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Sucesso com a bola

Instituto Orla Lagunar, o projeto que ajuda crianças por meio do futebol

Idealizador da instituição é Joel da Silva, subtenente da Polícia Militar de AL, que já treinou até Roberto Firmino

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Joel da Silva, subtenente da PM-AL, treinando seus alunos, quem sabe, futuros craques da bola
Joel da Silva, subtenente da PM-AL, treinando seus alunos, quem sabe, futuros craques da bola -

O que é o futebol? Para alguns, é apenas um esporte coletivo onde 22 jogadores tentam colocar a bola na rede adversária. Mas, se fosse só isso, será que seria tão amado assim por todo o mundo? O futebol não é só um esporte. Para muitos, é a oportunidade de mudar para melhor a realidade das suas famílias e das pessoas ao seu redor. Seja tendo uma carreira de sucesso em um clube grande ou ajudando outras pessoas a terem esse sucesso, ou pelo menos a oportunidade de tentar. Existe todo um movimento social envolvido por trás desse ‘simples’ esporte.

Na região perto do Estádio Rei Pelé, à beira da Lagoa Mundaú, o subtenente Joel da Silva, da Polícia Militar-AL, criou um projeto com o intuito de auxiliar os jovens da região, que funciona como uma escolinha de futebol, mas o objetivo principal não é, necessariamente, formar jogadores. Para Joel, o mais importante é fazer com que a juventude local não siga o caminho do crime, o que, infelizmente, é uma realidade para muitos.

Joel conta que era uma criança muito ‘levada’ e o futebol o auxiliou a adquirir disciplina. “Quando eu tinha 8 ou 9 anos, era uma criança rebelde e indisciplinada, mas o futebol me ajudou a melhorar a minha disciplina e consegui melhorar meu comportamento”, disse o militar, sobre a origem da paixão pelo futebol.

Hoje aos 57 anos, Joel da Silva passou 34 anos de sua vida trabalhando na carreira militar e, ainda assim, tem tempo para administrar o seu projeto. Em 2004, criou uma escolinha de futebol, onde treinava as crianças da região e tinha uma taxa de 10 reais para se inscrever. Porém, viu que muitas crianças tinham interesse em participar, mas não tinham condições de pagar a inscrição. Então, Joel decidiu que, nos dias em que a escolinha não tivesse aulas, o campo estaria disponível para que elas pudessem participar das atividades.

Com o tempo, o projeto foi ganhando força e vários jovens começaram a participar, até quem nunca jogou bola na vida. Tendo jovens de todas as idades, conseguindo separá-los do sub-8 até o sub-17, Joel montou times amadores para torneios de várzea.

Apesar de muitas alegrias, o projeto passou por muitas dificuldades ao longo da história. A escolinha de futebol Falcão teve que fechar as portas por falta de investimento. Acolher tantos jovens não era nada barato e, infelizmente, o projeto não conseguiu se sustentar. Porém, isso não fez o militar desistir de ajudar as crianças, através do futebol. Mesmo com o fim da escolinha, ele continuou ajudando a meninada da região, agora de forma gratuita e nos campos abertos na região da Orla Lagunar da capital. Esse recomeço deu bons frutos e os jovens comandados por Joel voltaram a disputar e se sair bem de campeonatos amadores.

Com o sucesso, Joel da Silva conseguiu criar pontes para outras cidades do Estado, como Marechal Deodoro e São Miguel dos Campos. Além de supervisionar os jovens da região do Vergel, ele tinha que fazer o mesmo processo em outras cidades e isso quase acabou com a vida dele. Quando ia para São Miguel dos Campos, acompanhar os treinos, um acidente de moto quase pôs fim na história dele.

“Estava indo de moto um pouco estressado, pois os meninos haviam dito que o treinador que gerenciava os treinos lá na cidade não estava tratando-os bem. Quando estava na descida de uma ladeira, um carro bateu na minha traseira e eu caí na pista, no momento vinha outro veículo que quase passou por cima de mim. Foi livramento”, lembra.

“Eu não sabia como iria voltar para casa ou pelo menos pedir ajuda. Na época, não tinha celular e a rede era muito complicada no local. Comecei a acenar por carona para quem passava pelo local, quando um homem se aproximou e ofereceu ajuda para me levar a Maceió”, completa.

FIRMINO

“E de onde vêm os diamante? Da lama”. O verso rimado por Mano Brown representa o espírito esperançoso de Joel e de todos os jovens do seu projeto. À beira da lagoa, em um campo lamacento, um grande diamante mostrou seu brilho para o mundo. Diamante esse que se tornou estrela e ídolo de um dos maiores times do mundo, o Liverpool. Roberto Firmino passou pelo projeto do Joel, que na época ainda era a escolinha de futebol Falcão. Aos 14 anos, Firmino foi treinado pelo militar e disputou vários campeonatos amadores e, desde cedo, o ídolo do Liverpool mostrava todo o seu talento, fazendo com que o CRB logo o contratasse para as suas categorias de base.

Em 2014, ano da primeira convocação de Firmino para a Seleção Brasileira, a ESPN fez uma matéria especial, contando a trajetória do jogador. Após o fim da matéria, familiares e o empresário de Firmino se encontraram com Joel e ficaram curiosos em saber como o militar administrava aquele projeto. Contudo, parece que o esqueceram.

“Estavam lá o pai, a mãe, a irmã, o tio dele e o empresário do Roberto Firmino. E quando me viram chegar, me perguntaram como eu fazia isso (projeto). Respondi ‘Deus acima de tudo’ e alguns amigos ajudavam a manter o projeto funcionando. Nisso, os pais falaram que a partir daquele dia iam me ajudar. Eu prontamente agradeci. Só que após um tempo, parece que eles acabaram esquecendo. Seria maravilhoso se o Firmino abraçasse o projeto”, disse.

O projeto do Joel pode ser considerado tudo aquilo que o futebol se propõe a ser. Um ambiente livre, onde todos presentes apenas precisam ser eles mesmos e desempenhar o máximo de seu potencial. Isso inclui todos os públicos e não poderia deixar as garotas de fora.

Uma dessas garotas é Layla Sofia, 15 anos. Assim como ela, outras duas craques do esporte também sujaram as suas chuteiras de lama para seguir os seus sonhos: Ingryd Lima, atualmente no Palmeiras, e Brenda Woch, do Grêmio, além de terem passado pelo futebol internacional.

Joel tem noção de que nem todos ali vão conseguir seguir na carreira de jogadores profissionais, mas afirma que o real objetivo do projeto não é esse. “O objetivo não é formar jogadores, mas cidadãos capazes de construir uma vida digna e honesta no caminho profissional que escolherem”, disse.

Inclusive, Joel estipulou pré-requisitos para os jovens poderem participar do projeto. Um deles é que todos devem estar matriculados no colégio e ter boas notas. O próprio idealizador, com voluntários e as famílias dos jovens, acompanham o rendimento dos atletas, que devem ter também uma relação de respeito e obediência com seus pais ou responsáveis.

Há pouco mais de dois anos, o projeto do militar finalmente foi oficializado, com o nome de Instituto Orla Lagunar e sobrevive por meio de doações. Mesmo com esta oficialização, ainda é muito difícil mantê-lo. Mas se tem algo que as lamas dos campos do Vergel ensinaram é que nenhum sonho é difícil demais, ao ponto de se desistir dele.

* Sob supervisão da Editoria

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