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Nº 5868
Maré

O HUMOR COMO ESTILO DE VIDA

CONHEÇA RAFA JAQUEIRA, A HUMORISTA ALAGOANA QUE QUER PROVAR QUE É POSSÍVEL FALAR DE SAÚDE (E DE QUALQUER COISA) COM BOM-HUMOR

Por Maylson Honorato | Edição do dia 11/07/2020 - Matéria atualizada em 11/07/2020 às 02h39

Com seus vídeos circulando na internet, terapeuta ocupacional se destaca no Instagram
Com seus vídeos circulando na internet, terapeuta ocupacional se destaca no Instagram - Foto: Cortesia/Acervo pessoal
 

Ela acabou de completar 24 anos e prova diariamente que ser adulta não significa deixar de se divertir com a vida e até com os problemas do dia a dia. Rafa Jaqueira, terapeuta ocupacional alagoana com quase 11 mil seguidores no Instagram, usa a influência para pregar o humor como estilo de vida. Acredite ou não, a maceioense que carrega a bandeira do seu bairro, Chã da Jaqueira, no nome, chegou a fazer intervenções em ônibus coletivos, na tentativa de transformar a extenuante viagem em um momento alegre e que promovesse o bem-estar dos demais passageiros.


No “@rafajaqueira”, a influencer se apresenta como “Terapeuta Ocupacional e Humorista” e já adianta que ali o público não encontrará somente conteúdos relacionados à sua profissão na área da saúde, mas, sobre seu cotidiano, o cotidiano do bairro e do seu círculo familiar. A ideia é mostrar que, assim como as demais técnicas das quais a Terapia Ocupacional lança mão, o humor também é terapêutico.


“Eu sempre digo que eu nunca escolhi T.O [Terapia Ocupacional], foi a T.O que me escolheu. Parece coisa de louco, mas o curso nem passava pela minha cabeça. Só quando comecei o processo de inscrição foi que o nome ficou na minha cabeça, como se eu tivesse sendo chamada mesmo. E decidi cursar. Tenho certeza que essa profissão foi uma das melhores escolhas que fiz na vida”, conta Rafa.

 

Bem no dia do seu aniversário e entre muitas risadas, Rafa Jaqueira conversou com a Gazeta de Alagoas sobre a vida, pandemia, humor e Terapia Ocupacional. Confira.


Rafa, obrigado por nos receber. Vamos começar falando de humor, isso sempre esteve presente na tua vida?

Sim, sempre!  Aprendi desde cedo a levar no bom humor tudo de “ruim” que acontecia. Uso aspas na palavra ruim, pois acredito que se o “ruim” já aconteceu não vale mais a pena pensar só nele, deve-se tentar propor uma solução, porque o problema já está alí. Eu percebia que quando eu colocava uma pitada de humor em algo que tinha acontecido comigo, rapidamente conseguia encontrar uma solução, meu nível de ansiedade diminuía e eu conseguia levar numa boa. É até libertador, experimenta!


E como foi que você percebeu que o humor e a Terapia Ocupacional poderiam se encontrar?

Bem, tudo começou quando eu tive a ideia de fazer uma “festa e café da manhã” dentro do ônibus, pois eu percebia que no trajeto até a graduação, que não era curto, existia uma pessoa dentro do transporte público que estava passando por problemas. Era nítido que ela não estava bem, sempre com o humor abalado. Até que nesse café da manhã eu decidi utilizar o humor para tentar animá-la, pois eu não me sentia bem vendo ela triste. Comecei a contar histórias da minha vida, falar de situações que acontecem com todo mundo de uma maneira mais “divertida” e consegui tirar um sorriso do rosto dela. Quando chegou o ponto em que ela ia descer, ela olhou pra mim e falou “obrigada por isso”. Pronto.


Mas você tem medo de não ser levada a sério na sua profissão?

Para ser sincera, eu nunca tive medo. Existem profissionais que não utilizam do humor ou que sequer dão um riso durante os atendimentos e que, mesmo assim, não são levados a sério. Você pode falar facilmente de algo sério com humor, se torna até mais didático para a compreensão das pessoas. Rir é um remédio natural, que só traz benefícios, contagia e ainda é sem contraindicações. Vale ressaltar, que a sua atuação profissional vai muito além, então se você tiver conhecimento e dedicação, pode ter certeza que você será levado a sério.

 

E como seus colegas e professores da Uncisal reagiam à sua ideia de abordagem?

Então, hoje nem tanto, mas eu já fui criticada por uma quantidade mínima de professores, que diziam que o que eu fazia era falta de postura, inclusive pediram para que eu excluísse vídeos do meu instagram. Lembro como se fosse ontem do que uma professora me disse “o que os pacientes vão achar quando verem que a TO deles posta esses tipos de vídeos?”. Bom, fiquei reflexiva e houve um momento em que pensei realmente em apagar os vídeos, mas no dia que eu iria apagar, o que minha professora temia aconteceu: uma pessoa que realizava atendimentos na clínica entrou em contato via direct e falou que havia amado o que eu postava e que deu boas gargalhadas assistindo, coisa que naquele momento estava difícil, devido a condição dela. No dia seguinte, o que eu postava virou pauta durante um atendimento coletivo. E em nenhum momento os pacientes me trataram com desrespeito ou me consideraram menos ou mais profissional. Inclusive, alguns começaram a dar ideias para vídeos. E se tratando de amigos, eles sempre me apoiaram, pois cada profissional tem sua forma de abordar e a minha é utilizando uma linguagem de comunicação divertida.


Me fala sobre as suas intervenções hilárias nos ônibus?

As minhas “intervenções” não foram bem intervenções, no começo ocorreram de maneira espontânea, gostava de levar informação e dinâmicas, mas logo em seguida fui percebendo o quanto aquilo era necessário. Quando alguém em uma conversa informal falava que estava tendo dificuldades de memória, eu tentava planejar uma atividade para que no dia seguinte eu pudesse realizar uma “mini estimulação”. Nós da Terapia Ocupacional temos um raciocínio clínico-prático que é muito estimulado durante a graduação, conseguimos realizar planejamentos de atividades articulando diversas áreas e é isso que me encanta nessa profissão, a forma como nos adaptamos às situações. Eu tentava colocar em prática o que aprendia na graduação dentro do ônibus, acredito que eu estava fazendo algo importante, pois o transporte público é um local estressante, onde você enfrenta trânsito, superlotação... não é à toa que quando eu faltava muitos me mandavam mensagens “cadê você pra alegrar nosso dia?”, “o ônibus estava tão silencioso e chato sem você”.


E quais são os próximos passos, como você vê o futuro?

Costumamos falar do futuro como se estivéssemos usando um controle e essa pandemia nos mostrou que não temos controle algum. O futuro é um local composto por incertezas, não leve sua vida tão a sério, tenta viver um dia de cada vez, eu sei que estamos passando por um momento extremamente complicado e que mexe muito com o nosso psicológico, mas o humor é uma das formas de você lidar com qualquer angústia. Então, se for ter uma crise, que seja de riso.

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