CÂNIONS: ESPECIALISTAS DEFENDEM MONITORAMENTO DO SÃO FRANCISCO
Embora apontem estrutura geológica diferente, analistas apontam necessidade de mapeamento de risco
Por Elen Oliveira e Jamylle Bezerra | Edição do dia 11/01/2022 - Matéria atualizada em 11/01/2022 às 04h00
O desastre geológico registrado no final de semana no município mineiro de Capitólio, que resultou na morte de dez pessoas, acendeu um alerta entre Alagoas e Sergipe, pela aparente similaridade paisagística entre o lago de Furnas e os Cânions do São Francisco, entre Alagoas e Sergipe. Especialistas em Geologia e Geografia consultados pela Gazeta consideram necessário fazer o mapeamento geológico de todas as áreas em que haja exploração do geoturismo, mas informam que apesar da aparência, as estruturas geológicas dos cânions em Capitólio e Xingó são muito diferentes.
Para a geóloga e professora dos cursos de Engenharia Civil e Ambiental da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) Rochana Andrade, todas as regiões que exploram o chamado geoturismo precisam fazer o mapeamento geológico para que as pessoas saibam, de fato, em que terreno estão pisando.
“Ouvi que já há uma mobilização entre os governos de Alagoas e Sergipe para que se faça mapeamento de risco geológico, o que é necessário, embora, lamentavelmente, essa iniciativa venha movida por uma tragédia. Mas tragédias costumam acender uma luzinha amarela, então que seja”, comenta a geóloga.
A professora aconselha os municípios que exploram o geoturismo a fortalecer suas estruturas de Defesa Civil, por meio da contratação de geólogos e engenheiros que possam auxiliar a gestão do turismo por meio da elaboração de um Plano Municipal de Gestão de Risco.
“O ideal é que seja feito esse mapeamento na região. A partir da identificação de risco eventual, é possível manter a atividade turística no local, mas com segurança, sabendo por onde se pode transitar, até onde se pode ir. Antes mesmo de se estruturar uma rota é aconselhável que se faça um mapeamento de risco geológico. No São Francisco, na zona costeira, em todas as áreas onde a atividade seja explorada. A indústria do turismo é importante e necessária, mas é imprescindível que esteja ancorada na ciência. O mapeamento é fundamental para prevenir e informar onde é seguro”, defende.
Segundo a professora, a formação geológica do Lago de Furnas, em Capitólio, é diferente da formação dos Cânions do São Francisco. Ela defende a prevenção, mas pede cautela com previsões e comparações alarmistas.
“Lá são rochas metamórficas que estão fraturadas, tendo processos de desgaste durante milhões de anos. As fendas, já encharcadas, receberam grande volume de chuvas nos últimos dias, acelerando o processo. Os quartzitos (presentes em Capitólio) são resistentes, o que intensificou a erosão lá foi o fraturamento das rochas. Aqui em Canindé (SE), Delmiro e Piranhas (AL), a gente tem rochas cristalinas, granito. Pode cair? Pode. Pode haver um desmoronamento? Pode, mas quando a gente comenta geologia tem que ter conhecimento, parcimônia e responsabilidade, não pode sair fazendo previsão com base em aparências, é necessário que haja base científica”, orienta.
Assim como a professora, o analista ambiental do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e mestrando em Planejamento Territorial Osmar Barreto afirma que a formação geomorfológica das duas regiões é diferente.
“A estrutura geológica dos Çânions de Capitólio, na empresa de Furnas, é totalmente diferente da estrutura rochosa que sustenta os cânions de Xingó, do Rio São Francisco. Em Capitólio são rochas metamórficas, que debaixo da terra sofreram muita pressão, muito calor, são rochas extremamente fraturadas, divididas em clivagens, pedaços fraturados muito sujeitas à erosão e à infiltração de água. Então vão soltando folhas, camadas. Você pode ver em vários locais do cânion de Capitólio pedras soltas, caídas na base da rocha próximo à água”, aponta. “Além dessas fraturas nessa rocha, choveu muito em Minas Gerais, houve uma infiltração muito grande, e a água saiu escavando o solo nessas rochas fraturadas, o que acabou provocando essa tragédia”, explica.
Da mesma forma como a professora Rochana Andrade, o analista defende que seja feito o monitoramento para a prevenção de acidentes.
“Nossa situação aqui, no Cânion do Xingó, geologicamente, estruturalmente, é muito diferente, o que não impede que nós façamos uma solicitação ao DNPM – Departamento Nacional de Pesquisa Mineral – para que técnicos especializados em geologia estrutural façam uma varredura no cânion, fazendo um estudo mais detalhado para identificar possíveis locais em que possa haver perigo para ver o que faz, isolar a área, ver se há algum risco de desmoronamento, mas são duas situações e estruturas geológicas muito diferentes”, afirma o analista Osmar Barreto.