DESIGUALDADE SALARIAL
Mulheres recebem 11,1% a menos do que os homens em Alagoas
Mesmo com diferença nos salários, Estado supera a média nacional


A desigualdade salarial entre homens e mulheres ainda é uma realidade. De acordo com o 3º Relatório de Transparência Salarial e Igualdade, divulgado ontem (7) pelos ministérios da Mulher e do Trabalho e Emprego (MTE), as alagoanas recebem 11,1% a menos do que os homens. Mesmo assim, esse é o 6º melhor cenário entre os demais estados. A média nacional mostra que a diferença é de 20,9%.
Os dados têm como base o Relatório Anual de Informações Sociais (RAIS) de 2024, que analisou 19 milhões de vínculos. No Brasil, as mulheres recebem, em média, 20,9% a menos que os homens nos 53.014 estabelecimentos com 100 ou mais empregados.
O levantamento mostra que, em Alagoas, os homens têm uma remuneração média de
R$ 2.660,79, enquanto as mulheres recebem 11,1% a menos, uma média de R$ 2.366,03. Esse número coloca o estado em 6º lugar entre as unidades federativas com menor diferença salarial. Em contrapartida, elas representam apenas 29,93% das ocupações no mercado, o menor percentual do país. São 51.034 mulheres no mercado de trabalho alagoano. Já os homens chegam a 119.476 nos vínculos empregatícios.
A maior diferença constatada é entre homens não negros e mulheres negras. Enquanto eles recebem R$ 3.419, as trabalhadoras têm uma remuneração 36% menor, com um salário médio de R$ 2.187.
O secretário executivo do MTE, Francisco Macena, destacou durante o lançamento que os dados devem ser transformados em políticas públicas que reduzam a distância salarial. “A desigualdade salarial é um processo contínuo de transformação, para que possamos romper com os preconceitos e avançar. É fundamental que as informações fornecidas pelas empresas promovam a implementação de políticas públicas para combater a desigualdade no mundo do trabalho”, ressaltou.
A ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, destacou que as mulheres que aparecem na estatística são responsáveis pelo sustento de suas famílias, e a maioria delas é chefe de família. “Essas mulheres sustentam seus lares. Não dá para aceitar que mulheres recebam menos do que os homens exercendo a mesma função”, afirmou a ministra.
CENÁRIO NACIONAL

Na remuneração média, os homens ganham R$ 4.745,53, enquanto as mulheres recebem
R$ 3.755,01. Já no caso das mulheres negras, o salário médio é de R$ 2.864,39. Em 2024, elas recebiam 47,5% do que ganhavam os homens não negros. “Esperávamos ter avançado nesse indicador, mas as mulheres negras continuam ganhando menos até mesmo que os homens negros”, ressalta a subsecretária de Estatísticas e Estudos do Trabalho do MTE, Paula Montagner.
O Relatório aponta que as mulheres diretoras e gerentes recebem 73,2% do salário dos homens. Já as profissionais em ocupação de nível superior recebem 68,5% do salário dos homens. As trabalhadoras de serviços administrativos recebem 79,8% dos salários dos homens. Os estados como Acre, Santa Catarina, Paraná, Amapá, São Paulo e Distrito Federal têm as menores desigualdades salariais.
LEI DA IGUALDADE SALARIAL
Sancionada em 3 de julho de 2023, a Lei nº 14.611 trata da igualdade salarial e de critérios remuneratórios entre mulheres e homens no ambiente de trabalho, alterando o artigo 461 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). A legislação determina que empresas com mais de 100 empregados adotem medidas para assegurar essa igualdade, como a implementação da transparência salarial, ações de fiscalização contra a discriminação, canais específicos para denúncias, programas de diversidade e inclusão, além do incentivo à capacitação de mulheres.
MOVIMENTO
Apesar de apresentarem, em média, maior escolaridade que os homens, as mulheres ainda recebem 20,7% a menos. Quando se observa o recorte étnico-racial, a desigualdade é ainda mais acentuada: mulheres negras ganham 53% a menos do que homens brancos.
Diante desse cenário, os ministérios das Mulheres e do Trabalho e Emprego também lançaram o Movimento pela Igualdade no Trabalho. A iniciativa conta com a adesão de empresas e organizações trabalhistas de diversos setores, como o bancário e o industrial, e reforça o compromisso coletivo com a promoção da equidade no mundo do trabalho.
“Reconhecemos que um verdadeiro compromisso com a sociedade brasileira inclui necessariamente apoiar e agir para que as mulheres sejam tratadas com igualdade em todas as esferas de suas vidas. Queremos ter orgulho do nosso país não apenas por suas conquistas no esporte, cultura, educação ou ciência, mas na liderança mundial pela defesa da democracia, pela promoção de justiça social e pelo exemplo na superação das desigualdades”, diz trecho da Carta do movimento.
Outros dados destacados na Carta vêm da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que aponta: o Brasil poderia ampliar sua economia em R$ 382 bilhões com a adoção de políticas moderadas de igualdade de gênero, valor que poderia dobrar com a plena equidade entre homens e mulheres. O Banco Mundial também alerta que, caso as mulheres tivessem as mesmas oportunidades que os homens no mercado de trabalho, o Produto Interno Bruto (PIB) global poderia crescer mais de 20%.
“Reconhecemos que é urgente e necessário valorizar as mulheres brasileiras, combater a persistente violência em todas as suas manifestações, ouvir suas necessidades e lutar para garantir que elas tenham oportunidades iguais na política, no mercado de trabalho, em posições de liderança e nos espaços mais relevantes da nossa sociedade. A Organização das Nações Unidas estima que serão necessários 300 anos para o mundo atingir a igualdade de gênero. Não podemos esperar mais três séculos!”, conclui o Manifesto.