FAO quer saber quantos passam fome no Brasil
Campinas (SP) Se o Brasil não souber qual é o número de pessoas que passam fome no País será difícil solucionar esse problema. Essa é a opinião do representante da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), José Tubino. El
Por | Edição do dia 03/04/2002 - Matéria atualizada em 03/04/2002 às 00h00
Campinas (SP) Se o Brasil não souber qual é o número de pessoas que passam fome no País será difícil solucionar esse problema. Essa é a opinião do representante da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), José Tubino. Ele participou do Seminário Internacional de Políticas de Segurança Alimentar, Combate à Fome e à Pobreza Rural, que começou ontem na Universidade Estadual de Campinas. Sem essa informação é complicado planejar as ações, diz Tubino, lembrando que as estimativas variam de 22 milhões a 55 milhões de famintos no Brasil. O problema da fome no País pode ser classificado como médio, avalia a FAO. Em números absolutos, a Ásia está muito pior. A África também está pior em termos relativos. Mas é preciso reforçar as políticas de combate à fome na região, diz o representante para a América Latina e o Caribe da FAO, Gustavo Anda. A avaliação de Anda e de outros especialistas presentes ao seminário é de que o combate à fome depende de um conjunto de ações. Não basta, em resumo, distribuir alimentos ou se limitar aos chamados programas compensatórios, que distribuem recursos para famílias mediante determinadas condições. Também é necessário combater o desemprego e estimular o desenvolvimento, diz Walter Belik, economista da Unicamp e um dos coordenadores do projeto Fome Zero. Estudos da equipe do projeto - lançado no ano passado com o objetivo de propor estratégias para erradicar a fome no Brasil - mostram que aumentou o nível de pobreza e de vulnerabilidade à fome entre 1995 e 1999. De acordo com a metodologia criada pelos estudiosos, ficou estabelecido que está abaixo da linha de pobreza quem ganha até R$ 68,48 por mês, o que daria um total de 44 milhões de pessoas passando fome no Brasil. Grandes cidades Por essa metodologia, de 1995 a 1999, a taxa de crescimento anual do número de pobres foi de 5%. O economista Belik acrescenta que o crescimento se concentra nos centros urbanos (onde há mais desemprego) e não nas regiões mais pobres, como o Nordeste. Entre as idéias defendidas pelo projeto Fome Zero está a distribuição de recursos às famílias necessitadas. Um exemplo é o programa adotado pelo governo de Goiás, que distribui todos os meses R$ 36,00 a 138 mil famílias pobres. O dinheiro é depositado na conta do beneficiado, que tem um cartão para sacá-lo. O beneficiário deve apresentar a nota fiscal de compra de alimentos. Conselhos municipais fazem a fiscalização do programa. O Bolsa-Alimentação, criado pelo governo federal em setembro, segue uma linha semelhante e distribui entre R$ 15,00 e R$ 45,00 a 62 mil famílias em 600 municípios.