Menores furam sacos e concorrem deslealmente
Espertos, ágeis feito gatos, eles chegam sorrateiros, descobrem a carga dos caminhões, furam os sacos e retiram o feijão verde; pegam o que podem. São menores entre 10 e 13 anos, meninos e meninas, que trabalham de madrugada arrumando o que comer e ven
Por | Edição do dia 12/05/2002 - Matéria atualizada em 12/05/2002 às 00h00
Espertos, ágeis feito gatos, eles chegam sorrateiros, descobrem a carga dos caminhões, furam os sacos e retiram o feijão verde; pegam o que podem. São menores entre 10 e 13 anos, meninos e meninas, que trabalham de madrugada arrumando o que comer e vender para ajudar a família. Cada um tem uma história, mas todos se confundem na origem a segregação social, moram na periferia e os pais não têm emprego fixo. É o caso de G, 10 anos, residente numa favela no bairro do Bom Parto. Com dez irmãos, o pai doente e a mãe desempregada, ele sai de casa às 8 horas da noite e fica perambulando pela Ceasa, aguardando o momento de atacar os caminhões. Tem de ser rápido, para enganar o vigia e o motorista. Eles agem geralmente quando a gente está dormindo. O vigia da Ceasa fica lá dentro e o portão só abre às 3 horas da manhã. Aí os menores aproveitam, conta o motorista Idelfonso Martins, que transporta o feijão verde de Arapiraca para Maceió há dez anos. Ele concorda que os menores causam problemas, mas o pior é para quem vive da venda do feijão verde. Concorrência Quando o dia amanhece, o menor G e o irmão mais velho, de 15 anos, levam cerca de 20 quilos de feijão na bage. A mãe debulha o feijão, coloca no saco e manda as filhas venderem o produto como ambulantes nos semáforos de Maceió. Sem direito à infância, o menor G nunca foi à escola e aprendeu a contar na prática da vida de adulto que é obrigado a levar; só folga no domingo. Mas enquanto as debulhadeiras compram o feijão pagando 45 centavos pelo quilo (preço de quinta-feira passada), os menores adquirem o produto através da pilhagem. Por isso, podem vender o saco a um real. Eles não pagam nada; pegam o feijão na cara-de-pau, a família tira a parte para comer e vende o resto a preço mais baixo, diz dona Gerusa, criticando a concorrência desleal. Eles não me afetam, porque tenho freguesia certa, não trabalho para aventurar; mas se tivesse de vender, como muita gente aqui, estaria numa situação difícil, porque a gente não pode concorrer com esses meninos, explicou. Na madrugada tem de tudo no entorno da Ceasa. A disputa pelo mercado e pelas facilidades que ele proporciona atrai migrantes, como a família de dona Maria Célia, que veio de Pernambuco e está arranchada na Ceasa. Tem o comércio de vagas, que custa quatro reais para os carregadores avulsos; o carregador é obrigado a comprar uma camisa numerada, que o identifica na Ceasa. Também tem as atrações dos inferninhos, como o capoeirista Negão da Coréia, que dá pernadas e faz acrobacias.