Ternurinha
RONALD MENDONÇA * Não sei se para justificar o massacre americano, mas com a invasão do Iraque a mídia insistiu à exaustão em divulgar o modus vivendi dos agora sumidos Saddam Hussein & cia., expondo, sobretudo, suas faces mais cruéis. Interessante é que
Por | Edição do dia 26/04/2003 - Matéria atualizada em 26/04/2003 às 00h00
RONALD MENDONÇA * Não sei se para justificar o massacre americano, mas com a invasão do Iraque a mídia insistiu à exaustão em divulgar o modus vivendi dos agora sumidos Saddam Hussein & cia., expondo, sobretudo, suas faces mais cruéis. Interessante é que num dado momento da refrega por conta da antipatia pelos americanos apesar de tudo, quase se chegou a redimi-los. O fato é que Hussein, com aquele currículo, é destaque no desfile nada lisonjeiro dos grandes criminosos da humanidade, ao lado de figuras como Stalin, Hitler, Idi Amin, Pinochet, Mao e outras menos expressivas. O estranho é o Bush Júnior ficar de fora. Freqüentador assíduo desse museu macabro, até que, ultimamente, por conta de um certo recato, Fidel Castro vinha sendo poupado. Mas, como quem foi nunca perde o jeito, o caribenho resolveu despir-se da camuflagem do bom velhinho e partiu para um déjà vu nostálgico a algum lugar do passado. Frei Betto, misto de capelão do Planalto e conselheiro informal de Castro, segundo autoproclamação, deve estar tonto depois que o velho azeitou os fuzis e detonou a oposição com cadeia e paredón na realidade o que sobrou de extermínios anteriores. Com isso, o ditador readquiriu a vaga no panteão dos sanguinários e, ao que parece, não está nem aí. Reprovados por boa parte da opinião pública mundial, os recentes destemperos do cubano apenas ratificam sua ótima forma mental e a obsessão pela utópica unanimidade insular. Os três fuzilados, é bom que se diga, tinham tentado escapar da gaiola seqüestrando uma embarcação. Como sabem, Castro odeia fujões. Se as penas aplicadas mereceram o repúdio até de quem fingia não ver os equívocos do castrismo - como foi o caso do escritor português José Saramago - a imensa maioria da esquerda brasileira e o próprio governo Lula, em louvável atitude, evitaram comentários públicos que pudessem magoar o guru. Pobres homens no dia em que desaparecerem amizade, gratidão e fidelidade! Pensem, por exemplo, na situação atual de ACM, se ele não tiver sabido também cativar boas amizades ao longo da sua ruidosa vida pública. Por que então recriminar a quarentena dos socialistas brasileiros ? Moções de repúdio ou de desagravo à parte, uma das grandes lições disso tudo é que enquanto Fidel Castro põe ordem na casa sem perder a ternura, aqui, com a violência fora de controle, filosofa-se sobre direitos humanos (dos criminosos) sem que se saiba o que fazer com bandidos de verdade. (* ) MÉDICO E PROFESSOR DA UFAL