Uso de caixinhas de som nas praias divide opinião de banhistas
Pelo menos 23 cidades em dez estados do Brasil proíbem os aparelhos; Alagoas não possui legislação específica
Por ANNA CLÁUDIA ALMEIDA e ROGÉRIO COSTA* | Edição do dia 27/01/2024 - Matéria atualizada em 27/01/2024 às 04h00
Elas são populares, fáceis de transportar e, apesar de pequenas no tamanho, a potência surpreende. Para alguns, as caixinhas de som são sinônimo de diversão e ditam o ritmo deste programa preferido dos alagoanos: a praia. Para outros, no entanto, torna-se um incômodo. Para Fátima Regina, que busca tranquilidade à beira-mar, ouvir a música do vizinho de areia traz mais transtorno do que entretenimento.
O assunto é polêmico e tem motivado discussões em todo o Brasil. O uso dos aparelhos foi até proibido em diversos estados.
A alagoana, frequentadora assídua da orla de Maceió, diz que busca momentos de paz e descanso e se sente incomodada com o barulho desses equipamentos. “A gente trabalha muito e vem para a praia para descansar, buscar tranquilidade e muita gente traz essas caixinhas e isso me causa incômodo. Mesmo que seja a caixinha, daquelas bem pequenas, acaba saindo um som alto. A gente acaba nem conseguindo conversar direito. Ninguém é obrigado a ouvir o que o outro quer”, disse.
Já para o estudante Alesson Souza, uma música na praia anima a turma e não deveria ter sua utilização proibida. “Eu acho que não deveria ser proibido as caixas de som na praia. Sempre é bom estar com os amigos e ouvindo uma música, mas que tivesse uma limitação de volumes, porque muitas vezes o som está tão alto que não conseguimos conversar com quem está do lado. É só cada um se valer do bom senso”, disse o jovem.
Desde 2018, pelo menos 23 cidades em dez estados do Brasil vetaram o uso desses aparelhos de som. No entanto, os mutirões de apreensão do equipamento por guardas municipais ao longo da costa brasileira mostram que a caixinha não vai ser abandonada apenas em respeito às normas.
Em Maceió, nenhum Projeto de Lei (PL) foi aprovado na Câmara Municipal sobre o tema, segundo informou a assessoria de comunicação do Legislativo. Para que haja a proibição desses equipamentos, é necessário que algum vereador apresente o PL na Casa de Mário Guimarães, onde haverá a tramitação e, em caso de aprovação no parlamento, vai para sanção ou veto do prefeito.
O movimento anticaixinha ganhou força no Sudeste e no Sul. Desde o começo deste ano, por exemplo, fiscais retiraram 38 equipamentos nas areias do Guarujá, um dos principais points do litoral paulista — quem é flagrado pode ser multado em mais de R$ 1 mil. Um balanço divulgado pela prefeitura registrou ainda 484 advertências. No Rio, onde a restrição começou em janeiro de 2022, 48 equipamentos foram recolhidos em todo o ano passado. Na cidade, quem se recusa a desligar o som pode ser multado em um valor entre R$ 522 e R$ 5.221.
Se para alguns banhistas, a caixinha de som faria falta no momento de lazer, para o vendedor ambulante Olival Silva, retirá-lo dos produtos que comercializa iria prejudicar, e muito, o seu comércio. Elas variam entre R$ 70,00 e R$ 90,00 e sempre tem grande procura por quem frequenta as praias.
“A depender do dia, do movimento de banhistas, consigo vender até cinco equipamentos. Se houver mesmo essa proibição vai prejudicar o meu trabalho e também de outros ambulantes que precisam garantir sua renda. Também não vejo nenhum problema no som dessas caixinhas aqui na orla”, acrescentou o ambulante.
O debate sobre o assunto tomou conta das redes sociais do Portal Gazetaweb. Internautas opinaram sobre o possível veto. Muitos se posicionaram a favor da proibição, enquanto outros se mostraram contra, como foi o caso de Anderson Henrique. “Uma caixinha pequena, apenas ali do seu lado, numa praia, que é local aberto. Se for pequena, não vai atrapalhar ninguém. Agora, chega aquela galera que a caixa de som tem até uma rodinha pra poder puxar e quer ligar no volume máximo, lógico que vai ter alguém que vai se incomodar”, disse.
Para Sandra Amorim, por se tratar de um local público, a proibição deveria ocorrer. “O lugar é público e o seu direito termina quando o do outro começa. Ninguém é obrigado a escutar a playlist de ninguém, que na maioria das vezes é de péssimo gosto, e na maior altura”, disse. A mesma opinião é compartilhada pelo internauta Gustavo Rocha. “Em um país de terceiro mundo, onde o povo não tem educação e nem respeito ao próximo, só resolve desse jeito mesmo. Agora falta fazerem valer a Lei da Perturbação do Sossego nas casas de praia também”, acrescentou.