Um dos pipeiros que se identificou como Cícero Campos de Lima montou um ponto clandestino de retirada de água do Canal do Sertão. Ele confirmou que diariamente mais de 20 caminhões transportam água daquele ponto para os sítios do sertão que desde o mês passado enfrentam a estiagem. Segundo Cícero, a viagem custa entre R$ 180 a 300 reais, vai depender da distância. “Quanto mais longe, mais caro”, diz. Ao ser questionado a respeito da qualidade da água, disse: “É de primeira”. Com relação ao custo, afirmou que “se não fosse o canal, os sertanejos pagariam até R$ 500. Na zona rural de 30 municípios do Sertão e parte do agreste não tem água de jeito nenhum. Secou tudo. A temperatura está muito alta. Se fecharem o canal vai ser um desespero para muita gente”, avisou. Para retirar a água sem chamar a atenção, os pipeiros utilizam bombas ou uma engenhoca com canos de 50 polegadas que, por sucção, enchem os caminhões de 8 mil e 16 mil litros.
AGRICULTORES
Quem tem propriedades ao longo das margens do canal também se aproveita da falta de controle e de fiscalização das secretarias de Recursos Hídricos, de Agricultura e da própria Casal (Companhia de Saneamento de Alagoas) e faz ligações clandestinas para irrigação. Dezenas de propriedades mantém áreas com culturas de milho, feijão, batata, macaxeira, entre outras tradicionais da região, e pequenas criações de gado, suínos e caprinos.
De acordo com os ambientalistas, as áreas não deveriam ser irrigadas sem orientação técnica do estado. Em vários trechos, o solo tem muito sal. A irrigação clandestina pode deixar as áreas estéreis. Um alerta neste sentido já foi feito inclusive pelo presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, jornalista Anivaldo Miranda. Os técnicos da Secretaria de Irrigação sabem do problema, mas dependem da coordenação operacional do Conselho Gestão do Canal do Sertão. AF