Italianos apostam no turismo de Alagoas
Niviane Rodrigues Repórter O bom momento vivido pelo setor turístico em Alagoas tem atraído a atenção de investidores de toda parte. São brasileiros e estrangeiros que chegam em busca de sol, praias paradisíacas e tranqüilidade. Muitos vêm ap
Por | Edição do dia 05/02/2006 - Matéria atualizada em 05/02/2006 às 00h00
Niviane Rodrigues Repórter O bom momento vivido pelo setor turístico em Alagoas tem atraído a atenção de investidores de toda parte. São brasileiros e estrangeiros que chegam em busca de sol, praias paradisíacas e tranqüilidade. Muitos vêm apenas a passeio, mas acabam fincando raízes em solo alagoano. Nessa leva de apaixonados por Alagoas, como se autodefinem, estão os italianos, que formam verdadeiras comunidades em diversos pontos do Estado, principalmente no Litoral. Aqui, eles encontram o que chamam de paraíso para viver e trabalhar. No bolso trazem moeda forte, o euro, para abrir novos negócios, sobretudo atrativos turísticos, como restaurantes, bares, hotéis e pousadas. É no Litoral Norte onde vive uma dessas comunidades de italianos. Num condomínio fechado, na Praia de Sonho Verde, no município de Paripueira, das 62 casas existentes, 44 são de italianos, a maioria aposentada. Há quatro anos eles pagaram R$ 50 mil por cada casa. Hoje, o imóvel mais barato não sai por menos de R$ 160 mil. ### Grupo se une e constrói até condomínio à beira-mar Foram os próprios italianos que compraram o terreno, contrataram empresa e construíram o condomínio, depois de conhecer Maceió durante viagem de turismo. O investimento deu certo e o grupo se uniu e decidiu apostar em novos negócios. Outro condomínio, com o mesmo padrão e qualidade, está sendo construído ao lado do primeiro, na Praia de Sonho Verde. Das 61 casas existentes, 33 já foram vendidas a italianos e a procura pelos imóveis não pára. Aqui tudo é belo. O clima, o mar, as pessoas, diz a aposentada Wanda Ce, uma das proprietárias de imóvel no condomínio. Em Alagoas com o marido e a neta desde novembro de 2005, ela diz que há quatro anos troca a neve da Itália pelo calor de Maceió. Trouxe até amigos para comprar casa aqui. Com o aeroporto internacional melhorou ainda mais, confessa a ex-funcionária de uma concessionária de máquinas agrícolas. Quase todos vieram do norte da Itália e buscam novos investimentos. É o caso do empresário Fabiano Mercante que, juntamente com os filhos, pretende abrir uma boate em Maceió. Acho que está faltando animação à noite da cidade, diz. Mário Barezzi, aposentado de uma empresa de malharia na Itália, há três anos passa férias em Alagoas. Traz a família e amigos. Este ano, ele chegou em janeiro e pretende passar uma boa temporada. Lá faz muito frio sempre e as pessoas são muito estressadas. Temos mais investimentos em cultura; financeiramente ganha-se mais. Porém, em Alagoas temos mais tranqüilidade, afirma. De taxista a empresário Há cinco anos o taxista Ernandes Dirkheuer, 41, viu sua vida mudar. Funcionário de um hotel no Litoral Norte, ele fez amizade com o grupo de italianos que decidiu investir em Alagoas. Fazia passeios com eles para o litoral e pontos turísticos do Estado e daí acabou nascendo uma confiança e amizade que dura até hoje, conta. O grupo resolveu, então, construir o condomínio no Sonho Verde e foi justamente o taxista quem intermediou o negócio. Eles me pediram que administrasse o condomínio, diz. De administrador, ele virou sócio dos italianos. Minha vida mudou totalmente. Sou outra pessoa; aprendi muito com eles. Com certeza hoje estou mais feliz, confessa o ex-taxista, que é casado com uma alagoana. Os italianos, segundo Ernandes Dirkheuer, sabem que este é o momento de investir em Alagoas e estão aproveitando. Da Praia de Guaxuma à Sereia está tudo na mão deles. |NR ### Italiano troca frio europeu por novos negócios em AL Na Praia de Riacho Doce, no Litoral Norte, funciona o que se pode chamar de hotel dos italianos. Numa área de quase dois hectares, o hotel possui 350 leitos. Este ano, durante a alta temporada, 55% do hotel estava ocupado com italianos, ávidos por praia e sol. O comando do hotel não poderia ser diferente: é feito por um italiano. Há oito anos Fábio dAlessandro aportou em Maceió para dirigir o hotel e não se arrepende. Trabalho com hotelaria há 15 anos. Já atuei na África, Caribe, Grécia. Vim para Maceió onde fiquei três anos e durante um tempo fui proprietário de restaurante. Depois disso, voltei a assumir minhas funções como diretor do hotel, conta Fábio dAlessandro, para quem Alagoas é um Estado que conquista no primeiro olhar. O hotel pertence a uma rede italiana com empreendimentos hoteleiros em vários países. Chegamos aqui em 1997, quando assumimos o hotel que pertencia a brasileiros. Estamos muito satisfeitos com os resultados. Em Alagoas temos verão o ano todo. Os italianos estão entre nossos principais clientes e a maioria gosta tanto de Alagoas que volta duas, três vezes, inclusive para comprar casas e fugir do inverno europeu, diz Fábio dAlessandro, casado com uma pernambucana. Escola de mergulho Quando o físico Rodolfo Bonifácio, 65, chegou a Maceió não teve dúvida: não voltaria a morar na Itália, onde nasceu, na cidade de Milão. Precisou de pouco tempo para se mudar com a mulher, a carioca e doutora em Física Lúcia Huet Souza, para a capital alagoana, que adotou como seu novo lar. Fiquei enamorado por esta cidade; foi paixão à primeira vista. Tudo aqui é perfeito para mim: o clima, a atmosfera e as pessoas, diz o professor, que comprou uma casa e mora na Praia de Sonho Verde, em Paripueira. O casal se conheceu na Itália, durante um curso sobre Física no qual o diretor era Rodolfo Bonifácio. Ela foi para ficar dois meses, acabou casando comigo e morando lá 20 anos, conta o italiano. Aposentado como professor de Física Quântica do Instituto Nazionale de Física Nucleare, ele viajou pelo mundo; conheceu quase todo o Brasil, mas foi em Maceió que diz que ter encontrado o lugar ideal para morar e realizar um antigo sonho acalentado durante 20 anos: montar uma operadora de mergulho. O hobbie acabou se tranformando em negócio. Em Maceió, ele comprou um barco, que equipou com toda infra-estrutura necessária para a prática esportiva, além de contratar um instrutor profissional e dois auxiliares. O negócio está apenas começando, mas o italiano garante que os resultados são positivos. Os passeios duram em média meia hora e custam em torno de R$ 150. As opções mais procuradas são os mergulhos em áreas de naufrágio e arrecifes. A operadora oferece ainda cursos, passeios de barco e manutenção de equipamentos. NR ### Europeus aquecem mercado imobiliário Se os negócios vão bem para os italianos, melhor ainda para os donos de imobiliárias, que faturam com a venda de imóveis para os estrangeiros. Haroldo Gama está no ramo de imóveis há 15 anos e diz que o momento nunca foi tão bom para os negócios. Somente a um italiano vendi no ano passado R$ 1,5 milhão em duas pousadas e uma casa, que transformou numa galeria aqui no Francês. A moeda deles estava em alta; agora deu uma queda e o mercado naturalmente recuou, mas a tendência é que volte a crescer, avalia. Mas para o presidente da Associação das Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi) de Alagoas, Felipe Cavalcante, ao contrário de capitais como Fortaleza, Natal e Salvador, em Maceió os investimentos feitos por estrangeiros ainda são acanhados. A presença deles aqui é um fato novo, mas esta é uma realidade muito insignificante quando comparada com a de outras capitais, diz. Para tentar movimentar o mercado, ele anuncia um megaevento que será realizado emmarço, no Centro de Convenções de Maceió. Será o Nordeste Investe, que reunirá investidores de toda a região, além de grandes grupos imobiliários. Vamos fazer deste o maior evento voltado para o mercado imobiliário turístico do Nordeste, diz. Junta comercial O presidente da Junta Comercial de Alagoas, Sílvio Camelo, revela que a procura de estrangeiros para montar negócios no Estado é grande. Segundo ele, somente em 2005, uma média de 30 investidores estrangeiros, por intermédio de sócios brasileiros, recorreu à Junta para abrir negócios, especialmente hotéis e pousadas. Entre eles, a maioria era de italianos. A legislação brasileira não proíbe esse tipo de negócio; desde que seja cumprida a lei que regulamenta o visto de permanência do estrangeiro no Brasil, explica. Na Polícia Federal (PF) de Alagoas, o delegado de Imigração, Daniel Fantini, confirma que a maioria dos estrangeiros que desembarcam no aeroporto de Maceió é formada por italianos e portugueses. Ele diz que o controle de entrada dos visitantes é feito logo após o desembarque, quando uma equipe da PF analisa o passaporte e o visto de entrada no Brasil, concedido pelo Consulado Brasileiro no país onde o estrangeiro residir. Há algumas possibilidades de permanência do estrangeiro no Brasil. Uma delas é como turista, condição na qual ele poderá ficar durante 90 dias, podendo este prazo ser prorrogado pelo mesmo período, totalizando o máximo de 180 dias por ano, explica. Outra condição, segundo o delegado, é aquela na qual o estrangeiro vem ao Brasil para trabalhar. Para isso é preciso que ele se dirija ao Consulado Brasileiro para pleitear o visto permanente e comprovar quanto vai investir e em que critérios, diz Fantini. Segundo o delegado, uma vez concedido o visto, a documentação é enviada ao Ministério da Justiça, em Brasília, que analisará o processo e fará diligências para comprovar a situação do estrangeiro no País. Quem permanecer terá uma carteira de estrangeiro, ressalta. NR ### Praia do Francês vira reduto de italianos A Praia do Francês, no município de Marechal Deodoro, litoral sul de Alagoas, é o que se pode chamar de reduto dos italianos. Pouco a pouco, eles descobrem o lugar e investem na região como pólo turístico. Basta uma caminhada pelas estreitas ruas do povoado para constatar a presença cada vez maior dos italianos. Bares, restaurantes, pousadas, lojas e galerias de artesanato são alguns dos investimentos feitos por eles, que também apostam na praia como lugar de morada. Nascido em Turim, o ex-corretor de seguros Marco Milano, 30, diz ter se cansado da vida estressante na Itália. Há seis anos trocou a Europa por Alagoas, onde montou um bar na Praia do Francês e hoje possui também uma pousada no lugar. Decidi procurar qualidade de vida. Fiquei sabendo de Alagoas por um amigo italiano que veio a passeio. Vim com ele e logo percebi que Maceió é um lugar bom para se viver. É um lugar de pessoas acolhedoras, diferentes dos europeus, que são egoístas, conta Marco Milano, que em menos de um mês mudou definitivamente para Maceió, onde casou e mora na Ponta Verde. Uma vez por ano ele volta à Itália, para rever a família, mas diz não ter saudade do país onde nasceu. Além do restaurante, Marco Milano também arrendou uma pousada no Francês. Acreditamos que o futuro do turismo nesta região está na Praia do Francês. O maior problema ainda é a falta de infra-estrutura. Falta até caixa eletrônico, o que obriga o turista a sair daqui para fazer um simples saque , diz. Recém-construída, a pousada ocupa uma área de 200 metros, tem 16 apartamentos, com cozinha, varanda, piscina e área de lazer. de fotógrafo a cozinheiro Mais adiante, numa galeria de lojas de artesanato, Simone de Rubens, 28, divide com a namorada brasileira os serviços em uma creperia que montou há dois meses. Ele chegou a Maceió a bordo de um navio grego, onde trabalhava como fotógrafo. O turismo em Maceió está crescendo com a construção do aeroporto, por isso decidimos apostar porque em outras praias, como Pipa e Canoa Quebrada, já não há tanto espaço. Gosto de surfar e de liberdade e aqui no Francês tenho tudo isso. Para mim, o Francês é, até agora, o lugar mais lindo que já vi, afirma Simone de Rubens, pela primeira vez no Brasil. |NR