Sexta-feira, 13 de março de 2020. Há dois dias o mundo vivia oficialmente a pandemia do novo coronavírus. Naquele dia o guia turístico Gilvan Filho levava um grupo de visitantes para passeio na Praia do Gunga, na cidade de Roteiro, Litoral Sul de Alagoas. Ele não sabia, mas aquele seria o último dia de passeio que realizaria enquanto durasse a pandemia. “Eu tinha noção dessa consequência, porém não imaginei que seria tão rápido”, conta. O guia, conhecido com o Van da Van, apelido alusivo ao meio de transporte tão conhecido no ramo, está na profissão há 3 anos. “Comecei vendendo passeios mas vi que como guia podia ganhar mais. Fiz o curso técnico e comecei a exercer a profissão”, narra. Sem turistas, com praias fechadas e sem poder exercer a profissão, ele trocou, temporariamente, a van pelo carro em que é motorista por aplicativo. Esse foi o meio que achou para sobreviver. “Tenho amigos de profissão que estão fazendo entregas com moto, outros vendendo máscaras, outros laranja, e muitos outros simplesmente sem alternativa, dependendo da ajuda de outras pessoas com cestas básicas e até mesmo desse auxílio emergencial, que nem todos conseguiram”, expõe. Gilvan Filho explica que trabalha por diárias e comissões e não possui salário fixo. “Quando me vi em casa sem poder sair, as contas chegando, a comida acabando, confesso que me desesperei. Com menos de 20 dias após o decreto eu já não tinha como me manter, pois não tinha nenhuma reserva financeira. Tudo isso aliado ao terror vivido com a chegada de cada nova informação a respeito desse vírus, que pra nós era totalmente desconhecido”, relata. Todavia, o trabalhador diz que “como motorista por aplicativo consigo,com muito esforço, rodando 10 horas por dia, apenas 50% do que ganhava como guia”. Ele conta que costuma dizer que é "assando e comendo". “Consigo suprir necessidades básicas, porém o acúmulo de dívidas é inevitável”, revela. Gilvan Filho diz que se juntou à “multidão de ubers”. Gilvan Filho diz ser muito grato a todos da iniciativa privada que ajudaram a classe conseguindo cestas básicas para os guias. Ele aproveita o espaço para pedir apoio. “Quero pedir para todos assistirem a transmissão ao vivo do humorista Marlon Rossy no próximo dia 12 deste mês às 16h no seu canal do YouTube. Boa parte das doações serão destinadas também para os guias de turismo”, convida. Sobre o futuro ele se apega à fé. “Como um bom brasileiro que nunca perde a fé, mesmo em meio a todo esse caos, as minhas expectativas são de um breve retorno, talvez agosto, setembro. Não sei, mas é o que imagino. Recebo muitas mensagens de turistas nas redes sociais. Estão interessados na nossa atual situação, querem vir, mas por decreto estão impedidos”, afirma. Em relação ao futuro da profissão ele entende que mesmo com a volta as coisas não serão como eram antes. “Tenho consciência de que a retomada será gradativa, um passo de cada vez. Teremos muitas restrições, a exemplo da quantidade de pessoas nos transportes, que só poderão transitar com 70% da capacidade. Os pontos de apoio também imagino que terão que reduzir a quantidade de pessoas, o distanciamento de um metro e meio, máscara também em ambientes fechados. Enfim, será difícil, lento, mas iremos trabalhar duro para que essa retomada aconteça, e o mais rápido possível a gente consiga retornar à nossa rotina e resgatar a autoestima desse grupo tão importante para a economia do nosso estado”, desabafa.
* Sob supervisão da editoria de Economia.