O Censo
HUMBERTO MARTINS * A opinião pública precisa se debruçar, com mais atenção, sobre os números do Censo 2000, divulgados há cerca de dois meses. Condição essencial para se poder melhorar a qualidade de vida da população de um país é a existência de estatís
Por | Edição do dia 12/03/2002 - Matéria atualizada em 12/03/2002 às 00h00
HUMBERTO MARTINS * A opinião pública precisa se debruçar, com mais atenção, sobre os números do Censo 2000, divulgados há cerca de dois meses. Condição essencial para se poder melhorar a qualidade de vida da população de um país é a existência de estatísticas corretas e atualizadas. Nesse ponto, salvo engano, o Brasil está bem servido. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) dá permanente colaboração aos poderes públicos e à iniciativa privada para refletir a realidade do País. Embora com recursos limitados, melhora progressivamente o nível do serviço que presta aos governos e à coletividade. O País tinha, em agosto do ano passado, 169.799.170 habitantes, número computado oficialmente como resultado do censo 2000. Não se pode mais responsabilizar uma suposta explosão demográfica aumento descontrolado da população pelas gravíssimas questões sociais que permanecem. O número de habitantes, se comparado com as dimensões do território brasileiro, ínfimo, a ponto de poder significar, a médio prazo, ameaças à soberania nacional. Como manter um tão grande território com regiões praticamente desabitadas? O Censo 2000, de cujos resultados a sociedade vai, por etapas, tomando conhecimento, revela basicamente que o Brasil progrediu no ano passado, mas manteve intocadas as graves deformações sociais que o atormentam. Os brasileiros são em média, ainda, muito jovens, pois a metade da população tem idade de até 24,2 anos. Em 20 anos teve um aumento na chamada idade mediana, de cinco anos. Para se ter uma idéia do que isso representa, mencione-se que a idade mediana da população alemã é de 40 anos, a da China de 30 e a Bolívia de 20 anos. O continente africano tem uma idade mediana de 18 anos. Embora tenha ocorrido, nos últimos anos, um aumento razoável da renda das pessoas, esses números são ainda insignificantes. Vinte e dois milhões de chefes de família (agora denominados responsáveis por domicílio) viveram em 2001 com R$ 350 por mês. Atribuindo-se a cada um deles quatro dependentes, pode-se ter uma visão de como vive a metade da população do País. A diferença entre o padrão de vida dos que moram nas cidades e nos campos, entretanto, diminuiu, o que não impede que os habitantes das zonas rurais sejam, em média, mais pobres. Duas conclusões do Censo 2000 são provavelmente as mais importantes: acentuou-se a elevação de renda de uma ínfima minoria de brasileiros e, conseqüentemente, aumentou muito pouco a renda da parcela mais desfavorecida; as regiões Sul e Sudeste continuam como as mais privilegiadas, as regiões Norte e Centro Oeste têm um padrão de vida intermediário e o Nordeste é a mais miserável das áreas brasileiras. Isso reflete o fracasso das políticas postas em prática nos últimos anos, no Nordeste, para corrigir as desigualdades regionais, inclusive da extinta Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene). Algumas conclusões que merecem ser anotadas: aumentou o número de mulheres chefes-de-família, diminuiu o número de pessoas por domicílio e aumentou a média de anos de estudo. No Brasil, nascem mais homens do que mulheres, mas os índices de mortes, a partir dos 20 anos, de pessoas do sexo masculino, fazem com que as mulheres passem a ser mais numerosas. Quem ler habitualmente jornais e revistas está informado dos números do Censo 2000. Mas é aconselhável que outras parcelas da população conheçam esses números em detalhes. Por exemplo: que os professores levem esses números às salas de aula. As novas gerações precisam saber, minuciosamente, detalhes sas razões que fazem com que um país grande e potencialmente rico continue com alguns dos piores índices sociais do mundo. Pelo Censo 2000, o Brasil necessita, com urgência, erradicar a pobreza e a marginalização, objetivando, assim, reduzir as desigualdades. Inexiste dignidade humana, sem a construção de uma sociedade livre, justa e solidária. No Brasil, o Nordeste, ainda, é um exemplo de discriminação, se comparando com outras regiões. (*) ADVOGADO