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Por | Edição do dia 13/05/2003 - Matéria atualizada em 13/05/2003 às 00h00
DOM FERNANDO IÓRIO * Essa última Semana Santa me deixou a refletir sobre uma das mais belas e famosas obras de arte, de inspiração cristã. Seu festejado autor é Michelângelo Buonarroti que a esculpiu a pedido do Cardeal de San Dionigi, como presente à Basílica de São Pedro, para ser a mais bela obra a existir em Roma vez que nenhum mestre fará hoje melhor. Deslumbrei-me ao vê-la quando, em 1968, estive em Roma, pela vez primeira. Não era para menos. Belíssima e eternamente jovem. Rosto transmitindo dor e suavidade. O mármore de Carrara fala-nos, transmite-nos aquela mensagem de amor inde-finível nas mãos do artista. No colo, como se guardasse a fortaleza de descomunal gigante, o corpo exangue de seu Filho, Jesus. A mão direita O sustém pelos ombros, forte e docemente, como só aquela extraordinária mãe poderia amparar. O corpo sem vida espalha, em cada milésimo de sua expressão, esplêndida harmonia, como se fora um dizer ritmado. O regaço da linda Senhora é imenso e largo, à disposição de outros filhos que tenham, porventura, necessidade de descanso, de remanso. Com as dobras do lençol confundem-se os movimentos do vestido, artisticamente, esculpido, caindo sobre o colo de Maria. Tudo é extraordinariamente calculado, artisticamente mensurado e religiosamente esculpido. É a famosa Pietá Senhora da Piedade que em, mais ou menos, dois anos Michelângelo esculpiu no mármore de Carrara. Maravilha da Arte Clássica do Renascimento. Unidos estão de tal maneira a Mãe dolorosa e Corpo do Filho descido da Cruz, que não se pode imaginar um sem o outro. São dores e amores que não se podem separar. Em setembro de 2002, quando da minha permanência, em Visita ad Limina, trouxe para cada sacerdote da Diocese de Palmeira dos Índios uma pequenina Pietá, esperando que meus sacerdotes e alguns amigos, entre inúmeros que possuo, descobrissem o indizível e o inefável que, ainda, não desvendei na obra transcendental de Michelângelo. Não pode dizer que ama a humanidade o artista que é prisioneiro de si mesmo, de seu orgulho, de suas posses, de sua arte. (*) É BISPO DE PALMEIRA DOS ÍNDIOS