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Nº 5882
Opinião

Alegria de carnaval

Escutei, recentemente, de pessoa amiga, as agruras vividas por seu tio, já de idade avançada, sem filhos, viúvo muito cedo e que acabara de falecer. Como empresário conseguiu amealhar bom patrimônio, lhe rendendo confortáveis dividendos para bem viver em

Por | Edição do dia 02/03/2019 - Matéria atualizada em 02/03/2019 às 00h00

Escutei, recentemente, de pessoa amiga, as agruras vividas por seu tio, já de idade avançada, sem filhos, viúvo muito cedo e que acabara de falecer. Como empresário conseguiu amealhar bom patrimônio, lhe rendendo confortáveis dividendos para bem viver em sua cidade, onde, apesar de ser respeitado por haver exercido inúmeros cargos públicos, alguns deles eletivos, não possui amigos, resquícios certamente de uma etapa da juventude considerando-se todo poderoso. Em breve viveremos mais um carnaval... época de muita euforia, mas a escola de samba vencedora, o será se não cometer erros, seguindo a regra básica da avenida: “a harmonia vem da evolução, não das alegorias”. Quando as eras passam e as rugas aparecem, mesmo existindo dinheiro, roupas bonitas e perfumes caros, não adianta se arrepender de, no passado, haver rodado a baiana, porque mesmo nos dias presentes, tentando evitar tal atitude, todos lembrarão de lá atrás haver atravessado na avenida. Também conheço fulanos e beltranos, em determinada fase existencial, se supondo eternos, mas com o passar dos anos, quando começam a experimentar a solidão característica dos longevos, tentando consertar, com palavras doces, grosserias cometidas no ontem. Ao contrário do imaginado, busco entender, mesmo não aceitando como paradigma, o comportamento dos desrespeitosos para com o próximo, em contrapartida valorizando estranhos, passantes da vida como as nuvens percorrem o céu. Na época pujante dos bigodes sem pintura, nem ao menos imaginavam ser a vida como o carnaval, onde o júbilo termina em cinzas. Tudo isto é verdade, porque quando as criaturas não souberam ser boas durante a vida produtiva, restarão cobertas de pó, amarrotadas emocionalmente e o pior com a consciência pesada. O contentamento do carnaval é tão passageiro, quanto a felicidade existencial também o é. Quem não plantou gentilezas, nunca haverá de colhê-las de seus camaradas restando, lá no fundo, um vazio, falta de paz e um coração aflito. O inconveniente, é quando os indivíduos que nunca hesitaram em pisar seus parceiros, tentam esquecer os atos praticados em fases anteriores. Estes para mim se comportam como o período do Rei Momo: “depois de longo afastamento, chega, se aloja por três dias, e vai embora, para voltar doze meses depois, bem animadinho, querendo que todos caiam na folia, alienando-se dos problemas da vida”. E o restante dos tempos, como fica? Serão os cabelos brancos a liberdade condicional sonhada para os pecados cometidos? Considero certo ser uma vida bem vivida a que guarda a expectativa de outros carnavais. Assim como o sorriso é alegria, a falta dele pode se transformar em agonia e isolamento.

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