Igreja erguida em uma pedra chama a atenção de romeiros e de turistas

Entre os encantos sertanejos de uma Alagoas profunda e diversa, há uma igrejinha construída no alto de uma pedra, no município de Dois Riachos, que chama a atenção de quem passa naquelas bandas. Erguida há 70 anos pelo devoto José Antônio de Lima, ou José Luiz, como também era conhecido, a capelinha dedicada ao Padre Cícero é um retrato da fé e da criatividade do povo nordestino.

Filho do fundador da igrejinha, o comerciante riachense Cícero de Lima relata que a rocha granítica tinha um pico e parecia ser impossível que algo pudesse ser construído ali. Mas não há limites para quem tem fé, garante.

“Meu pai era um homem de muita fé, como nós todos somos até hoje. Ia ao Juazeiro direto”, conta Cícero.

À época, José Luiz passou por um problema de saúde e pediu uma graça a Padre Cícero Romão. Teve o ânimo restabelecido e ainda recebeu um sinal de que já era a hora de levantar o templo. “Meu pai fez uma promessa e disse que se ele botasse um fogo em cima e o bico caísse, ele faria uma igreja. Ele botou, aí a rocha rachou”, detalha Cícero.

Construída em 1953, a igreja é um ponto de encontro dos romeiros mais devotos, que costumam pagar promessas na escadaria da capelinha, subindo os degraus de joelho e deixando flores e fotografias no interior do local.

Indo além do turismo religioso, a igrejinha atrai também curiosos que passam por ali. Eles costumam ficar impressionados com a inventividade da construção e a vista panorâmica do alto da pedra, que tem cerca de oito metros de altura.

“É muita gente. Todo dia passa gente, para carro, quarenta, cinquenta carros param. As pessoas visitam, fazem suas orações, tiram fotos”, conta Cícero.

O pico da pedra gigante, derrubado para a construção da igreja, continua cravado atrás do pequeno morro. A brecha formada entre a lasca e a rocha tem um significado peculiar para os romeiros: segundo a crença popular, somente quem não tem pecados passa pelo espaço, que tem pouco mais de um palmo. “Aí é o que o povo diz, né? É a fé do pessoal aqui”, comenta Cícero.

Cícero de Lima é filho único e cresceu ouvindo da mãe as histórias que cercam a igreja. Após a morte do pai, era ela quem cuidava do local, com o esmero de quem zela por um lugar sagrado. A matriarca também faleceu, há 7 meses, e agora cabe a Cícero manter a história viva e cuidar da igrejinha. Tanto o pai quanto a mãe dele estão sepultados lá.

A devoção da família, de geração em geração, é admirada pela comunidade local. No dia 20 de julho de cada ano, uma grande celebração religiosa ocorre em volta da igrejinha, em adoração a Padre Cícero. A festa reúne mais de 8 mil pessoas.

“Eu sigo com o que o meu começou. Tenho muita fé em Padre Cícero também, tenho muito apreço pelo que a igreja significa para ele, para minha mãe e agora para mim e para a minha família”, diz Cícero.