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Por | Edição do dia 17/05/2003 - Matéria atualizada em 17/05/2003 às 00h00
MARCOS DAVI MELO * Participamos, no último fim de semana em São Paulo, de uma Assembléia da Associação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Combate ao Câncer (ABIFCC), entidade que agrega 34 instituições. Estes poucos hospitais, distribuídos em todo o território nacional, são responsáveis pelo atendimento a mais de 30% dos portadores de câncer do País, principalmente os casos mais complexos. São entidades tradicionais em seus estados, onde há muito tempo (entre 50 e 150 anos) se dedicam à luta contra o câncer. Garantiram sempre a assistência não só aos portadores de câncer, como ainda aos cardiopatas, renais crônicos e outras patologias complexas. A maioria dos quais até 1988 eram indigentes, ano no qual a nova Constituição os aboliu da nomenclatura, mas infelizmente não da realidade. Embora os temas científicos estivessem contemplados, a situação administrativa e financeira ocupou um grande e preocupante espaço. Mesmo não sendo uniformes, desde que as diferenças entre o Sul, Sudeste e o Norte, Nordeste ali também se refletem. A Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre (referência nacional em medicina e administração hospitalar) levou um trabalho do Sindicato dos Hospitais Beneficentes, Religiosos e Filantrópicos do Rio Grande do Sul, entidade que reúne 239 hospitais, 25 mil leitos, 17.500 deles destinados ao SUS, mantenedores de 55 mil empregos diretos e que respondem por 65% do total de internações hospitalares daquele Estado, no qual chegaram aos números que explicam em parte as razões da crise atual do setor. A tabela do SUS durante o Plano Real teve um reajuste médio de 35,10% (alguns setores, como a radioterapia que trata 60% dos casos de câncer, não tiveram nenhum reajuste desde 1993). Paralelamente, o IGP-M teve uma variação de 317,30%, dando uma defasagem em relação ao SUS de 208,88%. O gás de cozinha variou 568,53% com uma defasagem de 394,84%. A gasolina, a energia elétrica, os remédios, entre outros, tiveram variações e defasagens em relação ao SUS semelhantes. Por outro lado, uma consulta básica custa para o hospital 14,32 reais e o SUS paga 2,04 com uma defasagem de 601,96%. Um raio-x simples de tórax custa 31,82 e o SUS paga 4,91 com uma defasagem de 547,96%. Os procedimentos mais complexos sofreram defasagem maior. Isto tem levado a uma situação falimentar, com endividamentos com FGTS, INSS, sistema financeiro, grande achatamento salarial para os trabalhadores do setor e risco real de impossibilidade de funcionamento, o que incidirá em colapso na saúde pública, pois o setor filantrópico desempenha um papel insubstituível em todo o País. Entre nós, temos o agravante da pobreza da região, o que eleva significativamente as dificuldades. Resta a esperança que o governo Lula, comprometido com o social, possa amenizar esta insustentável situação. (*) É MÉDICO