MULHERES ALAGOANAS IGNORAM MACHISMO E INVADEM OS GAMES
A paixão pelos jogos fala mais alto e gamers encontram diferentes alternativas para driblar o preconceito dentro da área
Por Thauane Rodrigues* ESTAGIÁRIA | Edição do dia 19/02/2022 - Matéria atualizada em 19/02/2022 às 04h00
Quebrando paradigmas machistas que tentam impedir a presença feminina em diferentes espaços, aos poucos as mulheres vêm ocupando lugares que antes tinham um público majoritariamente masculino. É o caso do universo gamer, que, cada vez mais, é composto por mulheres de todas as idades. As alagoanas, claro, não ficam de fora.
Mesmo com o machismo enraizado na sociedade, as gamers seguem resistindo aos ataques e assédios. A Pesquisa Game Brasil de 2021 afirma que as mulheres são a maioria entre os jogadores, representando 51,5% do público.
De acordo com a gamer Lívia Tenório, o que não falta no universo gamer é machismo e a misoginia, fato que atrapalha a evolução do jogo e também a diversão.
“A comunidade gamer, infelizmente, é muito tóxica. Nos chats de jogos online você vê uma chuva de comentários racistas, homofóbicos e machistas, acaba sendo desagradável”, revela a jogadora.
“Alguns jogos te oferecem a opção de mutar os jogadores, então eu uso e abuso dessa função. E também como uso um nickname neutro nas partidas não dá pros outros jogadores saberem que estão jogando com uma mulher, acho mais cômodo assim”, diz ela.
A streamer alagoana Ana Beatriz Liberal, afirma que o assédio dificulta o crescimento feminino na área. “Os homens, geralmente, quando descobrem que estão jogando com alguma mulher mudam a postura, às vezes xingam, dão cantadas…”, conta Ana.
Mesmo com o machismo, para muitas mulheres a paixão pelo mundo gamer começou cedo, até mesmo na infância, e veio por meio da influência dos primos ou irmãos.
“Ia visitar meus primos e eles sempre estavam jogando no computador ou no PlayStation 2, foram eles que me apresentaram os games”, conta Lívia.
Ana Beatriz, durante a pandemia, encontrou nas lives uma forma de jogar e de se aproximar do namorado. Porém, mesmo jogando com a presença do namorado, ainda evita jogar com desconhecidos para não ter que lidar com comentários desagradáveis.
“Felizmente, as mulheres geralmente se apoiam e acolhem umas às outras, inclusive, criando projetos só para o público feminino, como por exemplo o da Sakura’s”, diz ela.
Mesmo com os desafios presentes nos jogos, a dificuldade de ter um equipamento que suporte os sistemas dos jogos e os compromissos da vida fora do mundo virtual, as gamers alagoanas utilizam dos momentos livres e dos finais de semana para jogar com mais tranquilidade. Para se organizar com os horários, a streamer Ana diz que usa aplicativos e cronogramas semanais.
GAMERS EM DADOS
Na oitava edição da Pesquisa Games Brasil, as mulheres aparecem como maioria pelo quinto ano consecutivo. Além disso, o estudo ajuda a desmistificar esse universo de jogos no país.
De acordo com a PGB, a maioria das mulheres utilizam os celulares para jogar. Já nos videogames e em computadores a situação se inverte: o público masculino é mais presente, com 61,9% dos jogadores para os consoles e 59,6% do público do PC.
Outro aspecto que se pôde verificar na pesquisa foi o de ascensão das pessoas de classes sociais baixas e médias (C1, C2, D e E) no público gamer. Elas agora representam quase metade dos consumidores de jogos no país (49,7%, na soma).
Além disso, a PGB mapeou a etnia dos jogadores brasileiros: quase metade do público se identificou como branca (46%), enquanto outra grande parcela se identificou como parda ou preta (50,3%, na soma).
Já em relação à idade dos gamers brasileiros, a maioria do público é adulta, com 22,5% possuindo entre 20 a 24 anos e 18,6% entre 24 e 29 anos. O público de 16 a 19 anos representa 10,3% dos respondentes, enquanto pessoas de 40 anos ou mais de idade constituem 18,9% dos gamers no País.
* Sob supervisão da editoria de Cidades.