Após mais de 30 horas de julgamento em Maceió, a Justiça condenou, na madrugada desta quinta-feira (20), dois dos três réus acusados de participação no assassinato do advogado José Fernando Cabral de Lima, em 2018, no bairro da Ponta Verde, na parte baixa da capital. A sessão foi presidida pelo juiz José Braga Neto e a sentença lida por volta das 2h30, segundo informou a assessoria do Tribunal de Justiça de Alagoas (TJ/AL). O conselho de sentença condenou o réu Sinval José Alves (mandante do assassinato) a 19 anos e 10 meses de reclusão, em regime inicialmente fechado, e Irlan Almeida (um dos executores do crime) a 9 anos, 4 meses e 15 dias de reclusão. Considerando a pena total e o tempo já cumprido, Irlan passa a cumprir o restante da pena em regime aberto. Já o réu Denisvaldo Bezerra da Silva Filho (apontado como o outro executor) foi absolvido pelos jurados. Quanto à tipificação penal imputada aos réus condenados, a assessoria do Tribunal informou que, ao longo do dia, encaminhará mais detalhes do desfecho do julgamento. Todas as testemunhas - de defesa e acusação - foram ouvidas na terça-feira (18), primeiro dia de julgamento, que começou às 9h e foi interrompido às 22h. Nessa quarta-feira (19), dado o prosseguimento a partir das 8h30, o Tribunal do Júri se estendeu até a madrugada desta quinta-feira (20). No segundo dia, foram ouvidos os três réus - cujos depoimentos terminaram por volta das 19h. Em seguida, houve os debates da defesa e acusação e alegações finais. Dentre as testemunhas que deram depoimento estava a esposa da vítima, Lenilde Madeiro Cabral. O principal ponto do depoimento dela foi a informação de que o marido tinha sido alertado, uma semana antes do assassinato, que corria perigo. O alerta teria ocorrido por meio de um bilhete. Os autos processuais apontam que o crime teria ocorrido por causa de um débito que Sinval tinha com a vítima de R$ 600 mil, o que foi negado pela defesa. Na manhã desta quarta-feira (19), também foi ouvido o perito criminal Ricardo Caires dos Santos, que, por videoconferência, apontou que as características de Irlan e Denisvaldo se diferem dos homens visualizados nas imagens de circuitos de segurança. O assistente de acusação, por sua vez, questionou a veracidade da perícia, solicitando a abertura de um procedimento para investigar o levantamento pericial do caso. O réu Irlan Almeida de Jesus foi o último a depor nessa quarta-feira (19). Em depoimento, ele negou que tenha participação direta no crime, mas afirmou que foi procurado por Sinval José Alves para que ele sugerisse um "matador" para realizar um serviço. Os réus já estão presos desde 2018.
O CRIME
José Fernando Cabral de Lima foi assassinado aos 51 anos, com tiros disparados à queima roupa, dentro de uma sala comercial de uma galeria no bairro de Ponta Verde. O espaço pertencia ao então sócio da vítima, que virou réu no processo. O crime, ocorrido na manhã do dia 3 de abril de 2018, ficou conhecido como “Crime na Casa de Câmbio”, que ficava no térreo da mesma sala comercial, onde, no andar de cima, funcionava o escritório individual do advogado Sinval Alves. Em depoimento no primeiro dia de julgamento, a esposa do advogado, Lenilde Madeiro Cabral, disse que o marido tinha sido alertado de que corria perigo, uma semana antes do assassinato. O alerta teria ocorrido por meio de um bilhete. Uma pessoa nos procurou e deixou um bilhete com todos os dados do Fernando e dizia: ‘O senhor é uma pessoa de bem, mas tem um amigo que vai lhe trair. Por favor, ligue para esse telefone’. Um dia ele me chamou e disse que precisava falar comigo, me mostrando o bilhete. Eu fiquei aterrorizada. Eu perguntei se ele tinha inimigos, se tinha amante ou se tinha feito alguma coisa errada. E ele disse que não. ‘Meu único desafeto é o meu sócio que está todo esse tempo sem me pagar, mas acho que ele não seria capaz de fazer isso”. Bastante emocionada, a viúva revelou que Fernando ainda apurou o “aviso” que recebeu uma semana antes do assassinato. A viúva disse que o marido ligou para um amigo que trabalha na Justiça e ele não pode atender. “Eu fui dormir e ele ligou no outro dia e marcou um encontro. O amigo disse a ele: ‘Fernando, isso já foi encomendado’. Fomos à delegacia, olhamos as câmeras do prédio, mas não tivemos acesso. O amigo disse para que ele não se encontrasse com o sócio e que minhas filhas utilizassem caminhos diferentes”, acrescentou a mulher de Fernando.