O remédio da professora, o lazer da policial, a feira do mês. Itens como estes passarão a pesar mais no bolso do servidor após a Reforma da Previdência do Estado, proposta pelo governador Renan Filho (MDB) e aprovada pelos deputados no último dia 10 de dezembro. É na hora de colocar na ponta do lápis, de encher o carrinho do supermercado, de levar a receita na farmácia, que a conta chega, que o dinheiro encurta.
A Gazeta de Alagoas ouviu servidores ativos e inativos do Estado para saber deles como receberam a notícia da reforma, como o aumento da alíquota vai interferir na rotina e como eles se preparam. Tratando um câncer de mama e vivendo com diabetes, hipertensão, colesterol e triglicerídeo altos, a professora aposentada Norma Barros jamais pensou que teria que pagar pela Previdência já depois de aposentada. Mas é o que vai acontecer devido a reforma. Ela, que não era mais taxada, vai ver 14% sair da conta direto para os cofres do governo. “Vai ser um desfalque muito grande, jamais contaria com esse desconto de 14% , é um valor muito alto, onde além das despesas, eu tenho um plano de saúde que é alto, pois já estou com meus sessenta anos”, desabafa. Norma pondera ainda que junto a este fato da volta da taxação, o governo não concedeu reajuste nos últimos quatro anos “e ainda teve a coragem de meter a mão no salário dos trabalhadores”. Encurralada, ela diz que vai tentar refazer o orçamento. “Sem medicamentos, alimentação e moradia não posso ficar”, enfatiza. Questionada sobre o que exatamente ela vai cortar do orçamento, ela responde indignada. “Essa pergunta tem que ser feita ao governador se ele sobreviveria com o salário que ele me paga mais a redução que ele fez”, diz. Diante da insistência na pergunta ela frisa: “Não sei, não tenho outra fonte que não seja meu salário. Vai fazer falta em tudo pois eu não sobrevivo sem comer e sem meus remédios também”. Norma ingressou no serviço público de Alagoas em 1982 para ser professora. A também professora aposentada Laucia Souza se apega a fé na esperança de que a reforma não vigore. “Ainda acredito na força do Espírito Santo que senhor governador cumpra com o que preconiza a Constituição Federal e não desconte dos que realmente, trabalharam e contribuíram para o desenvolvimento do nosso Estado”. Laucia conta que recebeu a notícia com muita tristeza, pois durante este período de governo, segundo ela, não teve aumentos significativos, e sim alguns ajustes diante da inflação, e mesmo assim divididos em três vezes. “Já trabalhamos o suficiente para garantirmos nossos vencimentos integrais, então não é justo que paguemos pelos erros dos outros”, afirma. “E tem mais, estou ainda mais perplexa porque na Constituição Federal em seu artigo 40, parágrafo 18, preconiza que acima de R$ 5.389,45 é que entra o desconto estabelecido por cada estado ou município, se não estamos nesse patamar, não seria inconstitucional?” questiona. A professora aposentada diz que está tão revoltada que não parou para fazer os cálculos das perdas e como ajustar o orçamento. “Estamos já há dois anos sem reajuste, somos uma classe que formamos todas as outras, e no entanto, somos tão desvalorizados. Para o ano de 2020 também não teremos reajuste, pois não entrou no orçamento, mas teremos 14% de descontos. Imagine uma pessoa que sai de 0% para 14%. Não temos de onde cortar nada, pois não temos esse privilégio, vivemos por vida na linha, pois se sairmos um pouco, corremos o risco de sermos atropeladas pelo VLT [Veículo Leve sobre Trilhos]”, relata.
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* Sob supervisão da editoria de Economia.