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Nº 5868
Maré

SEM LIMITES PARA SONHAR

Julia Peixoto conta como transformou conteúdo no YouTube em um negócio: “Sempre sonhei muito alto, com coisas que a sociedade dizia que não eram para mim.”

Por DA EDITORIA DA REVISTA MARÉ - COM ASSESSORIA | Edição do dia 17/07/2021 - Matéria atualizada em 17/07/2021 às 04h00

“A sensação da favela, sai para quebrar fronteiras”, diz um trecho da música da Anitta. É a frase ideal para citar a presença de diversas figuras que saem das comunidades e periferias e constroem uma carreira admirável e notável. A carioca Julia Peixoto é um dos nomes que desponta no mercado, provando que é possível romper paradigmas impostos pela sociedade. Com apenas 21 anos, ela trilha um caminho no universo digital e agora alça voos mais altos ao tornar-se empreendedora.

Em 2015, iniciou sua carreira como influenciadora digital e foi além dos números impressionantes e dos milhares de fãs na internet, A adolescente começou gravando vídeos de automaquiagem, dicas de beleza e do cotidiano em seu próprio quarto, na comunidade onde morava, em Parada de Lucas. Atualmente, soma mais de 1,5 milhão de seguidores no Instagram e meio milhão de inscritos em seu canal no YouTube. Graças aos trabalhos na internet, ela firmou uma parceria com uma empresa de cosméticos.

Em entrevista exclusiva para a Gazeta de Alagoas, a influencer falou sobre o início de carreira, os novos projetos e fez reflexões. Confira na íntegra.

MARÉ. Qual o sentimento de saber que você saiu da comunidade e hoje é inspiração para outras meninas/mulheres de que é possível realizar seus sonhos?

JULIA PEIXOTO. É maravilhoso, sinto um orgulho imenso da minha trajetória e de ser da comunidade, de Parada de Lucas. Mesmo não morando lá mais, continua sendo minha casa e sempre vai fazer parte da minha vida. Quando volto pra lá, pra minha rua, visitar amigos e parentes, sempre recebo muito carinho de todos, principalmente das crianças. Elas olham pra mim com um sorriso lindo e às vezes eu me sinto como um espelho, porque elas podem conquistar muito mais se, assim como eu, acreditar nos próprios sonhos e persistir.

Para você, como é o peso da responsabilidade de levar o título de influenciadora?

Acho que em todos esses anos eu aprendi a lidar com isso. Tenho um compromisso comigo mesma de não divulgar ou contar coisas em que eu não acredite ou que não confie. O que para muitos é uma cobrança, como ter que falar a verdade sobre algum produto ou simplesmente negar algum que não se relacione com a minha proposta, para mim é natural. Muitas das vezes, as minhas decisões impactam o pessoal de uma forma que eu nunca poderia imaginar.

Foram anos de trabalho na internet até alcançar os números que podem ser vistos hoje. O que te motivou?

Sempre sonhei muito alto, com coisas que a sociedade dizia que não eram para mim. Isso foi uma das coisas que mais me deu gás para persistir. Não quer dizer que não tenha sofrido e nem que não sofra até hoje com as coisas ruins que falam sobre mim. Mas sim que o meu sonho é maior do que isso. Quando era mais nova, não imaginava que um dia estaria da forma como estou hoje. Para mim, a internet seria como uma renda extra. Inclusive, quando fiz o meu primeiro trabalho, o cachê era 50 reais e nem cheguei a ganhar. Levei um bolo do contratante (risos). Enfim, aos poucos fui entendendo o que a internet seria na minha vida e fui me motivando, querendo mais, trabalhando dias e noites seguidas para conquistar meu público. A sensação de construir um sonho é a minha principal motivação, eu acho, é uma sensação muito boa e que desejo para todo mundo.

Apesar da pouca idade você traz uma grande responsabilidade como empreendedora. Como lidar com essa responsabilidade?

A responsabilidade veio com força nos últimos anos e acredito que o principal meio para não pirar com ela é ter foco e compromisso com o trabalho. Entendi que os meus produtos precisam ser algo muito bom para o público, que não poderia ter erros e nem que prejudicasse alguém. Com isso na cabeça, continuei firme seguindo meu coração e trabalhando muito.

Empreender é difícil. E quando se coloca o contexto de ser mulher e da periferia, as dificuldades aumentam. Como foi esse processo?

Em alguns momentos, passei por episódios de preconceito, principalmente por ter nascido em comunidade, já que sempre deixo bem claro que saí da favela para o mundo. E aí, muitas pessoas acabam me julgando pela aparência, pelos meus gostos, tentando me limitar. Mas, de resto, a experiência foi muito boa. Não me deixei abalar por olhares atravessados ou por comentários maldosos. Tenho muito orgulho de ter crescido na favela e carrego comigo muitas histórias boas e um monte de aprendizados. Ser mulher em um mundo tão machista quanto o nosso é um desafio diário, mas não podemos nos deixar abalar. Sou essa pessoa forte, decidida, resiliente, porque aprendi vivendo e com pessoas que passaram por coisas semelhantes, que me mostraram que eu poderia conquistar o mundo também. Muitas outras mulheres vieram antes de nós para construir o que temos acesso hoje.

Como funciona a sua comunicação com seu público? Cuja grande maioria está na internet.

Como é muita gente, fica difícil responder todo mundo. A rotina corrida e os muitos compromissos me impedem de parar e falar com cada uma. Mas, estou sempre presente nos stories, no feed, compartilho enquetes, caixas de perguntas.. É uma forma de manter viva essa conexão, né.

Manda um recado para as outras mulheres/meninas que sonham com algo, mas que talvez estejam sem força para correr atrás.

Primeiro, olhem o tamanho desse mundo e o que ele tem para te oferecer. Independente do seu sonho, é preciso ter sede de viver e não ter medo das críticas e das respostas negativas, porque sempre vão existir. Precisamos confiar no nosso taco, aprender a ter força de vontade e começar aos pouquinhos para chegar no resultado. Se não tem ânimo, força, comece pela parte mais fácil e vá fazendo um pouco todo dia. Vai chegar um momento que o pouco será muito e aquilo vai te incentivar, porque, olha onde cheguei. Agarre as oportunidades de vocês e conquistem tudo o que quiserem.

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