A chegada da pandemia de Covid-19 exigiu que mudanças fossem adotadas, além do uso de medidas de proteção, manter o distanciamento social foi extremamente necessário para conter a propagação do vírus. O contato com amigos e familiares ficou restrito, e muitas pessoas passaram a viver sozinhas. De acordo com o livro desenvolvido pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) “Recomendações e orientações em saúde mental e atenção psicossocial na Covid-19”, as medidas de isolamento social, podem impactar a saúde mental daqueles que as experienciam(...), provocando sofrimento e insegurança, visto que é preciso lidar com o futuro imprevisível. O sofrimento, a insegurança e, principalmente, o medo se fez presente no cotidiano e para aqueles que moraram só durante o isolamento total, também tiveram que conviver com a solidão. O estudante Carlos Rodrigues passou a morar sozinho durante a pandemia quando seu colega de apartamento voltou a morar com a família “Estava diante de um grande desafio: morar só, conviver com a pandemia; o medo, a angústia, a solidão. Nos primeiros meses foram bem difíceis já que a pandemia estava ganhando força no mundo. Meu medo era me contaminar com o vírus e não ter ninguém por perto para me ajudar, já que no condomínio que morava, não conhecia ninguém, e minha família que aqui reside, estava isolada.” Em análise, o psicólogo clínico comportamental Emerson Monteiro enfatiza que a principal chave da pandemia que levou o acometimento psicológico das pessoas foi a mudança radical de rotina. Além disso, afirma que o comportamento do ser humano foi desenvolvido para viver em grupo, em comunidade e que existe a necessidade da convivência com outras pessoas. “Mas para aquelas pessoas que escolheram morar só, já existe um hábito de viverem com sua própria companhia, e o rendimento tende a ser maior em comparação com alguém que teve que se afastar da família devido à pandemia”, ressalta. Mesmo assim, o psicólogo enfatiza a importância do acompanhamento psicológico independente da vivência com outras pessoas, pois não é possível entender o sofrimento do indivíduo enquanto não escutá-lo. Além do isolamento, as atividades que antes eram realizadas fora do ambiente doméstico passaram a fazer parte do cotidiano junto com os trabalhos necessários à manutenção do lar. O estudante Wylsff Rhamon relata a sua experiência “Neste ano especificamente, o retorno às aulas da faculdade, em regime de EAD, me deixou com um certo esgotamento mental. Eu estudo numa instituição que ficou parada o ano de 2020 inteiro, sem atribuições acadêmicas. Logo, este ano foi muito complicado, pois tivemos que correr atrás do “prejuízo”, em um regime EAD em que semestres se tornaram extremamente curtos (3 meses), forçando você a correr contra o tempo pra não ficar para trás” Pesquisadores da Fiocruz informam que estabelecer rotina, praticar exercícios físicos, cognitivos e de relaxamento, e impor limites ao tempo de busca de informações são estratégias de cuidado válidas para viver esse tempo de isolamento.
* Sob supervisão da editoria de Cidades