O sistema eleitoral
JOSÉ MEDEIROS * Escolhi, como título desta crônica, O sistema eleitoral, embora, na prática, seja um comentário despretensioso, que bem mais merecia a denominação reclamações e sugestões na fila de espera da cabina eleitoral. É humano reclamar da dem
Por | Edição do dia 17/10/2002 - Matéria atualizada em 17/10/2002 às 00h00
JOSÉ MEDEIROS * Escolhi, como título desta crônica, O sistema eleitoral, embora, na prática, seja um comentário despretensioso, que bem mais merecia a denominação reclamações e sugestões na fila de espera da cabina eleitoral. É humano reclamar da demora excessiva, do calor e de certo desconforto nos locais de votação; mas a maioria não arredou pé, aguardou o momento de cumprir o dever cívico, um momento especial de nossas vidas. Quem se lembra um pouco do passado dos longos anos de ausência desse direito de escolha valoriza a liberdade de poder influir nos rumos que deseja para seu Estado e seu País. Como disse meu vizinho de fila eleitoral: Pelo voto, a gente diz o que quer, e, principalmente, o que não quer. Em artigo publicado antes da eleição num jornal de circulação nacional, a articulista Verônica Mautemar mostrou um quadro de desesperança e frustração sobre o processo eleitoral. Vejamos o que diz: Vejo hoje pessoas caminhando sem sorriso, sem fé e sem esperança, rumo a uma máquina para apertar 25 vezes os botões, para maior transparência da chegada dos resultados. Essa máquina, que poderia ser metáfora de esperança, virou uma chata. Votamos no mais realista? Naquele que, através de sua total transparência, nos entendia menos?. Uma opinião discutível. Na fila da votação, convivi com gente animada, que reclamava e discutia, com a característica bem brasileira de persistir, insistir e não desistir. Alguns demonstraram desesperança ou falta de fé. Há, entretanto, aspectos que merecem ser discutidos em relação ao pleito e seu desempenho: 340 mil alagoanos deixaram de votar, índice alto de abstenção; muitos abandonaram as filas por cansaço, enfado ou fome. A lentidão foi enervante. Foram discutidos ao longo dessas horas de espera: os absurdos do quociente eleitoral, voto obrigatório e facultativo, concentração excessiva de eleitores num mesmo local e número exagerado de escolhas (seis) no processo de votação. O que fazer com os que demoravam 5,6 ou 10 minutos na cabina eleitoral? O eleitor que nos precedeu esteve na urna eletrônica durante 6 minutos. Uma pessoa, ao meu lado, sugeriu ao mesário: Mande votar na tecla branca e confirmar, outra vez na branca e confirmar, até a conclusão, senão esse cara vai almoçar e jantar aí mesmo. Ficou evidente a necessidade da revisão de uma série de pontos negativos que dificultaram o processo eleitoral. O País mostrou ao mundo mais de 115 milhões de eleitores, um sistema eficaz de urnas eletrônicas de controle informatizado. Ninguém deseja retroceder ao voto-papel, voto-cédula, voto-formiguinha ou voto-carbono. No mais, a canela cansada de muita gente que necessitou, à noite, de água quente, de miorrelaxante ou, como se diz no interior, de sebo de carneiro para passar nas batatas das pernas, ótimo no poder de relaxamento, de melhoria do tônus muscular. (*) É MÉDICO E EX-SECRETÁRIO DE EDUCAÇÃO E DE SAÚDE