Mais de 600 mil pessoas vivem situação de desespero no campo por falta de alimentos, sementes para o plantio e apoio. Elas fazem parte das 120 mil famílias de agricultores e trabalhadores ligados aos sindicatos de trabalhadores rurais e à Federação dos Trabalhadores na Agricultura. Pretendiam ocupar o Palácio do Governo para cobrar do governador Renan Filho (MDB) sementes, financiamento para agricultura familiar com recursos do Fundo de Combate e Erradicação à Pobreza (Fecoep) e cestas básicas. Desistiram a ocupação porque foram orientados a cumprir a lei do isolamento social determinado pelo próprio estado a fim de evitar a disseminação do coronavírus. A Fetag-AL e os sindicatos organizam nova forma de protesto: divulgarão pelas redes sociais vídeo onde mostrarão a falta de política agrícola, a situação de abandono e miséria no campo, promete o presidente da entidade, Givaldo Teles. “Temos hoje mais de 120 mil famílias [mais de 600 mil pessoas, na avaliação da Fetag] com fome. Mais 60% são ligadas a 74 sindicatos da agricultura familiar e o restante são filiados aos 32 sindicatos de trabalhadores rurais assalariados. O desemprego é o maior da história. Nos 102 municípios, precisamos de ajuda urgente. O povo está com fome”, disse o diretor de Política Agrícola da Fetag, Robério Oliveira. A semana foi de intensa articulação nos bastidores dos sindicatos e da Fetag para organizar a nova forma de protesto virtual. Além do vídeo, será elaborado documento que vai para o Ministério Público do Estado (MPE), Assembleia Legislativa, prefeituras e câmaras de Vereadores dos 102 municípios relatando a situação e pedindo apoio às reivindicações de socorro para as famílias de micro e pequenos agricultores e desempregados do campo, revelou o presidente da Federação Givaldo Teles, que na última quinta-feira apresentava os sintomas de contaminação do Covid-19 e estava isolado em casa por recomendação médica. A situação é pior na Zona da Mata, onde tem milhares de assalariados da monocultura e da indústria açucareira desempregados e sem perspectivas. “O desemprego é grande em todo o estado”, ressaltou o presidente da Fetag, ao revelar que até o momento não existe nada de socorro para o homem do campo. “Como seria irresponsável a aglomeração de pessoa na porta do Palácio do governo neste momento, tentaremos dialogar com a sociedade via redes sociais”. Os diretores da federação, em reunião virtual, relataram a difícil situação dos sindicatos rurais: desemprego, falta de apoio, de sementes e fome. “Se não fosse o momento de pandemia, a Fetag e os agricultores familiares ocupariam o Palácio do governo. Infelizmente não podemos aglomerar pessoas neste momento. O caminho agora é mostrar o nosso desespero pelas redes sociais”, sugerem também os dirigentes de sindicatos rurais. Na quinta-feira (07) houve uma reunião com a assessoria jurídica da federação no sentido de viabilizar um documento a ser divulgado também através da imprensa. “Queremos saber por que o agronegócio e a agricultura patronal recebem apoio e a agricultura familiar, responsável por 70% dos alimentos na mesa dos alagoanos, não tem apoio dos governos federal e estadual”, questionam Givaldo Teles e Robério Oliveira.
PRODUÇÃO
As lideranças da Comissão Pastoral da Terra (CPT), do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), da Frente Nacional de Luta pela Reforma Agrária (FNL), de outros movimentos de sem terra que reúnem cerca de 15 mil famílias acampadas à espera de terra em Alagoas, durante a semana discutiram em reuniões virtuais a realidade de dois meses de isolamento social. A maioria dos acampados desistiu de esperar a ajuda do governo e está plantando. A CPT, por exemplo, há cinco anos estimula as famílias a fazer o próprio banco de semente e assim desistiu das sementes da Secretária de Estado da Agricultura, que não chega para ninguém. As outras organizações de sem terra também conseguiram sementes. A preocupação agora é com o escoamento da produção de grãos (milho, feijão, sorgo) dos hortifrutigranjeiros, dos citros, e de outros produtos da agricultura tradicional. Os sem terra querem apoio do executivo estadual.
A CPT acompanha duas mil pessoas sem terra, a maioria acampada. “Chove no Sertão, Agreste, na Zona da Mata. Os agricultores familiares estão animados, aproveitam o isolamento social para plantar e neste momento o clima é favorável. A nossa preocupação é a mesma da maioria dos movimentos agrários e da Fetag: como será o escoamento da produção nesses tempos de coronavírus e como garantir outros gêneros alimentícios?”, questionou o coordenador estadual da CPT, Carlos Lima, ao lembrar que a partir de junho começa a colheita da safra do inverno.