COLUNA DO MARLON
Tite pediu tempo e nos deu um recado
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A decisão de Tite de pausar a carreira para cuidar de si mesmo é um grande gesto de coragem e um alerta sobre a pressão insustentável que o futebol moderno impõe. Vivemos em um ambiente onde a cobrança incessante e a exposição constante nas redes sociais corroem a saúde emocional de jogadores, técnicos e profissionais do esporte.
O Brasil lidera os índices de depressão na América Latina, com 5,8% da população afetada, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) . Além disso, 45% dos brasileiros percebem efeitos negativos das redes sociais em seu bem-estar, conforme pesquisa recente do Instituto Cactus, em parceria com a AtlasIntel, no estudo “Panorama da Saúde Mental 2024”.
As redes sociais, que deveriam conectar, muitas vezes se tornam arenas de julgamento, onde críticas ferozes e invasões de privacidade são comuns. A linha entre o profissional e o pessoal se desfaz, e a pressão não termina no apito final dos jogos.
Como alguém que já enfrentou os efeitos dessa cobrança desenfreada, entendo profundamente a importância de reconhecer nossos limites. Tite nos mostra que admitir vulnerabilidade não é fraqueza, mas um passo essencial para a preservação da integridade pessoal.
É hora de repensarmos a cultura do futebol e a lógica de propagação do ódio que domina as redes sociais. Crimes como ameaça, injúria e difamação não podem continuar sendo cometidos sob o pretexto da “paixão de torcedor”. Por trás de insultos e falas preconceituosas, pessoas sofrem caladas e deixam de procurar tratamento por medo do julgamento — a dor se agrava no silêncio.
A pausa de Tite é mais do que uma escolha pessoal — é um alerta coletivo. Ele pediu tempo e, com isso, nos deu um recado direto: não devemos continuar adoecendo em nome de um espetáculo que cobra mais do que qualquer ser humano pode dar.