No Dia Mundial do Orgasmo, alagoanas falam sobre prazer feminino
Vivendo com muito prazer, mulheres aproveitam o dia para falar sobre prazer e autoconhecimento
Por Thauane Rodrigues* | Edição do dia 29/07/2023 - Matéria atualizada em 29/07/2023 às 06h03
Sem tabu, sem vergonha, com muito prazer. É dessa forma que o Dia Mundial do Orgasmo, celebrado em 31 de julho, deve ser celebrado. Ainda desconhecida por alguns, mas uma grande prioridade para outros, viver a experiência do ápice do prazer, além de proporcionar um novo misto de sensações pode também possibilitar a chegada de benefícios para a saúde, como a melhoria do sono, fortalecimento da imunidade, redução do estresse, alívio de dores, prevenção da osteoporose e até mesmo proteção contra doenças cardiovasculares.
A data que comemora o Dia Mundial do Orgasmo foi criada em 1999 pelos britânicos, visando aumentar o número de vendas de algumas lojas de produtos sensuais, porém, nos dias atuais, tem como grande objetivo promover debates sobre as dificuldades que muitas pessoas ainda sentem em atingir o orgasmo, para assim incentivá-las a buscar ajuda profissional.
Uma pesquisa realizada em 2017 pelo Departamento de Transtornos Sexuais Dolorosos Femininos da Universidade de São Paulo (USP), aponta que 55% das brasileiras não tem orgasmos nas relações sexuais. Com diferentes justificativas, 67% delas revelam que têm dificuldade para se excitar e 59,7% sentem dor na relação. Já outro estudo feito pelo Archives of Sexual Behaviors em 2019, 60% das mulheres, em relacionamentos heterossexuais, fingem orgasmo.
De acordo com a sexóloga Mel Falcão, a falta do autoconhecimento e da educação sexual são grandes responsáveis pelo não descobrimento do orgasmo, principalmente vindo de mulheres. Para a especialista, o fato diz muito sobre a sociedade, da repressão sexual imposta às mulheres e sobre a funcionalidade dos corpos, pois o corpo feminino tem muito mais potencial para orgasmos do que o masculino.
“Conhecer o próprio corpo é fundamental para conseguir um orgasmo pela primeira vez, inclusive, não precisa estar acompanhado, e se tem parceiro é bom mostrar como sente mais o prazer, qual o melhor estímulo. Estima-se que 30% delas nunca chegaram ao orgasmo e mais de 50% da população feminina (cis) tem dificuldade de atingir o clímax. Essa dificuldade já é rara entre os homens”, disse ela.
A VIDA SEXUAL DAS ALAGOANAS
Além disso, questões sociais, culturais, hábitos alimentares ruins, vida sedentária, estresse da vida moderna, traumas, falta de experiência sexual, cobranças por parte do parceiro e falta de conhecimento sobre sexualidade também são inimigos do orgasmo. Porém, se não existe nenhum desses problemas e existe dificuldade de atingir o orgasmo, é indicado buscar ajuda médica de um urologista ou ginecologista e, após isso, um sexólogo, para investigar a causa e conduzir o processo de aprendizagem do prazer.
A alagoana identificada apenas como Liana conta que demorou a encontrar um parceiro que se dispusesse a entender seu corpo e lhe fizesse chegar “lá”.
“Alguns homens não têm essa preocupação e, na verdade, foram educados a não se importar com o prazer das mulheres. Pensam só na performance, muitas vezes baseando-se em pornografia. No final, é horrível. E muitas mulheres precisam fingir”, relata.
“Eu demorei alguns parceiros pra sentir prazer de verdade. Só depois de mais velha é que vim me preocupar comigo mesma e dizer, basta, quero sentir prazer. Se não vai me levar ao orgasmo, nem venha. Tem brinquedinhos pra isso. Tenho 36 anos, não preciso mais ter vergonha disso, né?”, revela.
Apesar de Liana já não ter mais problemas em relação ao próprio prazer, há mulheres que têm dificuldades em chegar no orgasmo.
“Existe uma disfunção sexual que chamamos de anorgasmia, que é a inibição recorrente ou persistente do orgasmo, quando não se consegue atingir o ápice do prazer ou parar de conseguir. É muito mais comum entre as mulheres e tem como principal causa fatores psicológicos, porém também pode ter causas físicas, felizmente é um caso que tem tratamento”, explica Mel Falcão.
Com a repressão histórica do corpo feminino, aos poucos o cenário vem mudando e muitas mulheres têm quebrado tabus sociais e descoberto formas para atingir o prazer feminino.
Segundo a especialista, cada vez mais mulheres têm buscado conhecer o próprio corpo, explorar o próprio prazer e tudo isso sem culpa ou medo de ser julgada. “Até outro dia, as mulheres buscavam comprar artigos sensuais apenas para agradar o homem, hoje tá mudando. Tenho muitas pacientes felizes da vida com a descoberta do próprio prazer”.
Para a sexóloga, um dos caminhos mais indicados para promover ainda mais a descoberta do orgasmo é a educação sexual, pois dessa forma será possível oferecer condições para que as pessoas conheçam seus corpos, aprendam a respeitar o próximo e até mesmo prevenir abusos.
“Somos seres únicos e cada pessoa tem a sua forma particular de sentir prazer. Vale lembrar que o sexo é um momento de entrega e quanto mais a pessoa estiver relaxada, mais fácil será. Estar disposto a testar brinquedos sexuais, novas experiências, também ajudam no sucesso do objetivo de atingir o orgasmo. Com a educação sexual, poderemos ter adultos vivenciando o sexo com prazer e saúde, adolescentes conscientes, não iniciando precocemente a vida sexual, uma infância com menos vítimas de abusos e estupros, e muito mais”, finalizou.
*Sob supervisão da editoria da Revista Maré