspectiva de que para o patriarcado não existe qualquer limite. Não podemos esquecer que este crime é apenas um reflexo do machismo estrutural arraigado em nossa sociedade, coisificando a mulher, olvidando suas necessidades e vontades. Por circunstâncias alheias à vontade do autor do crime, a vítima fatal foi um homem, mas o alvo do assassino eram duas mulheres, sua a ex-esposa e advogada que buscava o melhor acordo para sua cliente. Quando a vida de uma advogada é ameaçada no pleno exercício profissional, todas nós advogadas somos ameaçadas. Quando um bacharel em direito, futuro advogado, perde sua vida para salvar sua companheira, toda a advocacia morre um pouco. E a morte da advocacia é a morte do direito de defesa. Que possamos, então, renascer, muito mais fortes e unidas. Que este episódio trágico, que teve o nítido objetivo de nos silenciar, possa servir para reafirmar a importância da nossa luta. À Dra. Maricelia, todo nosso apoio. #JoséBeneditopresente

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