app-icon

Baixe o nosso app Gazeta de Alagoas de graça!

Baixar
Nº 5865
Cidades

Professor defende vers�o favor�vel a Alagoas / Parte II

Documentos e datas “Existem três cartas escritas por participantes da viagem de Cabral que trazem informações acerca do descobrimento, e não apenas uma como pensa a maioria. São elas a Carta de Caminha, a do cosmógrafo João Faras e a Relação do Piloto A

Por | Edição do dia 21/04/2002 - Matéria atualizada em 21/04/2002 às 00h00

Documentos e datas “Existem três cartas escritas por participantes da viagem de Cabral que trazem informações acerca do descobrimento, e não apenas uma como pensa a maioria. São elas a Carta de Caminha, a do cosmógrafo João Faras e a Relação do Piloto Anônimo. Caminha não possuía os conhecimentos náuticos dos outros dois participantes – mestre João e o piloto anônimo – mas ao ser designado para escrever sobre a descoberta, fez-se assessorar-se por indivíduos que conheciam de navegação. Isso é perceptível em alguns termos técnicos de náutica presentes na poética carta de Caminha. É baseado na “Relação do Piloto Anônimo” que Fernandes Gama e Alfredo Brandão consignam 24 de abril de 1500 como a data do descobrimento. Neste documento encontra-se grafado 24 como o dia exato da chegada de Cabral às terras brasileiras. Apesar de outros historiadores admitirem o descobrimento do Brasil como ocorrido aos 3 de maio de 1500, Jayme de Altavila não contraria a história oficial ao defender que esse acontecimento verificou-se no dia 22 de abril de 1500”. Julião Marques, no entanto, é prudente ao falar sobre o dia da chegada de Cabral. “Quando se fala em data, é imprescindível colocar antes a palavra aproximadamente. Nós podemos falar que no dia 11 de setembro do ano passado caíram as duas torres gêmeas do World Trade Center. Dá para assegurar que foi dia 11. Mas para você afirmar que há 500 anos o Brasil foi descoberto numa data x fica complicado”. Segundo ele, é preciso, antes de tudo, definir qual é realmente o momento da chegada. “É quando chegam ali e percebem que poderiam jogar as naus contra as pedras ou é quando procuram um porto seguro e param? Qual é o momento em que lançam âncora oficialmente? Houve três lançamentos de âncora. Aí já paira a dúvida”. Julião destaca, ainda, outro fator que contribui para a sua prudência ao falar sobre datas. Ele lembra que, no espaço de tempo entre a carta de Caminha e hoje, temos um calendário juliano e um gregoriano. Sem contar que existem no mundo 12 calendários oficiais, além dos oficiosos e dos tribais. “Se forem levados em consideração, por exemplo, os 11 dias que a igreja católica retirou do calendário em 1548, o 1º de maio que Caminha assina a carta passaria para 12 de maio”. O pai Variadas correntes de historiadores colocam quatro navegantes na briga pelo título de “pai do Brasil”, ou seja, aquele que primeiro chegou à costa brasileira. Uma corrente afirma que em 26 de janeiro de 1500 o espanhol Vicente Yáñez Pinzón teria atingido o litoral brasileiro. Outros, no entanto, dizem ter sido Diego Leppe, primo de Pinzón, o primeiro a avistar terras brasileiras em fevereiro de 1500. O candidato mais forte ao título é o português Duarte Pacheco, que teria chegado ao Brasil em dezembro de 1498. Julião Marques diz particularmente não acreditar que foi Cabral o primeiro a chegar a terras brasileiras. “Esta é uma discussão bastante longa. Para solucionar esta dúvida eu tenho que retroceder no tempo e no espaço, e trabalhar com fenícios e vikings. É uma longa história. É assunto suficiente para um seminário e, quem sabe, uma outra reportagem”, comenta o bem-humorado professor de cartografia. Recontar a história Na tentativa de corrigir o equívoco da história oficial do descobrimento, em 1991 o professor Julião Marques viajou para Brasília, juntamente com Eduardo Almeida da Silva, então professor de cartografia da Ufal, para visitar o gabinete de três deputados federais alagoanos. Nada conseguiram. “A recepção foi tão grotesca, tão canhestra, foi tão quase que humorística, que nós desistimos. O que eu adquiri foi muito nojo. Não havia nenhum interesse pelo cultural, pelo intelectual, pela sapiência humana”, desabafa Julião. O professor Jayme de Altavila, filho do conhecido historiador alagoano de mesmo nome, revela que seu pai nunca teve dúvidas de que o descobrimento do Brasil se deu em terras alagoanas. “Dois anos antes da morte de papai encontrei uma gravação, ainda inédita, onde ele reafirma suas maiores convicções. Entre elas, esta tese do descobrimento”.

Mais matérias
desta edição