MEIO AMBIENTE
Estudos da Nasa apontam que avanço do mar ameaça áreas costeiras em AL
Nível oceânico subiu mais do que o esperado, aumentando a preocupação com os impactos no litoral


Que a mudança climática é um problema atual não é novidade. No entanto, estudos recentes da Nasa, a agência espacial dos Estados Unidos, apontam que em 2024 o nível do mar subiu mais do que o esperado, aumentando a preocupação com os impactos em regiões litorâneas como Alagoas.
Segundo o levantamento, a elevação oceânica prevista para o ano passado era de 0,43 cm, mas os dados indicaram um aumento de 0,59 cm. Embora o número pareça pequeno à primeira vista, os efeitos acumulados são significativos e agravam problemas já observáveis, como a erosão costeira — especialmente em áreas urbanizadas e com ocupação desordenada.
Em Alagoas, onde grande parte da população vive em municípios litorâneos, o avanço do mar representa risco direto para residências, comércios e estruturas públicas, comprometendo a segurança de moradores e a sustentabilidade urbana.
Para o professor da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), Henrique Ravi, doutor em Ciências Geodésicas e Tecnologias da Geoinformação, a erosão costeira não é um fenômeno novo no estado. “Ao tratar dos impactos sobre a costa do Estado, é fato que, mesmo antes da divulgação dessa pesquisa pela Nasa, já era possível perceber a ação destrutiva da elevação do nível do mar ao longo da zona costeira. A própria capital, Maceió, há anos apresenta problemas relacionados a esse fenômeno, desde a destruição de equipamentos públicos e edificações privadas até a perda de praias e pós-praias”, afirma.
Henrique também alerta para o papel da ação humana nesse processo. A ocupação antrópica, como construções mal planejadas e sem estudos técnicos, colabora para desestabilizar o equilíbrio natural das áreas costeiras, impedindo a reposição de sedimentos e acelerando a degradação ambiental.
NÍVEL DO MAR
Um relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) divulgado no ano passado reforça a gravidade do cenário. Segundo o documento, o nível do mar subiu 15 centímetros nos últimos 30 anos em algumas regiões do Pacífico. No Brasil, o distrito de Atafona, no estado do Rio de Janeiro, registrou um aumento de 13 centímetros no mesmo período.
Para o futuro, as projeções são ainda mais alarmantes: até 2050, estima-se uma elevação de até 21 centímetros, com uma média global de 16 centímetros.

Desmatamento, clima e ocupação desordenada
O aumento do nível do mar pode afetar de forma ainda mais severa as áreas próximas a fozes de rios e estuários, segundo o professor Gabriel Le Campion, especialista em estudos costeiros. Ele explica que esses locais são os principais responsáveis pelo transporte de sedimentos até as praias, o que ajuda a mantê-las estáveis. “Com o desmatamento e a diminuição da vazão dos rios, a quantidade de sedimentos que chega às praias foi reduzida, tornando-as mais vulneráveis à erosão”, afirma.
Outro fator de agravamento citado pelo especialista é o aumento da força dos ventos, que intensifica a energia das ondas e acelera os processos erosivos. “Estamos destruindo a vegetação de restinga, que tem um papel fundamental na retenção de sedimentos no pós-praia. Sem essa barreira natural, o mecanismo erosivo se intensifica”, alerta Le Campion.
A ocupação desordenada da orla, com construções muito próximas ao mar, também é apontada como agravante. O professor destaca que estudos realizados no litoral sul da Praia do Francês mostram que áreas sem edificações conseguiram se recuperar após eventos erosivos, enquanto nas áreas urbanizadas, o processo de degradação avança. “O sistema natural não consegue se regenerar onde há presença de construções, pois não há espaço para a movimentação natural dos sedimentos”, pontua.
IMPACTOS
Os impactos da elevação do nível do mar já são perceptíveis em diversas áreas do litoral alagoano. Em Marechal Deodoro, por exemplo, a Praia do Saco teve sua escada de acesso interditada devido ao risco de desmoronamento causado pela erosão. De acordo com a Secretaria de Comunicação do município, a demolição da escada foi recomendada pela Defesa Civil, e um novo acesso provisório está sendo providenciado.
“O projeto de reurbanização da área, que inclui um novo acesso respeitando afastamentos determinados pelo histórico de marés anteriores, está em andamento, atendendo as necessidades dos banhistas, moradores da região e também comerciantes”, informou a prefeitura, por meio de nota.
Para conter a erosão, algumas medidas já foram tomadas, como a construção de cortinas de estacas e contenções de arrimo de pedras argamassadas. No entanto, as ondas fortes que quebram na região não encontram espaço para dissipação, resultando na erosão das próprias estruturas construídas para contenção.
A Barra Nova foi apontada como uma das áreas mais vulneráveis do município devido à movimentação dos bancos de areia ao longo da costa. Esse fenômeno natural modifica constantemente a posição da linha de costa, deixando alguns trechos mais expostos aos impactos das marés e exigindo monitoramento contínuo.
Especialistas defendem que medidas como a recuperação da vegetação de restinga, essencial para a retenção de sedimentos, e a regulamentação mais rígida da ocupação da orla podem ajudar a frear a degradação.