Conheça Verinha, rainha dos sanduíches nas praias de Maceió há 33 anos
Ambulante criou duas filhas com a atividade. Hoje, Tracy e Maria Vitória a ajudam a planejar sonhos e empreender
Por Thauane Rodrigues | Edição do dia 22/03/2023 - Matéria atualizada em 22/03/2023 às 16h46
Autêntica, sorridente e apaixonada pelo que faz. De sol a sol, em cada ponta das praias maceioenses, a guerreira das areias, também conhecida como Vera Lúcia, ou simplesmente Verinha, deixa os dias de praia mais saborosos há 32 anos.
Mãe solo, ela encontrou nos sanduíches naturais uma forma de levar dinheiro para dentro de casa e criar suas duas maiores companheiras, as filhas Tracy e Maria Vitória. Com 58 anos, Verinha se orgulha ao dizer que já venceu os mais diversos obstáculos utilizando de sua garra, do sorriso no rosto e da vontade de fazer dar certo.
Cheia de fé em Deus e muita positividade, Verinha começou a vender nas praias após ouvir os conselhos de uma amiga. Depois de muito pensar sobre a ideia, a alagoana produziu 30 sanduíches e tentou a sorte, que estava totalmente a seu favor e fez com que os quitutes fossem vendidos rapidamente.
“Vendi tudo em meia hora, depois disso não parei mais. No início, a ideia dos sanduíches era algo temporário, mas a cada dia fui fazendo mais, crescendo mais e, desde então, não parei. Consegui realizar o sonho de ter um quiosque, mas minha raiz estava na praia, não consegui sair de lá”, contou ela.
Sempre com seu lema de “fazer um dia ser bom”, Verinha não se deixa abalar nem nos dias chuvosos e de pouco movimento na beira do mar. De acordo com ela, o que não pode acontecer é a previsão do tempo deixar seu dia negativo.
“As vezes chego na praia e os outros vendedores já dizem que o movimento está fraco e eu digo logo que vai melhorar a partir do momento que eu pisar na areia. Quando, de fato, o dia não rende tanto, até penso em ligar para as meninas e contar, mas evito para não puxar essa energia negativa”, revelou.
Pioneira em muitos pontos, Verinha lançou a ideia de utilizar uniforme nos dias de labuta, deixando como marca registrada sua camisa, o chapéu, batom vermelho e brincos grandes. Além disso, ela também foi a primeira a levar um cardápio com os sabores dos sanduíches escritos em três idiomas.
“NÃO TEM NINGUÉM MAIS FELIZ QUE EU”
Se considerando uma pessoa de sorte, a empreendedora revela que todos os seus pedidos por “uma luz” feitos nos momentos de aperto sempre foram atendidos e, mesmo com todas as dificuldades, para levar dinheiro para casa, fez e faz o possível e o impossível pelas filhas.
Verinha recorda de um janeiro chuvoso, em que o dinheiro ficou curto e matricular uma das filhas na escola foi seu maior desafio do mês. Com sorriso no rosto e fé de que tudo daria certo, a guerreira das areias foi até um colégio próximo de onde morava e conversou abertamente com o dono do local, que prontamente atendeu a comerciante. Verinha passou a ser mãe de aluna e fornecedora de lanches para o colégio.
Orgulhosa da mulher que é, Verinha conta que não mudaria absolutamente nada de sua história e reflete que é rica nas coisas boas da vida, afinal, nem tudo se resume a bens materiais.
“A vida não é só feita de bens materiais, é feita de amizades, dos encontros do dia a dia, e eu me sinto feliz por fazer parte da vida de tanta gente. Nesses 32 anos, meu sanduíche já fez parte de casamentos, tem casos de 4 gerações de famílias que são meus clientes, isso me deixa realizada. Existem pessoas mais ricas, cheias de bens materiais, mas não tem ninguém mais feliz que eu. Eu amo meu trabalho!”.
A CASA DAS TRÊS MULHERES
Sendo o maior orgulho e exemplo para as filhas Tracy e Maria Vitória, Verinha vibra com cada passo conquistado dentro da casa das três mulheres. Sempre sonhando alto e lutando para fazer acontecer, a garra e determinação da mãe são a maior herança delas.
Com 29 e 22 anos, as filhas de Verinha sempre buscaram ajudar a mãe e compartilhar com ela os desafios. Elas cresceram vendo a luta diária da mãe, com os altos e baixos do empreendimento da autônoma e até desenvolveram uma relação afetuosa com o isopor que a mãe carrega para lá e para cá.
“Passamos muitas dificuldades juntas para poder chegar até aqui, trabalhando de dia para comer à noite. São 32 anos de praia, lembro de momentos da infância que enquanto todo mundo comemorava quando chovia, eu lamentava porque, para mim, era sinônimo de que na minha casa não teria alguma coisa”, disse Tracy.
Mesmo com as filhas trabalhando, o sanduíche natural segue sendo a força da casa de Verinha, Tracy e Maria Vitória. De acordo com elas, o sanduíche é o pai das meninas e o isopor é seu marido.
REINVENÇÃO
Durante a pandemia, a casa das três mulheres precisou se reinventar para continuar fazendo renda com os já tradicionais sanduíches naturais. O momento de reclusão social foi necessário para fazer com as filhas assumissem algumas responsabilidades e, unindo forças, elas passaram a dividir tarefas e pensar em novos passos para o empreendimento.
“Foi o momento em que paramos e começamos a fazer o sanduíche avançar para ir além das praias. Agora, ela consegue perceber que não precisa se angustiar com um dia chuvoso, pois alguém pode pedir o sanduíche e ele ser entregue. Inovamos a marca e até ela mesma, foi um momento também de mostrar para ela o valor dela”, contou Tracy.
“Dividir por três sempre é melhor. Nós somos um tripé, minha mãe já tem 58 anos e não precisa mais viver uma rotina de uma barra tão pesada, ela nunca deixou faltar nada e hoje nós nos sentimos vitoriosas. Ela é nosso maior orgulho!”, disse Vitória.
Felizes por cada passo dado juntas, Verinha, Tracy e Maria Vitória hoje comemoram os sonhos que já realizaram. O mais recente foi a ida para o Rio de Janeiro, onde a guerreira das areias conheceu o Cristo Redentor e fez sua primeira viagem em família.
Com as filhas encaminhadas, com outras rendas e com a possibilidade de vender seus amados sanduíches dentro de casa, Verinha afirma que não deixará as areias, pois não existe Verinha sem praia.
“Eu amo minha vida, amo meu trabalho, essa foi minha escolha e eu não mudaria nada da minha vida. Não existe Verinha sem praia, sem sol, sem sorriso”, afirmou Verinha.
*Sob supervisão da editoria da revista Maré