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Nº 5882
Opinião

NON DIMITTITUR PECCATUM NISI RESTITUATUR ABLATUM

O recente noticiário político deixou perplexos os alagoanos. Não imaginávamos que fatos tão vergonhosos por nós já vivenciados se repetiriam tão cedo. Como é possível que alguns poucos se julguem acima dos demais, pensem que somos um zero à esquerda e pa

Por | Edição do dia 06/11/2013 - Matéria atualizada em 06/11/2013 às 00h00

O recente noticiário político deixou perplexos os alagoanos. Não imaginávamos que fatos tão vergonhosos por nós já vivenciados se repetiriam tão cedo. Como é possível que alguns poucos se julguem acima dos demais, pensem que somos um zero à esquerda e passem a se apossar do dinheiro público como se privado fosse? Sei que o sistema é falho, porém acredito na ética e na moralidade públicas. Para mim, não importa se você nasceu em berço de ouro nem o lustro ou a educação que você tente passar. O que importa é o caráter e, infelizmente, o caráter de alguns só é revelado no momento em que imaginam deter o poder absoluto. Tenham formação superior ou não, o que importa é o dinheiro, venha de onde vier e como vier. Para esse tipo de gente, a república não existe e se imaginam como se fossem barões vivendo à época do reinado de Luiz XIV. Esquecem ou não sabem o que aconteceu na revolução francesa e surrupiam, enganam, tripudiam, trapaceiam e, ao final e ao cabo, se imaginam senhores de nossos destinos. Mal sabem que um dos seus os enganou e terminou por se apossar da maior parte do butim. Sim, butim, pois agem como se piratas fossem. Terá ele cem anos de perdão? Não se trata somente de analfabetismo político, pois, a julgar pelo montante de dinheiro que seria destinado a uma biblioteca inexistente, estamos diante do mais puro analfabetismo funcional. No Sermão do Bom Ladrão, o padre Antônio Vieira citou Santo Agostinho com a frase que dá título a este artigo e que, traduzido, diz que a salvação não ocorre sem o perdão do pecado e não se perdoa o pecado sem se restituir o roubado. Este seria o caminho aos que se apoderaram do nosso dinheiro utilizando-se de inocentes úteis e outros nem tão inocentes que cederam seus CPFs para figurarem como integrantes de uma Assembleia que, positivamente, não é a de Deus. Pois é, Nietzsche tinha razão quando afirmou que é mais fácil lidar com uma má consciência do que com uma má reputação. Ela desnuda, mostra a verdadeira face e torna os homens minúsculos quando exposta, e foi exatamente isso o que aconteceu. Faltou-lhes a pureza d’alma que Fernando Pessoa tão bem expressou no poema Mar Português: “Valeu a pena? Tudo vale a pena se a alma não é pequena. Quem quer passar além do Bojador tem de passar além da dor”. Almas pequenas, pois, que Deus tenha piedade de todas elas, pois irão precisar.

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